COMO FAZEM OS PEIXES PARA SOBREVIVER AO FRIO? - CAP III

Mesmo nas noites mais frias, as nossas águas marítimas raramente congelam, exceptuando alguns bordos superficiais dentro dos estuários.
E se falamos dos nossos peixes de água doce, nos nossos rios e barragens, esses raramente são ameaçados de congelamento até à morte devido a uma das propriedades mais singulares da água.
Como a maioria das substâncias, a densidade da água aumenta à medida que a temperatura cai. No entanto, essa densidade é mais acentuada logo acima do ponto de congelamento; a densidade aumenta entre os 4° e 0°C, fazendo com que o gelo flutue.
Se não fosse por esta propriedade, os lagos e rios congelariam de baixo para cima, em vez de cima para baixo, e os peixes em zonas mais baixas e por isso mais frias acabariam por morrer todos.
Mas nem todos os peixes não estão igualmente adaptados termicamente e muitos não toleram temperaturas muito frias ou muito quentes.
A tolerância térmica é um importante controlador da distribuição dos peixes no mar, mas dentro do seu alcance fisiológico, os peixes adaptaram-se de várias maneiras de lidar com as temperaturas frias.

A nós nem nos passa pela cabeça aquilo que alguns pescadores têm de fazer para poder pescar...

Eu tenho em casa dois lagos, um deles mais profundo, com cerca de 1,60 mt de altura, e um outro que não terá mais de 60cm.
Acontece que tenho peixes, achigãs e carpas, e observo aquilo que fazem para sobreviver ao frio. Como sempre acontece todos os anos, aqueles que estão no lago mais profundo concentram-se imóveis na parte mais funda do lago e passam a noite.
Ao chegar o calor do sol, sobem e vão procurar comida. Porém, as carpas que tenho no lago mais raso, mais frio, essas, porque não têm qualquer refúgio termal, estão hibernadas há mais de dois meses, e assim ficarão até que o sol aqueça a água o suficiente para as fazer despertar da sua imobilidade.
Nada como ter exemplos práticos à mão para podermos aferir dos comportamentos dos peixes...

Neste lago, noto que os meus peixes acusam o frio da noite, mas a meio do dia alimentam-se normalmente, têm actividade.

Isto quer dizer exactamente que os peixes que vivem em águas frias têm taxas metabólicas mais lentas em comparação com os peixes que vivem em águas mais quentes. Ao baixarem a “rotação” da sua actividade, eles conseguem sobreviver com recursos alimentares limitados por longos períodos. No fundo o que fazem é conservar a energia, minimizando os gastos, (nomeadamente a nadar rápido, a tentar capturar presas difíceis, por paradoxal que pareça).
Essa adaptação orgânica é altamente vantajosa em ambientes onde a disponibilidade de alimento é menor, ou onde, mesmo existindo, é difícil de conseguir.
E isto já vos deveria fazer pensar que a velocidade de recuperação de amostras em águas frias não pode ser a mesma que utilizamos de verão.
Nesta altura do ano, enrolar linha no carreto mais lentamente dá-nos mais toques.


Mas há mais detalhes a saber.
Aqui no blog passámos informação a qual prova que a temperatura da água do mar influencia a eficiência metabólica da digestão, e por isso mesmo, limita o tamanho das presas ingeridas.
Se no verão os peixes estão mais activos e comem várias vezes ao dia, procurando encontrar pequenas presas, mais fáceis de digerir, de decompor através dos seus sucos gástricos, já no inverno alimentam-se uma só vez por dia.
Fazem-no em períodos muito curtos, por vezes duram apenas alguns minutos, e a seguir digerem a sua presa numa irritante e absoluta imobilidade.
Isto limita as nossas capacidades de os conseguirmos tentar com os nossos iscos e amostras. Não caçam não mordem. E quando o fazem, numa dessas aparições fugazes, nós temos de acertar naquilo que eles procuram, sob pena de voltarmos a casa sem um único toque.
Este facto determina também da parte do pescador mais esclarecido a escolha por amostras mais pequenas no verão e tamanhos maiores no inverno. No fundo apenas estamos a seguir aquilo que a mãe natureza determina.
É assim que funciona e sendo este um princípio técnico básico, de pouco nos vale tentarmos contrariá-lo.

Há quem tenha de escavar buracos no gelo para poder pescar….nós felizmente não temos de o fazer.

Vamos terminar no próximo número desta série, com mais algumas revelações curiosas.
Não percam.


Vítor Ganchinho


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