DIÂMETRO DAS LINHAS

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Não preciso de vos dizer que existem “falcatruas” descomunais neste estranho mundo dos fios de pesca.
Se os podemos dividir em três grandes categorias, os nylons, os fluorocarbonos e os multifilamentos, aquilo que salta à vista é que em todos eles os “barretes” acontecem, e em larga escala.
Desde logo porque não existe uma entidade que tenha mão na efectiva regulamentação legal de tudo aquilo que é escrito e prometido em qualquer bobine de linha.
Pode fazer-se de tudo, mesmo tudo, e ninguém vai preso.
No Japão, existe um órgão regulador autônomo conhecido como JAFTMA, ao qual os fabricantes de linhas aderem …se quiserem.
Pode acontecer que uma linha de nylon seja “apregoada” como sendo um 0.30mm e efectivamente seja um 0.40mm. Também acontece que um fluorocarbono não seja um 0.33mm mas sim um 0.40 mm, e ainda que um multifilamento seja apresentado como um PE 1,5 mas na realidade seja um PE 2,5…
É muito comum que os valores reais sejam completamente díspares da realidade, e por absurdo, pode acontecer que nenhum dos enunciados do rótulo esteja correcto!
Falham no diâmetro declarado, falham na carga de rotura, falham na resistência à abrasão, e falham ainda na resistência ao nó.

As linhas são importantes, são elas que nos ligam ao peixe.

Nos casos acima, aquilo que vimos foram situações em que o diâmetro concreto da linha é referido como sendo inferior ao que na realidade é fornecido.
Vantagem do fabricante: o cliente vai assumir que aquela linha é mesmo muito resistente, considerando o diâmetro tão fino. É enganado por acreditar piamente naquilo que lê no rótulo.
Outro caso gritante é o da resistência da linha. Aí, os chineses ganham a todos! A uma linha de nylon com 4 kgs de resistência linear, eles atribuem uma resistência de 24 kgs!
Para quem compra, é mais apelativo adquirir a linha se ela mencionar que é muito resistente, do que pouco. Acresce o facto de a maior parte das pessoas não ter quase nunca a possibilidade de conseguir capturas de peixes de peso elevado, ou seja de as “medir” de as confrontar com uma resistência mais significativa.
Assim sendo, sente-se confortado por saber que aquela linha irá suportar um peixe de 24 kgs, mesmo que na realidade nunca chegue a verificá-lo.
E os fabricantes não se inibem de ir tão longe quanto aquilo que seja necessário para chegar à frente da sua concorrência! Se é para apregoar resistências altas, pois sim, vamos nisso!
Se é para fabricar linhas acima do diâmetro mencionado na caixa, porque não?
Isto tem tudo para falhar!!!

Aspecto de parte do balcão da GO Fishing Portugal, em Almada.

E todo este problema começa em nós próprios, que exigimos um tipo de informação que quem fabrica não sabe providenciar.
Explico-vos uma das razões: há uma tendência muito nacional para transformar tudo o que é informação sobre diâmetros de linhas em medida métrica, quando na realidade apenas os nylons e os fluorocarbonos podem ser medidos segundo esse critério.
No caso dos trançados, isso não é possível já que se trata de um produto compressível, o que quer dizer que à medida que o apertamos, a sua medida diminui, a linha fica espalmada, impedindo a sua correcta leitura.
Ainda assim, e por falta de melhor informação, grande parte dos pescadores nacionais só consegue adquirir as suas linhas se elas mencionarem o diâmetro em milímetros. Será para eles um 0.23mm, um 0.35mm, etc.
Porque os fabricantes japoneses querem exportar linhas para todo o mundo, acabam por ter de incluir em muitos rótulos esse dado, embora para eles seja irrelevante. E é, na realidade.
Mas as suas linhas não se irão vender se quiserem exportá-las para a Europa, e a caixa não mencionar diâmetros em milímetros. O que é factual é que os japoneses não trabalham nada em milímetros!
Mais que isso: alguns dos fabricantes nem conhecem os critérios da medida que descrevem nas embalagens! Para eles um milímetro é tão estranho quanto para nós um “gou”.
Nada ajuda, as medidas americanas são umas, as “europeias” outras… meu Deus que confusão!
Vamos lá pôr ordem nisto!!

Quando chegam os momentos de aflição, os segundos de “calor” que se seguem à picada de um peixe grande, é bom contar com boas linhas.

Nós em Portugal utilizamos o sistema métrico por ser para nós de fácil entendimento, mas para quem nasce noutra latitude, o seu sistema é-lhe tão familiar quanto o nosso.
Por exemplo: 1 quilo é o mesmo que 1000 gramas
1 metro é o mesmo que 100 centímetros e 1 centímetro é o mesmo que 10 milímetros. Para nós é fácil, sabemos o que é. Para um americano tudo isto é estranho, não consegue ter a percepção do que significa.
Não nos conseguimos entender globalmente se não conhecermos diversas unidades de medida, se não entendermos a questão na sua universalidade.
No sistema avoirdupois (usado para pesar objetos em geral) uma onça equivale a 28,349523125 gramas, ou seja: 437,5 grãos. Ou 16 dracmas avoirdupois. Ou 0,0625 libras avoirdupois. Fácil de calcular já que ele é concebido em torno da conveniência de múltiplos de 10.


