Terminamos hoje, analisando situações práticas e tentando aplicar os conhecimentos adquiridos nos últimos quatro números do blog.
Trocar anzóis triplos por simples, aumentar o tamanho dos triplos, substituir argolas fendidas com algum eventual aumento de peso, aumentar o calibre/ peso dos anzóis usados pode mudar completamente a "impressão digital" das ondas de pressão e a atratividade de uma amostra específica.
Pode ser algo aparentemente inofensivo, para nós algo sem importância, mas para eles tem. Vamos supor que um distraído operário da fábrica de amostras resolve “esquecer-se” de aplicar uma das duas bolas de tungsténio dentro da amostra.
Isso podem ser suficiente para fazer com que uma amostra tenha um desempenho melhor do que outra. Ou pior.
Não convém esquecer que amostras de marcas diferentes podem ser parecidas, mas não são iguais. Tudo se joga na combinação de peso, dimensões, hidrodinamismo, capacidade de lançamento, etc.
Aqui chegados, podemos afirmar sem qualquer dúvida que as maiores e melhores marcas, a Shimano, a Daiwa, têm engenheiros que fazem testes todos os dias ao que produzem...
Eles estudam equilíbrios, pesos, balanceamentos, etc, de forma a que nós consigamos obter bons resultados.
Certamente já perderam uma amostra de sucesso e ao tentarem substituí-la por uma aparentemente idêntica, de outra marca, não obteve o mesmo resultado.
Se pescam regularmente no mesmo local, se as condições de profundidade, ondulação, meteorologia, corrente, maré, etc, são as mesmas, isso pode ajudar a explicar o porquê.
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| Fantástico amanhecer. O que eu gosto de me levantar cedo e estar no mar com estas condições... |
Um dia, quando os materiais de pesca evoluírem ainda mais, teremos os fabricantes de amostras a mencionar na embalagem alguns dados relativos ao processo de "testes de tanque", o registo da frequência de onda provocada aquando da recuperação da amostra a uma determinada velocidade.
Se tem uma importância relativa para quem pesca de dia, com muita visibilidade, já quando as condições pioram, as tais águas tapadas de que vos falei anteriormente, ou para a pesca nocturna, tudo conta.
Ter dados relativos à frequência emitida pela amostra permitiria ao pescador selecionar as amostras que geram ondas de pressão num ponto específico na faixa de frequência de 1 a 200 Hz.
Isso seria o suficiente para tentar aproveitar a resposta da linha lateral do peixe, acertar a velocidade de recuperação, etc.
Algumas amostras têm a mesma frequência dominante (+ - 5 Hz) independentemente da velocidade de recuperação, enquanto outras, como as amostras articuladas, podem ter uma frequência dominante entre 7 e 15 Hz.
Tudo depende do tamanho da amostra, do peso e da velocidade com que é recuperada.
Não é demais insistir em que cada pescador deve ajustar a sua velocidade de recuperação de amostra às condições que tem perante si.
Mais lento, mais rápido, em função da visibilidade e tipo de peixes que existem disponíveis.
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| As diferenças de pressão atmosférica também jogam um papel importante em questões de peixes e pesca. |
Não vem muito para o caso, mas a talhe de foice digo-vos que para os pescadores de moscas, esses resistentes homens que aguentam horas e horas a lançar uma linha com uma pequena mosca aplicada na sua ponta, questões como a forma, a cor, o peso da mosca, é ...tudo!
No caso da pesca à mosca, se a frequência da onda de pressão do artificial não corresponder às moscas naturais das quais o peixe está se alimentando, ela será ignorada, independentemente do quanto pareça imitar o que está eclodindo.
Trata-se de um fenómeno que podemos extrapolar às amostras para os nossos robalos. Em certos dias, eles estão a comer “isto” e não querem comer “aquilo”.
Isso leva-nos ainda a um outro campo, o da utilização de amostras ...”velhas”.
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| O motor de proa permite reduzir os ruídos de aproximação ao pesqueiro. |
Não vem mal ao mundo que uma amostra esteja esfolada, que tenha perdido a sua pintura original, porque a fracção de segundos que leva o predador a atacar o artificial não lhe pode dar tempo para tudo!
Quantas vezes fazemos pescarias incríveis com amostras, ou jigs, que estão fartinhos de ser mordidos por outros peixes?
Não se incomodem muito que a amostra esteja esfarrapada e surrada, isso não a torna menos atraente para os peixes.
É minha convicção que, à medida que a amostra fica mais esfolada, mais “usada”, mais nós confiamos nela.
E isso também é importante! Ter confiança naquilo que estamos a usar é meio caminho andado para insistirmos e consequentemente obtermos resultados.
O que queremos mesmo é saber que a impressão digital da onda de pressão que o nosso artificial provoca é próxima dos alimentos naturais dos quais os peixes se estão alimentando ativamente.
Para isso, necessitamos ter algum “stock” de amostras, ou jigs, sob pena de estarmos demasiado limitados nas nossas escolhas. Jogar no Euromilhões com um só número não é igual a jogar com mil números...
Por vezes mudanças subtis em coisas como comprimentos da amostra/ jig, densidade dos anzóis, leia-se peso, a forma, a cor, etc, irão alterar as características da vibração, da onda de pressão, e farão com que ela tenha um desempenho ligeiramente diferente de outra amostra.
Dizer ainda que em locais onde o predador tem mais tempo para analisar e interpretar aquilo que estão a ver, (águas muito limpas e com maior distância de visibilidade, águas mais paradas, etc), são locais onde podemos falhar menos.
Quando se trata de águas mais rápidas e agitadas, tudo é ao cronómetro, logo, vantagem nossa.
Quero terminar dizendo-vos que ainda falta muito para que se saiba tudo aquilo que vai na cabeça de um peixe e muito provavelmente não será nas nossas gerações que isso vai acontecer.
A procura de mais conhecimento não abranda, vai continuar, e nós aqui no blog vamos continuar muito atentos ao que passa. Outros equipamentos analíticos permitirão a obtenção de mais dados, mais saber.
É continuar a ler, a obter informação, a estudar em casa para aplicar no mar.
Será fascinante ver o que mais será revelado no futuro e como isso pode ser usado para melhorar o desempenho da pesca.
Espero que tenham gostado tanto de ler esta série de artigos quanto eu gostei de os escrever.
Vítor Ganchinho
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