A pesca do choco tem vindo a tornar-se mais e mais popular, ao longo dos últimos anos. Não porque seja algo de cariz muito técnico, não o é de todo, feita da forma simples como a que se popularizou em Portugal: deixar cair um palhacinho, ou toneira, para o fundo, e agitando a amostra até que se crave qualquer coisa. Aquilo que se sente é um peso morto, algo pesado que é normalmente um choco, mas que pode perfeitamente ser uma lula ou mesmo um polvo.
Também não é pesca que propicie grandes surpresas, é aquilo e só aquilo, e o resultado são chocos tamanho S ou tamanho M, raramente aparece algum L e muito mais raro ainda um XL.
A quantidade de choco que temos entre nós não justifica grandes primores técnicos, há bichos em quantidade suficiente para que todos possam ficar satisfeitos com o resultado final.
O nível de capturas normal na época alta é de 10/ 20 chocos dia e isso chega perfeitamente para alegrar a cara de quem gosta desse tipo de pesca. Mas há quem pesque de forma muito diferente, e pode ser interessante ver como fazem.
A amostra GAN CRAFT, de um realismo impressionante, continua a ser uma arma terrível na pesca do choco. À venda na loja da GO Fishing Almada, ou através da loja on-line, para quem prefere receber os produtos em casa. |
Neste momento há ainda muito choco, mas todos sabemos que a factura da intensidade de pesca terá de ser paga, mais ano menos ano. Aconteceu o mesmo com as douradas.
A quantidade de pessoas que se dedica a esta arte de pesca ao choco aumenta a cada dia, a pressão de mais e mais quantidade de pescadores é exponencial, e seguramente isso irá deixar marcas profundas nos stocks de chocos disponíveis.
Na zona onde costumo operar, a foz do Sado, não é raro termos 40/ 50 barcos a pescar, e mais uma resma de kayaks, que fazem do rio a sua zona de trabalho. Há mesmo “especialistas” na pesca do dito molusco, cujas características podemos analisar:
Possuidor de uma concha que evoluiu no sentido de ser apenas interna, o choco tem como principal meio de defesa a bolsa de tinta, que dispara na água quando se sente ameaçado.
Esta nuvem de tinta despista os perseguidores, que acabam por não ver para onde saiu o choco. A alguns metros, quinze ou vinte, não mais, irá estar enterrado, deixando apenas os olhos de fora. Consegue isso levantando areia com as alhetas laterais, areia essa que ao cair o tapa por completo. Vi isto pessoalmente dúzias de vezes. Em rigor, o choco consegue camuflar-se da cor da areia que o cerca. Utilizam para isso os cromatóforos, um engenhoso sistema de “copos cónicos”, que abrem e fecham, mostrando apenas as cores pretendidas, que vão do branco sujo ao vermelho terra, passando pelo castanho-escuro, com ou sem riscas. Trata-se de um octópode, logo oito braços, e dois tentáculos. A sua boca está armada com cinco dentes de quitina, uma substancia rija como as nossas unhas. Quando se consegue aproximar da sua presa, lança repentinamente os tentáculos e cola as ventosas ao famigerado peixe ou camarão. A seguir é trabalho para o seu bico afiado, tipo bico de papagaio, cuja mordida magoa a valer, posso garantir-vos. A velocidade e potência com que lançam os tentáculos é aquilo que os perde, é isso que os crava nas agulhas das nossas amostras, e a seguir é apenas necessário manter a pressão e subir à superfície.
O choco setubalense é de peso moderado. Raramente acontecem os dias de pescar chocos grandes a sério. Fiz um com 6 kgs a norte do cabo Espichel, a mergulhar, e creio que já vos passei aqui imagens mas posso passar outra vez:
Choco de 6 kgs, um tamanho algo raro. No mesmo dia fiz um outro de 2,5 kgs e um de 1 kg. Quem mergulha vê o que existe, e pode decidir, logo não caça choco com tamanho reduzido. |
Um choco grande no Senegal tem cerca de 11 kgs. O mito do choco frito de Setúbal não passa disso, os nossos choquinhos pequeninos, de 300/ 400 gramas, são bons para assar mas…não servem para fritar. Aquilo a que se chama o choco frito de Setúbal não passa de produto exportado da Índia, em contentores frigoríficos. Essa é a verdade que tem de ser dita a quem vem a Setúbal comer choco...
O herói do nosso artigo de hoje é um bichinho recatado, e que, espantem-se com isto os que os pescam de dia pensando que estão a fazer algo de extraordinário, têm uma actividade essencialmente nocturna.
