COMO ESCOLHER AS CORES DAS TONEIRAS? CAP VI

Quando comparamos um olho humano com o olho de um choco, dificilmente poderemos afirmar que se trata …”da mesma coisa”.
É obvio que não é igual.
E não sendo igual, com que fundamento continuamos a escolher as toneiras de acordo com os nossos padrões de “bom”, de interessante …aos nossos olhos?
Que critérios seguimos que verdadeiramente não sejam aquilo que nos parece bom a nós?
E se o critério é que sejamos nós a gostar, sem querermos saber da sua eficácia do outro lado da linha, como podemos pretender garantir resultados se são outros os olhos que vão decidir se …sim…ou não?

Na verdade, adquirimos as toneiras de acordo com os nossos gostos pessoais, muitas vezes até de acordo com as nossas cores clubísticas. Vamos por critérios que nada dizem aos chocos. Faz sentido?


A forma como os chocos veem as nossas toneiras nada tem a ver com a visão pessoal que temos delas. Acima, nos quadros a negro, podem ter uma noção do como ficam transformadas as cores iniciais, em situações de rarefacção de luz. Como podem facilmente observar, pouco ou nada têm a ver com a peça vista à superfície, aos nossos olhos.
Na minha opinião, deveríamos pensar menos na toneira na óptica de quem a lança, do pescador, mas sim preocuparmo-nos muito mais com o outro lado da linha, o lado de quem a vai atacar, o choco.
Sabemos que não existem verdades absolutas, não há uma cor que sim e outra não, uma que seja mais indicada que outra, sempre. Sublinho a palavra “sempre”.
Há sim um momento em que esta cor é mais produtiva que aquela, quanto mais não seja por ser visível e apelativa, ao invés de outra.
De resto, as cores que interessam aos chocos passam por um espectro bastante largo, de A a Z, algo situado desde os violetas até aos vermelhos, e isso passa por todas as cores intermédias, pelos verdes, pelos azuis, pelos amarelos, rosas e laranjas.
Nenhum fabricante produz toneiras em cores que nunca pescam nada! Lembrem-se que o sucesso de quem pesca é o sucesso de quem vende!
Nada de novo por aí, excepto o facto de podermos e devermos ajustar as cores de acordo com o cenário que temos diante dos nossos olhos. E à saída para um dia de mar, dificilmente alguém poderá adivinhar por antecipação o que vai encontrar.
As variáveis são tantas que algo pode não estar de acordo com o programado, logo não devemos sair de casa com uma só toneira na nossa mala de acessórios.
Focarmos a atenção nos nossos gostos pessoais não é a melhor medida a tomar. Imaginem que alguém é radical a ponto de dizer que, sendo benfiquista, só pesca com toneiras vermelhas!


O famoso camarão vermelho On- Liest, da Little Jack, disponível na loja on-line da GO Fishing Portugal. Felizmente eles têm muitas outras cores... e para quem odeia o vermelho e é adepto de outras tonalidades, pois aí vão elas: 


Consultar na GO Fishing Portugal


O camarão será uma das presas mais apreciadas pelos chocos. Para eles, conseguir capturar um é tão positivo quanto para nós conseguirmos obter uma perna de frango bem grelhada.


Atenção à questão das cores e da sua persistência ao longo dos sucessivos metros de profundidade. Podemos cometer erros significativos se não soubermos escolher.
Se fomos pescar numa zona que tem mais que 10 metros de profundidade, azar, a toneira vermelha vira…cinzenta. É pouco apelativa, torna-se um objecto demasiado discreto, e não irá atrair os chocos.
Mas se pescamos em troços do estuário baixos, então aí a cor vermelha será altamente eficaz! É pois uma questão de adequarmos os nossos equipamentos ao local onde estamos. E já agora, à limpidez da água nesse momento.
Há quem não consiga reagir a este factor, partindo do princípio que as águas estão sempre claras, lusas. Nós sabemos que não é assim, há variações enormes mesmo durante o mesmo dia.
Por má fortuna, há muitos dias em que as águas estão de uma cor verde, leia-se com um tipo de suspensão, e outros em que estão diferentes, com menos suspensão, mais ou menos microalgas, barro e escorrência de chuvas, etc, e ficam límpidas.
E isso muda a percepção que os peixes e os chocos podem ter das nossas toneiras.
É precisamente por isso que não é possível a ninguém dizer que uma determinada toneira é a melhor…sempre! Porque as condições mudam.
Virar o pensamento para o ser que está na água, o choco, pode ser uma medida avisada. Enquanto escolhermos as toneiras de acordo com os nossos gostos pessoais, estaremos apenas a desbaratar conhecimento cientifico.
São eles quem escolhe, e eles não têm os nossos olhos, não veem apenas as nossas cores.

Aquilo que a nós humanos nos é possível ver é isto:



Os olhos dos chocos podem ver mais que isto, e em muitas situações, perdemos por não ir ao seu encontro.
Aquilo que é importante é tentar adequar as cores da nossa toneira à realidade desse dia, a essa hora, ao estado do mar, e à profundidade do pesqueiro.

