Sabem quem é que sabe muito sobre linhas? Sabem quem é que não pode deixar de saber muito sobre linhas?
São todos aqueles cuja vida depende de saber muito sobre isso!
Para fazer esta sequência de artigos, não deixei de falar com pessoas que praticam escalada, ou que trabalham a limpar vidros em construções muito altas e que têm de suspender-se por... cordas.
Também todos aqueles que fazem resgates no mar, por exemplo, a dado momento estão suspensos, eles e a vítima, por um simples cabo.
É com gente dessa que eu falo, é com os fabricantes de linhas de pesca, gente que sabe muito sobre o assunto porque sim, porque a sua vida esta intimamente ligada ao facto de saberem muito sobre linhas.
Todos eles são unânimes em dizer o mesmo: sempre que uma linha/corda faz uma curva com menos de duas vezes o seu diâmetro, essa curva enfraquece-a naquele ponto.
A resistência linear da linha de pesca, ou do cabo do barco, ou da corda de suspensão de alpinismo, sofre imenso quando a dobramos ou lhe produzimos um nó. Fica afectada na sua resistência máxima.
Quando damos um nó num fio de nylon, ou fluorocarbono, e se esse nó é apertado num raio menor que o dobro do seu diâmetro, a linha fica com a sua resistência diminuída.
A compressão que uma linha sofre corta-a sobre si própria. À resistência inicial apregoada pelos fabricantes de linhas de pesca devemos retirar valores que podem chegar aos 50%.
Utilizem isto como um ponto de partida, mais ou menos alguns valores percentuais porque para ter valores exactos dependemos sempre do tipo de nós feitos e da vossa habilidade enquanto “técnicos de linhas”.
Que muitas vezes chega a ser desesperante, diga-se em abono da verdade…
![]() |
Fiz esta foto a norte do Espichel, numa manhã fria de Dezembro. Era isto que estava a ver... a imagem não tem qualquer tipo de melhoramento. |
Não será fácil para ninguém explicar a física que existe por detrás dos nós e as razões que levam à rotura de uma linha. E porquê?
A resposta imediata em que muitos de vós estão a pensar, “partem porque sim”, é bem mais fácil de dar que as justificações que se seguem.
Poderíamos começar por referir que todas as bobines de multifilamento, de fluorocarbono ou de nylon têm inscrita na bobine e na caixa da embalagem a resistência, quer em kgs quer em libras.
Em rigor isso de pouco nos vale se optarmos por comprar linhas baratas. Porquê? Poderíamos dizer que a maior parte dos valores inscritos nos rótulos das embalagens de linhas são falsos!
Os fabricantes não nos podem dizer a verdade porque ao fazê-lo estão a limitar a venda dos seus produtos.
Se alguém disser que uma linha tem 6 kgs de resistência, um facto real, medido, verdadeiro, estará em desvantagem perante um “kamikaze” chinês que decida mencionar na embalagem das suas linhas que estas têm uma resistência de 16 kgs.
Para uma mesma linha, podemos produzir 1000 embalagens onde referimos 6 kgs como carga máxima aplicável, e outras 1000 embalagens a referir 16 kgs como carga máxima aplicável. Para a mesma linha.
Ao fim de uns meses, as linhas que mencionam 16 kgs de resistência estão todas vendidas, as outras que referem 6 kgs estarão todas em prateleira. A mesma linha!
Dado que não existe uma entidade supervisora que aplique multas a erros de informação, cada um faz aquilo que quer e pode para “despachar” o seu produto. Entendido?
Um nó deveras seguro e confiável é o San Diego Jam. É simples, rápido de fazer em acção de pesca e mesmo com mar ruim, ninguém fica mal visto com ele.
Amarra qualquer coisa que queiramos com muito menos atrito do que a maior parte dos outros nós. Ainda assim é muito importante humedecer a linha, ok?
