A RAZÃO DE SER DA ESCOLHA DAS CORES NOS JIGS - CAP I

A resposta do físico Daniel Whiteson quando questionado sobre as possibilidades de futuro da humanidade, …foi algo como isto:
_“Humanidade? Comecemos pela má noticia: vamos todos morrer”.

Antes que isso aconteça, porque vai mesmo acontecer, é dever de cada um de nós deixar a quem se segue o máximo de informação possível.
É minha forte convicção de que não devo guardar para mim as conclusões a que cheguei ao fim de alguns milhares de horas de mar.
No fim de tudo, a informação só é boa se servir a todos, se for partilhada.
Isto a propósito do seguinte: tenho por vezes gente a perguntar-me qual o critério, ou os critérios, que sigo quando chego à minha zona de pesca e tenho de decidir sobre a cor de um jig.
Na impossibilidade de explicar a cada pessoa, de forma individual, as razões que me levam a tomar esta ou aquela opção, resolvi optar por escrever algumas linhas sobre o assunto.

Abril 2025: este pargo das Canárias de 3 kgs entrou-me ao jig e ficou preso pelo triplo. Esta é para mim uma montagem clássica, que utilizo para peixes até aos 3/ 4 kgs sem problemas. A partir daí prefiro os assistes, simples ou duplos.

Vou utilizar exemplos de cores de uma marca de jigs japoneses, a Little Jack, (a Zeake seria uma boa alternativa já que segue o mesmo padrão de cores naturais), sendo que devo dizer-vos que tecnicamente eu altero um pouco estas amostras, não pesco com elas conforme me chegam de fábrica: retiro a chapa e destorcedor porque podem prejudicar a mordida do peixe, e consequentemente a boa ferragem.
Não me faz falta aquele escanteio da chapa, porque eu já faço isso quando trabalho a amostra.
Gostaria que retivessem isto: qualquer um deles, os jigs ou as amostras, não são mais que formas de apresentação de algo que visa servir de lastro ao que verdadeiramente importa, os anzóis. 
Temos de chegar aos peixes e temos de os convencer a morder os anzóis. O princípio é tão simples quanto isto e não vale a pena complicar. O que mandamos para baixo não é mais que um peso com um conjunto de anzois. 
Fazemo-lo de forma encapotada, escondida, é verdade que sim, apresentando um artificial que se parece com uma presa viva. É este o princípio, não convém esquecer que a nossa prioridade é ferrar o peixe, não é mandar coisas bonitas como as amostras ou os jigs, para parecer bem, ok? 
Quanto ao armamento destes Little Jack, e atendendo a que se tratam de amostras relativamente pequenas, curtas, mantenho o triplo mas por vezes utilizo um assiste duplo à cabeça.

Ter sempre dois cuidados: o de não deixar que o triplo e o assiste, simples ou duplo, se toquem entre si para evitar enleios, e ainda o facto de o tamanho dos anzóis dos assistes serem um pouco mais largos que o corpo do jig.
A ideia é simples: caso o anzol seja da mesma dimensão ou inferior à largura do jig, alguns toques irão resultar negativos já que o anzol poderá estar tapado pela peça. O peixe bate mas não ferra.
Quando deixo o triplo descoberto a intenção é a mesma, deixar espaço para que a boca do peixe encontre os anzóis e faça a cravagem.
Não pensem que pescar com um triplo é perda de tempo porque é um sistema eficaz.
Eu utilizo-o com regularidade, sobretudo quando tenho lulas nos pesqueiros e quero trazer algumas, mas sem abdicar dos pargos.
Opção 1: a cor de sardinha petinga é uma opção sempre válida. Em mar aberto é uma das minhas favoritas por ser quase universal, mas muito melhor se em águas limpas, azuis. 

