TEXTOS DE PESCA - À vela, duas almas gémeas (republicação)

Quando duas pessoas são amigas de verdade, são amigas em todo o lado: no frio da Polónia, no burburinho de uma qualquer cidade cosmopolita europeia, ou no calor de um deserto de África. Trago-vos hoje um desses casos, o de dois amigos que decidiram dar uma volta ao mundo em veleiro, e ocupar os seus dias de reformados de uma forma diferente, saindo do calor da lareira, do conforto de suas casas, para enfrentarem riscos, ventos e tempestades. 
Falamos de Maciek Laskowski e de Wojtek Banaszak, dois incríveis amigos, extremamente simpáticos, e que resolveram partir de Lisboa, do Parque das Nações, para uma volta ao mundo. O rumo, meio vago, seria determinado de acordo com o humor de cada dia. A bordo do "Jemm of the Sea II", com bandeira das Ilhas Virgens Britânicas, a proposta destes balzaquianos polacos era, numa primeira fase, sair pelo Atlântico fora, até aos Estados Unidos. 
 
O Veleiro Gemm of the Sea II.


Não há planeamento que resista, quando o objectivo é apenas estar no mar: com saída de Portugal a 28.10.19, destino Gibraltar e posterior saída direito aos Açores, …a verdade é que, velejando a sul e chegados ao rochedo de Gibraltar, olharam às más previsões de tempo, com vagas de 12 a 14 metros no meio do Atlântico e …entraram Mediterrâneo dentro, tendo feito escala a sul de França, em Port-de Bouc, não muito longe de Marselha. Onde ainda estão hoje.

Percurso dos nossos amigos polacos até ao sul de França. Percurso alternativo dada a impossibilidade de atravessar o Atlântico por …“mau tempo no canal”.


Esta seria apenas mais uma viagem de circunavegação, não fora o caso de estes dois simpáticos polacos terem firmes intenções de comer peixe… pescado por eles. Por isso se dirigiram à loja de Almada, a GO Fishing Portugal, para se bastecerem de produtos. Piorou um pouco quando disseram que de pesca não tinham mais do que noções rudimentares, umas ideias difusas de alguns peixes capturados na sua infância, em lagos e pequenas ribeiras. 

Esta casca de noz faz travessias intercontinentais. Que coragem!


Fazer uma viagem transatlântica sem saber empatar um anzol, e querer comer peixe, faz soar as campainhas todas. Tive oportunidade de lhes fazer lembrar a necessidade de se pesarem, antes da viagem, para poderem ter uma ideia do “desgaste corporal” que tal opção poderia acarretar-lhes. E foi aí que entrou em acção a solidariedade natural que o povo português tem por todos os estrangeiros que nos visitam, e dos homens do mar para homens do mar, em particular. 
No dia seguinte, nova visita à loja GO Fishing  e aí sim, tinham à espera deles diversos sacos de material preparados, com linhas de mão, amostras de superfície para atuns, jigs, chumbadas, teasers, uma tonelada de anzóis empatados, baixadas para pescar de dia com linhas mais finas, baixadas pré-montadas para pescar à noite com linhas mais fortes, amostras fluorescentes, pilhas para lanterna, facas para arranjar peixe, linhas e amostras para marlins, para dourados, e …um sorriso amigo. 
Desfizeram-se as pessoas em agradecimentos e com o sentimento de que afinal poderiam concretizar a sua ideia de comer peixe fresco. Tudo estava preparado para meses e meses de pesca intensiva, com muitas variantes, em função das dificuldades que certamente iriam sentir e enfrentar. Acredito que coloquei naquelas montagens muito mais cuidado e carinho do que aquele que aplico nas minhas, quando saio a pescar. Eu posso corrigir no local, tenho meios e conhecimento para isso, eles não. Mais agradecidos ainda ficaram quando pediram a conta de todo aquele equipamento e a resposta foi: “ É gratuito. Voltem e contem-nos as vossas experiências dentro de um ano”. 

Ei-los, os polacos, com Vítor Ganchinho, nas instalações da GO Fishing Almada. 


Estão a ver como é fácil fazer amigos, e ter histórias para contar aos meus queridos leitores e eventualmente aos meus futuros netos? Um destes dias, voltarei a este assunto. 
As naturais limitações de comunicação via satélite, irão fazer-se sentir, mas um destes dias saberão o que andam a fazer aqueles dois velhotes polacos. A última vez que contactaram a GO Fishing Portugal, estavam na República Dominicana, a esperar a autorização de entrada num porto dos Estados Unidos. 
Vamos continuar a seguir esta gente boa!


Vítor Ganchinho



2 Comentários

  1. Viva,

    Mais uma equipa com grande sentido de aventura!
    Das duas uma, ou não sabem de todo ao que vão, ou realmente sabem e a razão se ausentou de suas cabeças! Numa primeira abordagem talvez seja prudente levaram uns enlatados!
    Uma coisa é certa, terão muito que contar e nós cá para ouvir!

    Uma vez mais, um bonito gesto do Vítor e respectiva Go Fishing.

    Muita sorte aos amigos, para o que considero ser uma aventura para a vida!

    Cpts,

    A. Duarte




    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Boa tarde António! Estes simpáticos polacos tiveram a deferência de me contar mais alguns detalhes da sua viagem. Comunicamos via e-mail, e a última informação que tive é de que estão na República Dominicana, a aguardar a possibilidade de entrada nos Estados Unidos. Neste momento a entrada de embarcações está proibida. Mas estão bem, e recomendam-se!
      Por estranho que pareça, conseguiram alguns atuns a meio do Atlântico, e chegaram com quase tudo partido. Eu recordo-me de lhes ter preparado várias linhas de mão com cerca de 40 metros, com amostras previamente montadas, com anzóis fortes. Mas, não obstante eu ter utilizado linha de nylon de 1mm, ....partiram algumas!....

      Quando eles voltarem a viajar e estiverem de retorno à Europa, vou jantar com eles e levo um bloco de notas. Grande, com muitas folhas....
      E escrevo para vocês, ...tudo!

      Abraço!
      Vitor

      Eliminar
Artigo Anterior Próximo Artigo

PUB

PUB

نموذج الاتصال