Se quiserem que repita, os parâmetros mais importantes a que devemos prestar atenção são:

- Hora do dia - Perceber a quantidade de luz a incidir no plano de água. Ao raiar do dia teremos menos que a meio do dia, em condições normais.

- Limpidez da água - Choveu recentemente? Houve descargas de barragens? A cor da água à superfície não é exactamente a mesma que terá no fundo, até porque a água doce, menos densa, fica sempre sobre a água salgada, mais pesada. Mas pode dar-nos algum indicador e por isso é importante saber analisar.

- Profundidade a que pescamos - Já sabemos que quanto mais fundo, menos luz disponível haverá e que algumas cores desaparecem mais depressa que outras à medida que afundam.


Já foquei este aspecto aquando de alguns artigos sobre jigging, mas não me importo de repetir aqui para os meus amigos dos chocos:

Por aqui já podem ter uma ideia de que cores serão mais visíveis à profundidade a que estão a pescar. A cinco metros podem utilizar todas, mas a 40 metros já só pescam a sério se utilizarem toneiras azuis, ou seus derivados. Abaixo disso, só os extremos, os violetas, e no escuro da noite, os ultravioletas.


A água do mar absorve algumas cores mais depressa que outras, nomeadamente a vermelha, a laranja e a amarela, (comprimentos de onda mais longos), e deixa visíveis as cores azuis, (comprimentos de onda mais curtos).
Logo, quanto mais fundo pescarmos, piores resultados iremos obter com as cores quentes, e melhores resultados iremos obter com cores frias, os verdes, azuis e violetas.
Este factor é mais ou menos acelerado em função da limpidez das águas. Podem ocorrer variações, caso aconteça um fenómeno de entrada de águas lamacentas, e aí estes valores serão válidos muito acima, ou, no caso de águas muito límpidas, esta escala ter validação muito mais abaixo. Tem a ver com a capacidade de penetração da luz, mais baixo ou mais acima, ok?
A que profundidade estamos a pescar?! Pois que se decida em função disso.
Eu não estou presente, não estou convosco, não vos posso dizer aqui qual a cor que devem utilizar, entendem? Ninguém pode, porque tanto poderão estar a seis metros como a trinta…ou mais.
Por isso é bom que saibam entender este processo e reagir em conformidade.
Já sabem que o olho humano tem mais limitações que o olho dos chocos, mas não creio que faça falta ir mais além para conseguir uma geleira de chocos. Eventualmente optar por toneiras reflectoras de ultravioletas, para dias escuros, ou pesca nocturna.

O que nós vemos é isto:



Caso alguém decida começar a pescar ainda de noite, aquilo que pode produzir melhores resultados serão cores em que os ultravioletas estão presentes. Nós não os conseguimos ver, mas eles existem e os chocos percebem-nos.
A radiação ultravioleta corresponde ao conjunto de frequência de ondas eletromagnéticas que são maiores que as frequências da luz visível e menores que as frequências dos raios-X. Para nós, para o nosso olho, não existem, mas para os chocos sim.
Os fabricantes procuram ir ao encontro dos interesses de quem compra os seus artigos, e não param de inovar, de adicionar detalhes, nem que seja uma toneira que conjuga em si os factores ultravioletas com o factor luminescente.

Vejam abaixo o conceito:

Aqui, aquilo que se procura é uma junção de dois comprimentos de onda, entre os 520 nm e os 488 nm. Ou seja, um efeito máximo numa mais ampla gama de situações de mar.


Acredito que continuaremos a assistir durante muitos anos à apresentação de inovações que conduzirão a formas mais fáceis de pescar chocos.
O dinheiro envolvido no negócio da pesca motiva os especialistas a procurar, a dedicar o seu tempo a investigar, a testar e a produzir mais e melhor.
Logo por azar, isso coincide com o momento em que a crescente escassez de chocos é uma realidade.
E quanto melhores forem os equipamentos, menos chocos haverá. É pena.

No próximo artigo vamos terminar este capítulo e depois disso voltar a falar sobre… robalos.



Vítor Ganchinho



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2 Comentários

  1. Boas, fiquei novamente curioso com algo que ainda não tinha visto: Um palhaço com anzol. Este extra traz vantagens significativas na pesca ao choco? Garantirá uma maior taxa de sucesso na ferragem, disso não tenho muitas duvidas, mas também não poderá influenciar o trabalhar da amostra e ter mais prisões? Além disso, é permitido pescar com anzol de fateixa ao choco? Gostava de ouvir a sua opinião.

    Obrigado desde já,

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    Respostas
    1. Bom dia Rodrigo


      Nós importamos as toneiras do Japão, onde não há restrições à utilização de fateixas acopladas. Eles pescam outros peixes que também comem camarões, e por isso as utilizam.
      Mas com sabe a legislação portuguesa é clara quanto à utilização de um número definido de anzóis. Podemos considerar cada uma das agulhas como um anzol individual?


      Abraço
      Vitor

      Por cá, penso que são dispensáveis, porque podem originar prisões em escolhos no fundo.
      Mas elas nem vêm montadas, estão na embalagem em separado.


      Abraço
      Vitor


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