CHOCOS - FALAMOS SOBRE CORES DE TONEIRAS? CAP IV

Quando não temos a menor ideia de qual a toneira escolher, reagimos de forma quase emocional, optando pela…”mais bonita”. Por mero palpite.
E esse será sempre um critério frouxo, sem qualquer correspondência científica, e seguramente de improvável previsão de resultados.
Parece ser conveniente e prioritário chegar ao local onde se vai pescar, ver quais as características do local, e decidir. É baixo, é fundo, há corrente, a água está tapada ou limpa? E estamos no princípio da época ou no fim?
Caso o meu caro leitor pertença ao leque de pessoas que pensa que uma toneira trabalha bem …sempre, em quaisquer condições de mar, nem se mace a ler o resto.
O método de classificação de toneiras, tamanho, cor, velocidade de afundamento, podem ser decisivos na produtividade da nossa pescaria.
Os fabricantes procuram encontrar soluções para produzir toneiras com diversos graus de flutuabilidade. “E daí”?, poderão perguntar.




Questões como a velocidade de queda, aparentemente sem importância, acabam por ter uma importância decisiva, se pescarmos em fundos baixos. A pesca ao choco praticada no Japão considera como opção válida a modalidade de pesca apeada, a partir da costa. Por vezes os fundos são baixos. Se utilizarmos uma toneira com peso, digamos acima dos 20 gr, vamos tê-la encalhada a cada instante.
Mas nesses fundos, com uma toneira de queda lenta, teremos tempo suficiente para poder tentar os chocos sem que essa prisão ocorra. Mais que isso: se as zonas de pesca tradicionais estarão super pescadas pelos barcos que saem dos portos de abrigo, as zonas baixas ficam fora da sua influência. Ninguém as pesca, porque se subentende que a pesca ao choco é sempre feita de barco, em zonas mais fundas.
Se alguém tiver dúvidas sobre a apetência destes cefalópodes por águas rasas, basta ir espreitá-los a desovar dentro do recinto do Clube Naval Setubalense, a um metro de profundidade. Se ainda assim não estiverem convencidos, então fiquem a saber que há alguns anos atrás, os chocos eram apanhados nos esteiros onde hoje está instalada a Lisnave, e antiga empresa Eurominas, aos centos. A sua captura era feita na vazante, com água pelos joelhos, e esses chocos eram transportados por gente que, não tendo outros recursos, nem sequer um animal de tiro, (um burro albardado com cestos de vime laterais), os transportava dentro de canastas, às costas. Era passado sob a asa do cesto um varal, um tronco de madeira, que assentava nos ombros de duas pessoas que se sacrificavam a fazer esse transporte. Imaginem fazer 11 km de caminho, a pé, para vir vender os chocos à cidade.
Vejam qual a técnica utilizada por este especialista em pesca a chocos japonês, um profissinal que trabalha para a marca Yamashita:


Clique na imagem para visualizar e na rodinha das definições para melhorar a qualidade.

A forma como os chocos veem as nossas toneiras não é necessariamente a nossa. Não esqueçam que eles têm olhos que lhes permitem ver em espectros de cor que a nós nos estão vedados.
Vejam abaixo um exemplo de como eles podem observar as nossas amostras, quando há pouca luz:


Vistas por um olho humano.


Vistas pelo olho de um chôco.


Posto isto, os fabricantes chegaram à conclusão que, perante a enormidade de recolhas de dados feitas, existe um padrão que consistentemente permite melhores resultados. Como segue:

1- Cores rosa e vermelhos: utilização em situações de falta de luz, ao amanhecer ou ao entardecer. A emissão destes ultravioletas é útil em situações de marés baixas, com águas claras, quando os chocos estão particularmente desmotivados de caçar.

2- Verdes: vantagens na sua utilização em locais de águas tapadas, sem visibilidade. A usar em condições de águas lamacentas ou com muita suspensão de algas, condições que encontramos quer de Inverno, após chuvadas importantes ou no Verão, quando o fitoplâncton se desenvolve e torna as águas mais turvas.

3- Azuis: com águas muito límpidas, a utilização de toneiras de cores predominantemente azuis ganham a todas as outras. A sua emissão de UV`s dá vantagens de visibilidade em mares com ondas formadas, vento, e céu muito nublado.
Porque o azul é uma cor que persiste durante muito tempo, é visível a grandes profundidades, esta é uma boa opção quando se procuram chocos a cotas mais fundas.