Ou seja, a maior parte da vida do nosso choco é feita de noite. É de noite que comem pequenos camarões, peixes, caranguejos, etc. E sobretudo é à noite que se deslocam. Todos os dias à alvorada os pescadores de chocos avançam para os mesmos postos, e continua a haver chocos, porque todas as noites entram chocos do mar para o rio, renovando os stocks existentes. Se querem saber um segredo guardado muitos anos, é este: Em noites de lua cheia, com o fim da vazante a calhar por volta da meia noite/ uma da manhã, os chocos que acompanham a linha de costa ficam “entalados” sem água na Praia da Figueirinha. Como sabem, existe uma língua de areia que parte do inicio dessa praia e vai em sentido diagonal para o largo. Os chocos que sobem ao rio, e que entram nesse triangulo, conseguem subir enquanto têm água, mas ficam trancados na ponta, ….à espera da água da enchente, que lhes permite continuar a sua viagem. Por vezes formam-se concentrações de centenas de chocos, encostados uns aos outros, …à espera de água. Apenas acontece nas marés certas, e á noite. Espero que não façam aquilo em que estou a pensar, até porque a Reserva Marinha começa exactamente ali, e a Policia Marítima não está nunca muito longe. Bom mesmo seria deixarmos os bichos entrarem no rio, desovarem e garantir dessa forma a continuidade desta pesca conforme a conhecemos.
Não deixa de ser preocupante saber que cada vez mais e mais os pescadores procuram os chocos mais fundo, antes ainda de eles entrarem no rio. Se é vulgar ver as aiolas sadinas a trabalhar ao choco a profundidades de 5 a 20 metros, franze-nos o sobrolho saber que os chocos a 30 metros de fundo, por fora da foz do Sado, na zona da caída de areia da Soltróia, são objecto de pesca diária. Ou seja, os chocos que iriam repovoar as zonas baixas nos dias seguintes, e desovar, são pescados antes. Também arrepia um pouco pensar que há restaurantes setubalenses que vendem…ovas de choco fritas. Dessa forma, um dia os nossos golfinhos vão ter de riscar do seu menu diário a linha onde está escrito “choco capturado”…
O rio Sado tem choco todo o ano, ainda tem, embora o período áureo sejam os meses de Março, Abril e Maio. Em Fevereiro, os grandes chocos chegam a zonas próximas de terra do lado norte do Cabo Espichel, zona das Bicas, praia do Meco, onde desovam encostados às estruturas de rocha existentes. No Sado, a ausência de estruturas rígidas leva-os a aproveitar tudo o que possa servir para largar as ovas, um cabo submerso, um covo abandonado, uma alga, até mesmo uma rede abandonada. Estamos longe de ter hoje a quantidade de choco que existia há um século atrás. Nessa altura, junto aos esteiros, onde foi construída a Eurominas e a Lisnave, juntavam-se toneladas de chocos para fazer a desova. Para que vejam a dureza da tarefa, digo-vos o seguinte: os homens apanhavam-nos na vazante, à mão, com água pelo tornozelo. Atascados em lama, metiam-nos em pequenos cestos e iam a terra firme descarregar para dentro de grandes canastas de verga com capacidade para 100 kgs. A seguir, com essas canastas grandes cheisa, faziam o transporte. Aposto que estão a pensar que isso era feito numa camioneta….mas não, nem tanto. Era passado um varal sobre as asa das canastas e entre duas pessoas,... era andar a pé os 9 km de distância até Setúbal. Imaginem como chegavam com os ombros e a coluna...
Mas estes eram tempos para gente rija, gente que nem hesitava quando tinha de remar 5 horas de Setúbal a Sesimbra para ir lá vender peixe.
É verdade que os chocos continuam a entrar no rio, e enquanto o fizerem serão alvo de pesca, nos lugares do costume, com as amostras do costume, com a técnica do costume. Mas há lugares do mundo onde a quantidade de chocos é menor que a nossa. E por isso, foram desenvolvidos sistemas de pesca mais eficazes. No Japão, eles têm verdadeiros especialistas da pesca ao choco, bem como de equipamentos específicos, desde canas a linhas, passando por uma panóplia de jigs, a que chamamos aqui toneiras ou palhacinhos, que lhes servem para pescar em ambientes bem mais difíceis que os nossos. Porque acho que pode ser interessante para vós ver como executam as técnicas de pesca, aí vai um divertido vídeo, (para os nossos padrões de imagem), enviado por um especialista nesta área:
De notar que eles fazem uma pesca com um ritmo muito diferente do nosso. Deixam baixar a amostra, e a seguir animam o palhacinho com movimentos laterais, o dito movimento “darting”, que apenas é possível com alguns tipos de toneiras facetadas.