Sabemos que por defeito, as cores naturais, aquelas que mais se aproximam do tipo de presas habitualmente capturadas pelos predadores, serão aquelas que melhores resultados nos podem proporcionar quando tentamos pescá-los. No fundo, estamos a ir ao encontro daquilo que procuram, aquilo que é o seu padrão de alimento.
Se atendermos ao tipo de presas disponíveis aos predadores que patrulham a nossa costa, um robalo, um pargo, um lírio, uma anchova, um atum sarrajão, uma bica, etc, chegamos à conclusão de que as variações existentes apontam muito no sentido de cores neutras, pouco vistosas, diria “cores discretas”.
Pensem num pequeno carapau, uma boga, uma galeota, e vão ver que são bichinhos de cores discretas.
Haverá razões para que os peixes forragem, a comedia que vive nos diferentes extractos e cotas que cada um desses predadores frequenta, procurem passar o mais despercebidos possível.
A sua evolução natural conduziu estas espécies no sentido de se tornarem “invisíveis”, de não darem demasiado nas vistas, de se confundirem com o fundo, com as estruturas de rochas, algas, e até com a cor da própria água do mar, nos seus diferentes cambiantes. Tudo pela “invisibilidade”.
Opção 2: o espelhado claro pode parecer um absurdo, mas os peixes não o irão ver desta forma. Será isto mais o reflexo no metal da cor de água dominante, ao nível a que estivermos a pescar. Pode haver água limpa à superfície e suja no fundo, ou o inverso, ok? Eu pescaria com este jig sobretudo em águas mais tapadas.

Isso aponta em princípio no sentido de cores “pardas”, pouco vibrantes. Mas atenção (!) que as cores desaparecem gradualmente à medida que a profundidade aumenta, por isso pode acontecer que lá em baixo onde a luz chega com mais dificuldade, um vermelho, cor que desaparece aos 10 metros, pode ser a cor mais discreta para a circunstância.
Não tomem como garantido que ser cinzento é ser discreto.
Se a água está com muita suspensão, com muita matéria verde, excesso de fitoplâncton por razões que se prendem com a sua temperatura elevada à conta das horas de sol, ou com uma densidade de zooplâncton significativa, isso provoca falta de visibilidade.
Nesses casos, ser discreto é ser baço, é estar camuflado de forma a que nada faça contraste à ausência de luz no meio do “caldo verde” de algas. Pensem que a visibilidade no fundo pode ser de menos de 1 metro.
Um alvo que brilhe demasiado pode chamar a atenção, enquanto que um mais discreto poderá fazer a sua vida sem problemas.
Mas pode não ser essa a única forma de um pequeno peixe poder escapar, e mais abaixo vamos tocar na questão dos….”brilhos”.
De qualquer forma, no nosso caso, aquilo que queremos é que o jig seja visto pelo que lançar peças com reflexos ajuda o nosso predador a notar e a formar o ataque aos nossos anzóis.
A questão dos padrões e cores também tem a ver com um outro detalhe: a credibilidade.
Pressupõe-se que o predador deve investir por achar que o que lhe mostramos é mesmo alimento igual ao que ele costuma encontrar…e aí, se for demasiado artificial, levanta suspeitas.
Por uma questão de defesa, apostar em padrões naturais é jogar pelo seguro.

Opção 3- aqui temos uma cor que é mais discreta e que resulta muito bem em águas com bastante visibilidade. As cores naturais são mais isto, menos vibrantes.

Que não se entenda que não é possível pescar, e bem, com jigs de cores alternativas, não naturais. Claro que sim.
Há um espaço para os amarelos, os laranjas, os verdes, os rosas, etc.
Mais que isso, a partir de uma determinada profundidade, já não é a cor que conta, porque ela será em qualquer dos casos imperceptível.
Que cor pode um peixe ver a 300 metros de fundo se a luz não penetra o suficiente para a fazer reflectir?
Quando chegamos aos limites, um glow luminoso faz muito mais sentido que um amarelo.
Mesmo a pescar com jigs bastante mais baixo, digamos a 50 metros, devemos ainda ter em consideração factores como a hora do dia, a ausência de luz do nascer do sol, a possibilidade de termos um dia nublado, escuro e invernoso, e a seguir, mesmo já com o sol alto, a quantidade de sedimentos diluídos na água. Tudo isso altera, e de que maneira, a percepção que o peixe pode ter do nosso jig.
Quantas vezes vamos ao mar convencidos que o iremos encontrar limpo e ao chegar afinal está …sujo?
Por isso mesmo, convém estar preparado para todas as eventualidades porque nunca sabemos bem aquilo que vamos encontrar. Por outras palavras, ir para a pesca com um só jig, uma só cor, é jogar à roleta num número fixo, apostar tudo no vermelho, e pode sair outro número, e preto. Preparar todas as eventualidades deixa-nos a coberto de contratempos.
Continuamos no próximo capítulo.


Vítor Ganchinho


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