Em época de férias por excelência, muitas pessoas arriscam investir algumas centenas de euros em equipamento de pesca e aproximam-se das praias, das falésias, dos cabos rochosos, e tentam a sua sorte.
Não é uma missão fácil...
Tudo joga contra quem começa nesta altura do ano. Os pesqueiros estão estabilizados há muito, a ausência de tempestades fortes não os alterou em demasia, não mexeu os fundos, não obrigou a grandes deslocações de espécies, e isso significa que muito do peixe que estará lá hoje, ...já lá estava ontem.
Em locais muito batidos por pescadores, veteranos e novatos, os peixes acusam agora a saturação de correrem atrás de amostras de todos os tipos, iscos fatais mais ou menos bem apresentados.
Os alvos de toda a gente são os mesmos de sempre, com os robalos sempre à cabeça. Todos querem pescar robalos.
E os pobres dos peixes levam com uma tremenda carga de “solicitações” a cada hora e dia que passa. Não têm descanso.
Tudo se complica quando se trata de exemplares “residentes” em zonas muito batidas, normalmente pontões de fácil acesso, com bons lugares para estacionar, não longe das grandes cidades.
Sabemos bem da diferença entre pescar num destes lugares de pesca com acesso fácil e ter de descer uma arriba durante meia hora, para ir lançar linhas a uma zona remota. Mas isso sabemos nós, aqueles que saem ao mar pelo menos três a quatro vezes por semana. Os outros não sabem.
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Dois lírios marotos debaixo do casco de um barco GO Fishing. |
A questão que se coloca é que quem começa a pescar não tem a noção daquilo que é bom ou mau.
São “inocentes” que ainda acreditam que onde há água há peixe e que o mar é um imenso aquário com peixe bem distribuído.
Por isso mesmo acham que podem lançar a sua amostra no primeiro sítio que encontram. Acreditam piamente que os peixes exibidos nos filmes do Youtube saem de sítios daqueles, ditos de ...”abertura fácil”.
Pior que isso, o vendedor da loja de artigos de pesca garantiu-lhe que com aquele equipamento que acabou de comprar pode conseguir robalos até aos...10 kgs.
É verdade que sim, nas mãos traquejadas de alguém que pesque bem, um robalo desse calibre pode ser feito com uma enorme variedade de equipamentos, (até mesmo os de qualidade duvidosa), mas daí até ser algo acessível a uma pessoa que dá os primeiros passos nesta arte tão complexa, vai uma distância enorme.
Pode acontecer que um mastodonte desses morda a amostra do sortudo pescador que se inicia nas lides, mas daí para a frente já tudo terá de correr muito bem para que a captura se concretize.
O normal é que isso não aconteça.
O som da linha a correr no carreto tem o condão de fazer o coração palpitar muito forte. Demasiado forte.
Os arrepios na espinha e o frio na barriga chegam mais depressa a quem quer muito ver o peixe que pegou na amostra. A quem tem pressa.
Daí até começarem a surgir os erros técnicos vai um instante e a seguir, inevitavelmente...a linha rebenta.
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Para chegarmos aos pargos e robalos, temos de vencer a barreira formada por milhares de cavalas que se interpõe... |
Bem vindos sejam os novos companheiros de pesca ao demorado e sofrido processo de aprendizagem da arte!
Até termos certezas, até sentirmos segurança a trabalhar um peixe, muitos serão aqueles que irão aproveitar as nossas fraquezas, as nossas indecisões, o nosso nervoso miudinho.
Perdem-se imensos peixes.
Muito longa e penosa é a estrada a percorrer até chegar o momento em que reagimos com gestos precisos, automatizados, e ...eficazes.
Sabemos que nunca conseguiremos o pleno, o 100% de oportunidades versus capturas, mas podemos caminhar nesse sentido. São anos, são ilusões e desilusões, no fundo é a vida a acontecer.
E viver é mesmo isto, é levar os dias com a simplicidade daquilo que é uma caminhada que começa com um pequeno passo, e termina não se sabe quando, nem onde, nem como.
Um bom pescador leva muitos anos a fazer. Aprendemos com tudo e com todos, mesmo com aqueles que sabem menos que nós. Mesmo com as crianças!
Viver com sabedoria é ser capaz de encontrar um equilíbrio entre o que fizemos no passado, a memória que guardamos daquilo que aconteceu de ruim e de bom e o dia de hoje, sempre o mais importante.
O hoje em termos de pesca é um milagre da vida que não se repete, e devemos aproveitá-lo bem.
Porque não vamos ter muitos dias e porque o hoje é sempre um dia único.
Tudo menos comprar peixe!!
Ao preço que ele está, bem podemos investir em material de pesca.
Vejam estas cavalas, a 12.99€+ Iva, ou seja a 16.00€ o quilo:
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Há milhares de toneladas de cavala na costa. Disponíveis, agressivas para as nossas amostras e por isso mesmo muito fáceis de capturar. |
Para um pescador, adquirir peixe em terra é um contrassenso.
Será a negação de tudo aquilo que ele pode fazer com a sua cana de pesca, e por isso mesmo o último e derradeiro recurso.
Agora que o tempo está estável e o peixe anda lá fora, é ir ao mar, é lançar as linhas e ter confiança nos resultados. O peixe bom aparece sempre.
As cavalas estão em toda a costa, em densidades que chegam a ser um perfeito absurdo. Por vezes o difícil é conseguir espaços vazios onde os seus cardumes densos nos permitam passar o jig para o fundo.
Quando em densidades da ordem daquilo que há neste momento na costa, quando as temos espalhadas dos 10 aos 80 metros de profundidade e para sul ou para norte, aquilo que podemos tentar é aumentar o peso do jig para valores mais elevados. Mas digo-vos que não é fácil enganá-las, a sua velocidade típica de tunídeo fusiforme faz com que cheguem facilmente para a queda de jigs até aos 100 gramas.
São mesmo muito rápidas, quando querem.
Para mim, que pesco normalmente com 30 ou 40 gr, bem ligeirinho, aproveitando o facto de usar linhas PE finas para os pargos, (PE 1 a PE 1,5), não deixa de ser um flagelo.
Haja paciência...
Vítor Ganchinho
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