Mesmo nas noites mais frias, as nossas águas marítimas raramente congelam, exceptuando alguns bordos superficiais dentro dos estuários.
E se falamos dos nossos peixes de água doce, nos nossos rios e barragens, esses raramente são ameaçados de congelamento até à morte devido a uma das propriedades mais singulares da água.
Como a maioria das substâncias, a densidade da água aumenta à medida que a temperatura cai. No entanto, essa densidade é mais acentuada logo acima do ponto de congelamento; a densidade aumenta entre os 4° e 0°C, fazendo com que o gelo flutue.
Se não fosse por esta propriedade, os lagos e rios congelariam de baixo para cima, em vez de cima para baixo, e os peixes em zonas mais baixas e por isso mais frias acabariam por morrer todos.
Mas nem todos os peixes não estão igualmente adaptados termicamente e muitos não toleram temperaturas muito frias ou muito quentes.
A tolerância térmica é um importante controlador da distribuição dos peixes no mar, mas dentro do seu alcance fisiológico, os peixes adaptaram-se de várias maneiras de lidar com as temperaturas frias.
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A nós nem nos passa pela cabeça aquilo que alguns pescadores têm de fazer para poder pescar... |
Eu tenho em casa dois lagos, um deles mais profundo, com cerca de 1,60 mt de altura, e um outro que não terá mais de 60cm.
Acontece que tenho peixes, achigãs e carpas, e observo aquilo que fazem para sobreviver ao frio. Como sempre acontece todos os anos, aqueles que estão no lago mais profundo concentram-se imóveis na parte mais funda do lago e passam a noite.
Ao chegar o calor do sol, sobem e vão procurar comida. Porém, as carpas que tenho no lago mais raso, mais frio, essas, porque não têm qualquer refúgio termal, estão hibernadas há mais de dois meses, e assim ficarão até que o sol aqueça a água o suficiente para as fazer despertar da sua imobilidade.
Nada como ter exemplos práticos à mão para podermos aferir dos comportamentos dos peixes...
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Neste lago, noto que os meus peixes acusam o frio da noite, mas a meio do dia alimentam-se normalmente, têm actividade. |
Isto quer dizer exactamente que os peixes que vivem em águas frias têm taxas metabólicas mais lentas em comparação com os peixes que vivem em águas mais quentes. Ao baixarem a “rotação” da sua actividade, eles conseguem sobreviver com recursos alimentares limitados por longos períodos. No fundo o que fazem é conservar a energia, minimizando os gastos, (nomeadamente a nadar rápido, a tentar capturar presas difíceis, por paradoxal que pareça).
Essa adaptação orgânica é altamente vantajosa em ambientes onde a disponibilidade de alimento é menor, ou onde, mesmo existindo, é difícil de conseguir.
E isto já vos deveria fazer pensar que a velocidade de recuperação de amostras em águas frias não pode ser a mesma que utilizamos de verão.
Nesta altura do ano, enrolar linha no carreto mais lentamente dá-nos mais toques.
Mas há mais detalhes a saber.
Aqui no blog passámos informação a qual prova que a temperatura da água do mar influencia a eficiência metabólica da digestão, e por isso mesmo, limita o tamanho das presas ingeridas.
Se no verão os peixes estão mais activos e comem várias vezes ao dia, procurando encontrar pequenas presas, mais fáceis de digerir, de decompor através dos seus sucos gástricos, já no inverno alimentam-se uma só vez por dia.
Fazem-no em períodos muito curtos, por vezes duram apenas alguns minutos, e a seguir digerem a sua presa numa irritante e absoluta imobilidade.
Isto limita as nossas capacidades de os conseguirmos tentar com os nossos iscos e amostras. Não caçam não mordem. E quando o fazem, numa dessas aparições fugazes, nós temos de acertar naquilo que eles procuram, sob pena de voltarmos a casa sem um único toque.
Este facto determina também da parte do pescador mais esclarecido a escolha por amostras mais pequenas no verão e tamanhos maiores no inverno. No fundo apenas estamos a seguir aquilo que a mãe natureza determina.
É assim que funciona e sendo este um princípio técnico básico, de pouco nos vale tentarmos contrariá-lo.
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Há quem tenha de escavar buracos no gelo para poder pescar….nós felizmente não temos de o fazer. |
Vamos terminar no próximo número desta série, com mais algumas revelações curiosas.
Não percam.
Vítor Ganchinho
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