O nó é, e será sempre, o ponto mais fraco no comprimento total de uma linha de pesca.
Sim, é assim mesmo, não há volta a dar e a física simples é a razão disso.
Bem sei que para a maior parte dos pescadores se a linha rompe a primeira solução é encolher os ombros e subir no diâmetro, aplicar mais grosso.
Têm razão, se pescarem com uma corda de carregar camiões não parte tanto.
Mas também não pescam nada.
Aquilo que vamos ler a seguir é dirigido aos meus colegas pescadores, gente boa que por vezes tem uma rotura …sem a conseguir explicar.
Vou, dentro das minhas capacidades, tentar ajudar-vos.
Fazemos habilidades com linhas, independentemente do nosso grau de conhecimentos sobre pesca, das nossas capacidades técnicas para trabalhos de motricidade fina, de termos dedos mais grossos ou mais delicados, ou mesmo da modalidade de pesca que cada um pratica.
Todos aqueles que ensaiam as suas bricolages a produzir baixadas, os ditos “chicotes”, os que têm de ligar linhas fluorocarbono ao multifilamento do carreto, ligar as linhas aos destorcedores, às chumbadas, às amostras, aos jigs, etc, etc, fazem nós.
Fazemos nós e ponto final.
Podemos realizar um simples nó cego, ou um complexo nó FG, mas estamos sempre a fazer uma qualquer interrupção no sentido retilíneo do fio. Dobramos a linha mais ou menos, mas não há nós sem alterar a estrutura molecular do produto/ linha.
Há um princípio universal: sempre que fazemos um nó, qualquer que seja, estamos a criar uma fragilidade na nossa linha, uma zona mais débil, visto que provocamos tensão num ponto preciso na linha onde a carga máxima de estiramento aplicada a atinge em mais de uma direção.
Mesmo quando devidamente feito, qualquer nó tem sempre um ponto em que a linha dobra sobre si própria, fazendo um ângulo agudo. É exactamente aí nesse ângulo que um conjunto de forças irá exercer a pressão máxima e a rotura irá acontecer.
É nesse ponto do ângulo agudo que a linha irá fracturar, e quase sempre sobre o bordo externo do multi ou monofilamento. Assim que a camada exterior de linha rebentar, assim que romper a sua superfície lisa, o resto do corpo da linha irá ceder quase de imediato.
Se consideramos um monofilamento, a redução da sua secção irá roubar-lhe grande parte da sua resistência inicial, e no caso dos trançados, o seccionar de uma quantidade significativa dos micro filamentos dessa linha ser-lhe-á fatal.
E quando a linha rompe, meus amigos, tudo acabou, o peixe está perdido.
E porque partem as linhas?
Partem porque nós somos muito pouco cuidadosos na forma como as tratamos. A maior parte das roturas não é provocada pela força dos peixes mas sim pelas acções prévias das pessoas que pescam.
É em casa que essas linhas começam a ser fragilizadas!
Vamos ver como.
Indiscutivelmente o elo mais fraco de qualquer nó é o início do laço que este forma sobre si próprio. Quer façamos um nó de linha simples ou duplo, a zona de saída do nó dessa linha será sempre o ponto em que a rotura irá acontecer.
Na maior parte dos casos aquilo que vejo é que as pessoas têm muito pouco cuidado em humedecer as linhas, por exemplo com um pouco de saliva. Isso cria uma zona de deslizamento de nó que ficará “abrasada”, queimada, e que irá reduzir enormemente a resistência máxima do producto.
Quando os nós são feitos quer sobre nylon quer sobre fluorocarbono, ou seja, sobre polímeros, a questão temperatura é algo de muito importante. Sabemos disso se chegarmos um fósforo a qualquer um destes tipos de linha.
A poliamida, também chamada de nylon, é um plástico de engenharia, resultado das cadeias carbônicas com hidrogênio e nitrogênio, do grupo das amidas.
Esta poliamida tem origem na reação química calculada do petróleo e gás, de onde se origina a caprolactama, matéria-prima para sua produção.
Por isso, sendo um derivado do petróleo, é tão sensível ao fogo. E não vos falo de fogo enquanto chama viva, mas de calor, de aquecimento.
