Tendemos a desvalorizar os resultados obtidos em países longínquos por acharmos que lá longe há sempre muito mais peixe, ou que será muito mais fácil de convencer.
Não me parece que seja assim tão fácil conseguir boas pescas todos os dias, e se alguém tem dúvidas coloque a questão directamente ao Luís Ramos. Ele explica.
Há momentos em que conseguir um peixe é francamente difícil, damos o nosso melhor e as coisas não acontecem.
Bem sei que à falta de outros argumentos, e quando não sabemos explicar os nossos insucessos, habitualmente atribuímos à lua a culpa dos peixes não colaborarem.
É o mesmo que atribuir a um signo desfavorável o mau humor da nossa mulher, ou aos peixes a ausência de picadas: transportamos para o mundo do sobrenatural coisas que terão explicações num mundo bem mais terreno.
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Mesmo quando se reza fervorosamente para que não apareçam, os lindíssimos meros juvenis não deixam de atacar os vinis. Peixe restituído à água em boas condições de sobrevivência. |
Devíamos sim equacionar dados objectivos, concretos, como a hora do dia, ventos, marés, temperatura da água, visibilidade, excesso ou ausência de alimento, pressão de pesca, etc.
Basta que um destes factores falhe e tudo pode ficar comprometido.
Em Benguela, nós encontrámos variações muito bruscas de temperatura, na casa dos 5 a 6ºC em poucas horas, e isso é o suficiente para inibir os peixes de realizarem a sua rotina diária.
Quando as condições não são favoráveis, os peixes esperam por outras. Eles têm tempo, têm reservas de gordura e podem esperar.
Nós é que não, o relógio não pára e as férias são curtas pelo que tentamos forçar as situações. Normalmente não resulta…
Pequeno pargo luciano convencido com um vinil e de imediato restituído à água com um pedido de desculpas. Estes peixes crescem até aos 80 kgs em alguns locais. |
Não é comum que num sítio com garoupas de 70 kgs se possa pensar em fazer pesca light. Eu penso.
Insisti e fiz a vida negra a uns quantos peixes que estavam seguros que já tinham visto tudo na vida. São peixes tentados noite e dia pelos locais, que os tentam pescar com tudo e de todas as formas.
Podem os peixes achar que estão a salvo porque já não lhes falta saber mais nada sobre as más intenções dos humanos.
Afinal não é bem assim, o LRF é altamente eficaz e tem argumentos que passam por cima de grandes convicções.
Nem sempre temos à frente dos olhos as razões que explicam os nossos maus resultados.
Sendo os peixes seres de sangue frio, ou seja, completamente dependentes do entorno que os envolve para desempenharem as suas vidas, qualquer variação de temperatura mais brusca pode impedi-los de apresentar um comportamento normal.
Leia-se por normal uma atitude agressiva, bruta, a qual nos convém sobremaneira já que aquilo que lhes apresentamos a comer depende inteiramente da sua vontade de atacar.
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Um estranho peixe que entrou ao vinil, para o qual não tenho nome. Alguém pode ajudar? |
Pequenos recantos onde os meros juvenis podem encontrar abrigo são povoados até à exaustão por estes protótipos de combativos peixes.
Existem centenas deles e a sua natural agressividade faz o resto. É difícil não os ferrar, mas quando isso acontece, resta-nos tentar retirar o anzol com o máximo de cuidado, e zelar pela restituição à água de forma mediata deste peixe que atinge algumas dezenas de quilos.
Trata-se de um serranídeo que nestas idades é muito vulnerável à apresentação de artificiais. Sobretudo dos vinis, que são objecto de ataques muito violentos.
É dever de cada um de nós proceder à sua oxigenação e libertação, sempre nas melhores condições possíveis.
Os pargos são, a par dos badejos, dos peixes mais comuns que podemos pescar com esta infernal técnica que é o LRF, Light Rock Fishing.
Podemos dar largas à imaginação porque estes peixes aceitam morder quase tudo aquilo que lhes lançamos, desde que seja um vinil.
Admito a criação de ultrassons quando os fazemos mover pelos fundos com alguma brusquidão. Tentem fazer uma pesca “em pente”, ou seja a levantar do fundo, a deixar cair, a levantar de novo.
A ideia que vos quero deixar é de tentarem obter um efeito de algo que tenta desesperadamente escapar, …sem o conseguir.
Os pargos são violentos para os vinis, atacam à bruta! |
Este pargo que podem ver acima entrou a um pequeno lagostim em vinil. O cabeçote é de 10 gramas, mas a montagem poderia ter sido substituída por uma outra a utilizar um pequeno peso em tungsténio, (a calcular em função da profundidade que temos no pesqueiro), um anzol empatado em linha fina, a sair à cabeça do vinil.
Em caso de dúvida escrevam para o blog e eu faço um pequenos filme a explicar como se procede a esta montagem.
LRF sempre, e ainda mais se as condições forem tão difíceis que as possibilidades que temos de conseguir peixe grosso são escassas ou inexistentes.
Trata-se de uma técnica que nos mantém entretidos, a pescar, enquanto os grandes não chegam...
Vítor Ganchinho
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