Penso que vos posso ajudar dando-vos algumas noções daquilo que é uma linha trançada PE.
A abreviatura PE é a designação genérica de um produto chamado de polietileno. Entre nós, chamamos-lhe um “trançado”, ou um multifilamento.
Spectra e Dyneema são os polietilenos mais comuns usados para linhas trançadas. Onde geralmente reside a diferença entre as linhas são os revestimentos e a trama utilizados no polietileno.
É pressuposto que as marcas mais conhecidas, e falo da Daiwa, a Shimano, a YGK, a Rapala, tenham seriedade nos dados fornecidos. Ainda assim, mesmo nestas marcas os laboratórios independentes encontram discrepâncias, e assim sendo, imaginem o nível a que estarão os outros, os que fabricam linhas de baixa qualidade, e que obviamente as querem vender...
Quando falamos de linhas sabemos que elas devem ter uma certa resistência à ruptura para um determinado diâmetro.
A JAFTMA japonesa usa o sistema denier para medir a resistência à ruptura, ao contrário dos EUA, onde as medições são quase sempre arbitrárias. Ou seja, uma selva onde vale tudo!
Nos Estados Unidos uma linha de qualquer fabricante pode ser avaliada como ele quiser, de acordo com o seu próprio critério, e marcada na embalagem da forma que essa loja quiser.
Alguns desses fabricantes são conhecidos, são referenciados nas redes sociais como sendo “aldrabões”, mas não deixam de vender e enganar os mais crentes.
Digamos que as suas linhas são "fortes para a classificação", simplesmente porque esse fabricante está a utilizar material mais espesso, subestimando-o propositadamente. É muito comum que um 0.20 seja afinal um 0.30mm….

Há quem só arrisque pescar com diâmetros que poderiam ser utilizados para rebocar um camião...

Devemos dividir as linhas multi em duas categorias: as linhas de spinning, e as linhas de jigging.
Porquê diferenciá-las? Porque as linhas de spinning devem ser macias de forma a que possam sair facilmente do carreto, e permitir assim lançamentos mais longos. Para além disso, devem ser de uma cor apenas.
Nada mais esgotante e cansativo que acompanhar com os olhos uma linha que muda de cor a cada 10 metros. Perdemos a noção do posicionamento da amostra à conta disso.
Já quando fazemos jigging, o critério de escolha é outro: uma linha demasiado macia irá prejudicar-nos por ser mais atreita a ganhar as odiadas “cabeleiras”, enrolos de linha que a bordo são sempre uma tragédia e mais ainda se o mar estiver levantado.
Os fabricantes produzem modelos de linhas aos quais adicionam uma cobertura de silicone, exactamente para que a linha não tenha tendência para enleios. Podem verificar isso nas linhas Daiwa, por exemplo, em que eles mencionam na embalagem o termo SI.
Mas há um outro factor ainda mais importante: queremos saber quando o jig irá tocar no fundo, antes de tocar no fundo.
Dessa forma podemos preparar-nos para fechar a saída de linha e evitar enrocamentos.
Com uma linha de cor uniforme, isso não é possível. Nunca saberemos quando está prestes a chegar ao fundo porque não há qualquer diferenciação de uma à outra ponta da bobine.
Mas com uma linha de diversas cores, normalmente cinco cores, sabemos que o fundo estará próximo quando a bobine do carreto deixar ver aquela cor que marcámos em memória após alguns lançamentos anteriores.
Da mesma forma, saberemos que o peixe estará a chegar à superfície quando o carreto estiver a enrolar aquela determinada cor de linha. Tudo isso ajuda imenso.
Resumido: uma só cor para fazer lançamentos em distância, horizontais, para fazer spinning com amostras, e diversas cores para deixar cair o peso na vertical, o jig, e pescar a deixar cair no fundo. Entendido?!

À parte disso, em termos gerais, aquilo que devemos observar é se a linha cumpre ou não os requisitos que dela esperamos, nomeadamente o diâmetro, (podemos compará-la com outra linha de fabricante com nome feito no mercado), a sua velocidade de saída do carreto, (repito o critério: linhas macias para lançamentos, para carretos de tambor fixo, e linhas mais “duras” para carretos desmultiplicadores de tambor móvel).
Quanto a acreditarmos naquilo que está escrito nas embalagens, ….tenham paciência, eu sou dos que não acredita em tudo o que dizem.
Estou disponível para vos dar informação sobre as linhas que utilizo, o blog estará sempre disponível para ajudar todos aqueles que o leem. Coloquem as vossas questões.

Contem comigo!


Vítor Ganchinho


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