Eu sei de gente que deixa bobines de fio ao sol nos cockpits dos barcos, expostos aos raios solares e obviamente aos raios ultravioletas, durante semanas. Adulteram por completo a qualidade das linhas, insurgem-se contra as marcas, contra os vendedores das linhas…
Para que fique claro: ambos os productos, o fluorocarbono e o nylon, são muito sensíveis ao calor.
E vocês, raios parta, não querem saber disso para nada!
Desculpem o desabafo, …voltamos à questão da sensibilidade das linhas: quando provocamos qualquer tipo de aquecimento, e basta o atrito de passar uma linha a escorregar sobre si própria com elevada pressão, aquilo que podemos observar é que depois de apertar o nó passamos a ter uma zona de linha que fica “encaracolada”, não lisa.
Esse é um ponto da linha que ficou queimado pelo mau tratamento que lhe demos. Esse primeiro centímetro de linha, onde ficou registado um pequeno troço de rugosidade, de linha torcida, ondulada, será o ponto fraco de todo o nosso sistema de pesca.
Se o nó assentar sobre si muito rapidamente, de forma brusca ou sem a lubrificação suficiente, (se for atado a um destorcedor já muito gasto e rugoso, com muitos dias de mar e farto de bater no fundo, com irregularidades provocadas pelo bater na pedra), ou até uma amostra ou anzol já velhos, gastos, corroídos pelo salitre, vamos provocar uma onda de calor excessivo o qual será determinante para decidir onde vamos ter problemas.
Esse calor é gerado por atrito sobre a linha à medida que o nó for por nós ajustado, apertado.
Acresce o facto de a maior parte dos pescadores apertar demasiado os seus nós. Parece-nos que fica melhor assim, mas na verdade deveríamos deixar para o arranque forte dos peixes algum desse trabalho.
Um nó demasiado ajustado, apertado ao máximo da nossa força física, irá atingir o seu limite de resistência mais rapidamente, e por isso a rotura será mais rápida.
Falamos apenas de um centímetro de linha é verdade, mas algures num desses 10 mm críticos encontra-se um ponto que será mais fraco que todos os outros, é aí que está o desgaste e é aí que irá partir.
Não existe nenhuma linha que não tenha prós e contras.
Sabemos que os multifilamentos são muito resistentes a esforços de tracção lineares, aguentam muita carga no sentido longitudinal mas são frágeis se atingidos sobre a sua linha axial.
Os nylons são menos sensíveis ao nó, mas enquanto linha não resolvem, criam memória relativamente à bobine onde são enrolados, alongam muito. Isso rouba-nos sensibilidade, pescamos pior, e por fim se sujeitos a carga também partem.
Os fluorocarbonos, menos elásticos, resistem a esforços de atrito sobre a sua superfície, suportam ser raspados na pedra, mas também acabam por ceder.
Os técnicos que trabalham e fazem a sua vida a produzir linhas, falam de nós a 90%, a 80%, a 60%, mas afinal que quer isso dizer?
Eles referem-se a percentagens de enfraquecimento da linha. Quando fazemos um nó, ou seja, quando criamos um ponto fraco no nosso comprimento de linha, estamos a reduzir a sua capacidade máxima de resistência.
Dependendo do modelo de nó escolhido assim iremos interferir mais ou menos com a capacidade máxima de resistência desta.
Alguns fabricantes mais conceituados, seguros da qualidade daquilo que apresentam, referem mesmo na sua documentação técnica quais as percentagens de redução de resistência que cada tipo de nó cria no seu producto.
Vamos ver no próximo número do blog alguns nós e saber algo mais sobre este tema.
Vítor Ganchinho
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Boa tarde Vitor!
ResponderEliminarEsta lição também passo com distinção.
Lembro-me de de partir a linha por tudo e por nada ... linhas podres, drags muito apertados, nós errados e acima de tudo, linhas coçadas.
Hoje, quase todas as vezes que recolho a linha, passo a mão para ver se sinto alguma fragilidade.
Se sentir alguma coisa, elimino essa fragilidade.
Forte abraço, paulo