Além disso, a laçada de retorno que forma a primeira volta envolve dois fios de linha em vez de apenas um... isso significa que não fará um ângulo tão agudo e é muito menos provável que ocorra a fractura da camada externa do monofilamento.
Vejam como se faz:
VER AQUI: https://www.animatedknots.com/san-diego-jam-knot |
Outro nó que utilizo com muita frequência é o Palomar. Tido como o nó mais forte que existe, utilizado mesmo em big game, este nó dá-me perfeitamente para o peixe que pesco na minha zona. Nunca tive problemas com ele.
A IGFA, por extenso International Game Fish Association, classifica o Palomar como o nó mais forte que existe.
Se estou certo, o nó San Diego Jam de que vos falo é um desdobramento do Palomar.
VER AQUI: https://www.animatedknots.com/palomar-knot |
Têm aqui abaixo alguns exemplos de nós possíveis e úteis, (existem milhares de tutoriais no Youtube que podem consultar) sendo que devem sempre procurar adequar o nó à situação concreta que têm em mãos:
Clique nas imagens para visualizar e na rodinha das definições para melhorar a qualidade.
Um outro factor que me parece ser importante referir é a combinação de linhas entre si. Fazer um bom nó utilizando linhas de diâmetros muito diferentes não é para todos.
Qualquer que seja o producto utilizado, nylon, fluorocarbono, multi, iremos sempre provocar uma curvatura muito acentuada sobre um deles, em relação ao outro. E já sabemos que isso irá provocar a criação de tensão sobre o bordo exterior da linha fragilizando-a, levando-a à sua prematura ruptura.
Talvez valha a pena explicar-vos isto melhor: independentemente do producto em causa, nylon ou fluorocarbono, o material na curva externa da linha, a parte de fora, à medida que ela aperta, é esticado até ao limite. Criamos nesse ponto tensão que induz a linha a rasgar, a abrir.
Por outro lado, o material no lado interno da curva da linha é por sua vez absurdamente comprimido. Isto cria forças completamente opostas e tudo isso de verifica num pequeno ponto.
Estas tensões são obviamente prejudiciais para a nossa linha, enfraquecendo-a, tornando-a mais sensível à rotura.
O facto de dobrarmos a linha para fazermos alguns dos nossos nós, por exemplo o Palomar, faz com que a tensão seja distribuída por dois pontos, diminuindo assim a carga sobre o ponto de contacto da linha com a amostra/ jig, ou destorcedor.
E depois de romper, que fazemos?
Quando rompemos uma linha, aquilo que a maior parte das pessoas faz é voltar a produzir uma laçada e …”siga a dança”, continua a pescar. Errado! Horrível!
Podemos, se quisermos perder algum tempo a pensar, em que estado físico fica a linha à volta do ponto de rotura, ou não podemos?
Houve um acidente que levou à quebra da linha, certo?
Será avisado pensar que o nosso fio junto ao ponto onde a linha rompeu está intacto? Que preserva todas as suas qualidades iniciais de quando bobinámos essa linha quando nova?
Em princípio não!
Por isso mesmo, devemos cortar, no caso dos multifilamentos, um troço de cerca de 30 centímetros de linha, e no caso de polímeros como o nylon ou o fluorocarbono, cerca de um metro.
Pensem que a tensão criada terá sido de tal forma forte que superou a resistência máxima suportável pela nossa linha. Se rompeu num determinado ponto isso significa que a montante e a jusante, acima e abaixo desse ponto, a tensão terá sido muito próxima de máxima também, certo?
Querem arriscar a perder outro peixe bom?
Espero que este artigo técnico sobre linhas e nós possa eventualmente ter sido interessante para todos aqueles que o leram.
O blog vai continuar a apresentar trabalhos que vos ajudem a pescar melhor.
Vítor Ganchinho
😀 A sua opinião conta! Clique abaixo se gostou (ou não) deste artigo e deixe o seu comentário.