Já é ter um critério. Simples, básico, mas um critério!
Em pesqueiros profundos, abaixo dos 30 metros, podemos utilizar preferencialmente toneiras com efeito de ultravioletas, ou luminescente. As cores azuis, por serem das últimas a desaparecer da visão dos chocos (quanto mais profundo maior a absorção de cor da amostra que enviamos), combinadas com o efeito de luminescência, resultam bem. Já avançámos mais um pouco, mas ainda nos falta bastante para sermos capazes de decidir pela melhor toneira, porque, por exemplo, ainda não falámos sobre a velocidade de descida.
Todos os fabricantes selecionam pelo menos dois tipos de toneira, ainda que com as mesmas medidas e cores: as de afundamento mais lento, e as de afundamento normal, ou padrão.
As diferenças podem ser significativas, e nós sabemos que a velocidade de queda é algo a que o choco não é indiferente.
Assim sendo, os fabricantes, (que por vezes chegam a produzir três velocidades de queda diferentes...), têm a preocupação de lançar pelo menos duas, as Shallow e as Super-Shallow.
Mesmo design, mas com densidades diferentes, o que lhes dá na água um afundamento diferente.
Em zonas muito baixas, águas rasas, a baixa velocidade de queda ajuda-nos, pois previne prisões no fundo. Por norma devemos selecionar o modelo normal, sobretudo em zonas com correntes, pois aí o modelo mais pesado tem um comportamento mais estável.
Não fica por aqui.
Também, em função do tipo de acessório frontal colocado, aquilo a que vocês chamam de “peso”, assim os “palhacinhos” reagem aos estímulos que damos com a ponteira da cana movendo a cabeça para cima e para baixo, ou para os lados.
Quando o conseguimos fazer lateralmente, estamos a produzir um movimento particularmente atractivo para o choco: o “darting”. As campeãs deste tipo de movimento são as toneira Dartmax, da fabrica japonesa Fish League, imbatíveis nesta oscilação.
E ainda não acabou. Algumas toneiras emitem sons para atrair a atenção dos chocos, é o chamado “rattling”. Em momentos de forte actividade, pode ser interessante, mas nas alturas de descanso, de repouso dos chocos, pode funcionar ao contrário, afugentando-os.
Por defeito, …sem “rattling”.
A Shimano lançou uma linha de incrível qualidade, a Sephia Clinch, a que adicionou uma folha metálica interior. Aos tirões dados na linha, esta placa torna-se uma lente brilhante, que vibra e dá um sentido de vida, natural, absolutamente incrível.
Isso atrai bastante os chocos e as lulas, despertam-lhes o instinto predatório.
A Duel adicionou alguns pares de “patinhas” em silicone, que vibram com a corrente e fazem um enorme apelo a um ataque.
Haja dinheiro envolvido e os fabricantes não vão para de inovar!




Depois disto, falta dizer que nenhum producto será alguma vez único, infalível e insubstituível.
A indústria da pesca encarrega-se de provar que atrás de um bom “palhacinho” vem outro, porque os estudos não param, a evolução técnica não para.
A moda neste momento é o apelo à luminescência. De há alguns anos a esta parte, tornou-se um componente indispensável, e apresenta resultados. Apenas os melhores fabricantes têm acesso a este tipo de tecnologia.
Não precisam de a procurar em toneiras chinesas de 60 cêntimos, porque aí o que conta é o preço, e para isso, muita coisa tem de ser sacrificada.
De resto, dizer que se o efeito luminoso é essencial para a pesca nocturna, e também pode ser um auxiliar de resultados em dias nublados ou ao inicio e final do dia, na minha opinião ele será apenas fundamental quando a profundidade a que se pesca é significativa. Em fundos longe da costa, onde é mais difícil o alcance da luz solar, pode ser importante.
Para além disso, dizer que a opção por toneiras emissoras de UV resolve todas estas questões com uma única unidade. Quanto mais fundo mais os UV`s se sentem no seu campo de batalha.
Mas recordem-se que os nossos marinheiros antigos não tinham nada disto, pescavam com toneiras feitas em chumbo, e não era por isso que não pescavam.
A questão é que tinham toneladas de chocos, e absolutamente virgens, sem conhecerem nada de nada de toneiras.
Um dia vamos amargar o facto de agora estarmos a delapidar os stocks a esta velocidade. Os chocos não conseguem reproduzir-se em segundos, à velocidade a que os conseguimos pescar!
Muita gente não tem sequer ideia de como eles se reproduzem, nem quando. Posso dar uma ajuda.




E de que forma se reproduzem então os chocos?

Nas nossas águas, aquilo que é normal é que os chocos, Sepia officinalis, reproduzam na Primavera/ Verão. Também o fazem noutros períodos, mas é nesta altura que estão mais decididos a perpectuar a espécie.
A entrada massiva dos chocos no rio para acasalamento dá-se ao início da Primavera, (existem chocos durante todo o ano dentro do estuário, mas a grande maioria deles entra nesta altura), e chegam de profundidades que podem atingir os 250 metros.
Fiz há semanas um choco a 130 metros de fundo, a pescar com carreto eléctrico, com anzol e isca, o que não deixará de ser estranho, para quem os pesca nos baixios.
A entrada diária de chocos à foz do Sado corresponde a um período de abundância. Chegam pela noite, e ocupam os lugares de sempre, onde, com um pouco de sorte poderão ficar tempo suficiente para acasalarem e fazerem a sua postura. Muitos milhares não chegarão sequer a esse desiderato.
É preciso entender que os chocos não vivem mais de dois anos, pelo que a sua reprodução e crescimento são particularmente acelerados. Os ovos, agarrados a qualquer obstáculo, uma pedra, uma raiz, um...pneu, eclodem ao fim de dois meses, dando lugar a um minúsculo animal que muito rapidamente atingirá cerca de 6 cm de comprimento. Nesta altura ainda não é suposto serem objecto de pesca, embora eu já tenha visto baldes com chocos que não chegam aos 10 cm.
Os barcos chegam-nos ao cais num estado miserável, pintados de preto. Há quem não os lave de propósito, exibindo assim a sua perícia em pescar estes cefalópodes, que não têm culpa nenhuma da loucura que acometeu as pessoas de há alguns anos a esta parte.
É como se não houvesse peixes, ….apenas chocos. Podem sempre tentar ir apanhar uns chocos a bordo deste “ barquinho”…..

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Cuidado com os chocos nas alcatifas...


Vítor Ganchinho


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