A toneira normal não faz isto. Relativamente à técnica a utilizar, é a que vêem no filme: alguns esticões violentos, para chamar a atenção do choco, e a seguir deixar abrandar o movimento, parar mesmo a amostra, que sem tracção de linha desce lentamente, e esperar alguns segundos pela picada. A seguir, recomeçar.
Existem canas próprias para chocos, que como principal característica têm o facto de possuírem uma ponteira relativamente macia, para atenuar os esticões dos bichos, e com algum nervo no blank, para vencer a resistência que acabam por fazer na sua deslocação do fundo até à superfície. No Japão, país com firme e ancestral cultura de pesca, está fora de questão pescar chocos com uma cana para pargos, mas por cá as pessoas mal saíram ainda da pesca ao choco com linha de mão, …é demasiado pedir-lhes que façam a evolução muito rapidamente. Existem marcas que têm mesmo linhas de produtos dedicados em exclusivo ao choco. A linha a utilizar não tem qualquer necessidade de ser forte, falamos de esforços de tracção relativamente baixos, logo, um trançado 0.08 mm já sobra. Linhas finas permitem que a amostra desça muito mais rápido, evitam a colocação de pesos adicionais, e permitem animar a amostra com outra qualidade. Sei de pessoas que pescam o choco com linhas de nylon 0.70 mm, logo, não há nada a fazer….
Relativamente a jigs/palhacinhos, a marca mais conhecida e afamada no Japão neste momento é a Dartmax.
Dentro em breve teremos estas toneiras em stock na loja de Almada, cerca de 4/ 6 semanas. Também poderão ser encomendadas através da nossa loja on-line.
O fabricante tem uma capacidade de produção muito limitada, trata-se de uma pequena fábrica que não produz massivamente. Pelo contrário, cada peça é vista e revista inúmeras vezes, garantindo que a perfeição é absoluta.
Por isso, é natural que o processo de encomenda e distribuição ao cliente possam levar meses. Na maior parte dos casos, os clientes desta marca encomendam para a estação de pesca seguinte, para garantir a sua reserva de amostras atempadamente.
Pode de qualquer forma proceder à sua encomenda, na quantidade desejada, através dos contactos da GO Fishing. Uma primeira remessa de material irá chegar no final de Setembro, mas temos já intenções de encomendas que quase esgotam o produto encomendado.
Existem versões que brilham no escuro, ou seja, podem também ser usadas na pesca à noite, de barco ou de costa/muralha, porque os chocos vão conseguir detectá-las.
Fabricam-se três tamanhos diferentes, 2,5, com peso de 10.5 gr, 3.00, com peso de 16 gr e o standard 3,5, com peso de 21 gramas. A velocidade de caída na coluna de água, sem ajuda de qualquer peso adicional, é de 4.4 mts , 3 mts e 2.7 metros por segundo, respectivamente.
Aqui têm um quadro de escolha, para os tamanhos que normalmente utilizamos, nas cores que pode ver abaixo. Irão ser vendidos a 14 euros, Iva já incluído, qualquer tamanho ou cor:
O efeito na água destes palhacinhos é completamente diferente do movimento convencional. Com a ligação da linha junto ao olho, consegue-se um efeito darting que excita os chocos, movimento lateral em jig-zag, que os põe desenfreados a perseguir a toneira. Este anel de ligação reduz também o efeito de rotação da amostra sobre si própria, e ajuda a manter a horizontalidade aquando do trabalhar sobre o fundo. A cabeça cónica ajuda a cortar a água quando queremos imprimir velocidade ao movimento.
Esta amostra induz facilmente à picada durante a fase final de descida até ao fundo, encurtando o tempo de espera entre capturas, sendo que a posição ligeiramente subida e oblíqua da cauda protege a amostra de eventuais prisões no fundo.
Com esta cabeça holográfica, e os brilhos/ flash que provoca na coluna de água, consegue-se um efeito de isca viva difícil de superar.
As novas cores são particularmente atractivas e amplificam as possibilidades de êxito. Isso pode ser importante sobretudo para aqueles dias mais difíceis, em que tudo parece correr mal, e precisamos de mais qualquer coisa.
Portadoras de agulhas de alta qualidade em aço carbono, permitem fazer força à vontade: são mais resistentes e indeformáveis, e nunca irão abrir com os nossos chocos, seguramente.
Este tipo de toneiras permite alcançar resultados que não estão acessíveis a outras de inferior qualidade, e acabam por ser um bom investimento, porque se pagam a si próprias, com resultados.
Preserve os seus materiais, não se esqueça de proceder à sua limpeza com água doce sempre que utilizar, ou mesmo que o equipamento esteja em contacto com ambiente marinho.
Espero que tenham achado interessante.
Vítor Ganchinho
Top do melhor parabéns
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