A equipa do PEIXE PELO BEICINHO vai fazer uma paragem de duas semanas para férias, mas não nos vamos embora sem lhe deixar o desafio de mergulhar no baú do nosso/seu BLOG DE PESCA e de ler ou reler, nos próximos dias, algumas publicações selecionadas, tal como este artigo. BOAS FÉRIAS!
Em Angola, depois da independência a 11 de Novembro de 1975, e dada a instabilidade de guerra civil reinante no país, onde facções armadas se digladiaram na luta pelo poder, o mar ficou entregue a si próprio.
Com três partidos políticos a reclamarem, cada um de seu lado, a independência, o MPLA, a UNITA e a FNLA a lutarem entre si, as condições de circulação de pessoas foram muito restringidas.
A guerra interna durou até 2002, e terminou com a morte em combate de Jonas Savimbi. E o mar beneficiou imenso disso. Concretamente no Namibe, a vila de Lucira, por ser neste período uma região muito remota e pouco povoada, com excelentes condições de habitat para o peixe, acumulou grandes concentrações de pescado. O fim da guerra de guerrilha possibilitou o transporte desse peixe, e promoveu as condições para a sua captura. A obtenção de lucro fácil funcionou como chamariz para pequenas explorações de pesca, que se foram somando a outras e outras. A pesca à linha não é uma forma muito rápida de fazer peixe, se exceptuarmos as quantidades de tunídeos que é possível capturar com a rate da vara, muito praticada nos Açores, por exemplo. Logo, a solução era mesmo ir lá abaixo, onde havia milhares de toneladas de peixe disponível, a partir de profundidades de…3 metros. Corvinas, meros, badejos, estavam à mercê desses mergulhadores, e a caça começou. Foram contratados mergulhadores, inclusive portugueses, que mais não faziam que matar peixe com armas pneumáticas, todos os dias. Terá de ser considerado um trabalho duro! O peixe capturado era seco, e vendido para o interior.
Aquilo que vos mostro hoje, é algo parecido, feito no Senegal, onde pessoas vivem de pescar ou caçar. Sai fora do âmbito deste trabalho julgar do bem ou mal desta actividade, apenas mostrar-vos que existe. Na minha opinião pessoal, todo e qualquer tipo de exagero é sempre prejudicial, é insustentável, e vai pagar-se muito caro nos anos vindouros. A natureza nunca conseguirá responder com a velocidade necessária, o ser humano irá continuar a retirar até não haver mais, esta é a pura e dura verdade.
Mas vejam as imagens:
Dia de trabalho de duas pessoas no Senegal. Muitos destes peixes seriam o “peixe da minha vida” de um pescador português. |
Caçadores libaneses, sem grandes recursos económicos na sua terra, saem do seu país e procuram outras formas de ganhar o seu salário. Na circunstância, ao mergulho, caçando peixe. |
Mais pargos lucianos, blue runners, badejos, lirios…. dourados. A variedade de peixe nestas águas é significativa. A existência de pelágicos acentua-se no Verão, com as águas quentes. |
Chegada de um barco de pesca à linha, ao porto de Dakar. |
Estes pargos aparecem por vezes à venda em Setúbal, importados via aérea, ou trazidos do norte de África pelas traineiras que operam em águas de Marrocos ou Mauritânia. Há bancas no mercado que vendem muito peixe que não foi criado nas nossas águas. Aceito que as pessoas que compram não tenham a noção do que estão a comprar, já que de peixe têm apenas uma ideia genérica, que passa por pargos, garoupas, …etc. Compram pelo nome, não pela espécie. Tão pouco sabem ver se se trata de peixe fresco, ou se é peixe que tem dias de gelo em cima.
Para pessoas que estão muito fora deste contexto marítimo, tudo faz sentido. E mais ainda se nos focarmos nesta nova geração dos pequenos ecrãs, os tablets, os smartphones, que de peixe têm apenas uma ideia vaga.
Vítor Ganchinho