TEXTOS DE PESCA - Falamos de polvos hoje?


Recebi alguns comentários sobre um texto em que falava de polvos. Para algumas pessoas, era estranho haver polvos com pesos de 10 kgs. Nunca viram. 

Pois aqui têm algo do que sei sobre polvos. 
Ao longo de dezenas de anos, pesquei à linha e cacei centenas de polvos com pesos acima do habitual. Por isso, estou particularmente bem documentado sobre o tema. 

Abro um parêntesis para dizer que a zona de Setúbal era, e é, muito rica neste tipo de moluscos. Por razões que se prendem com o facto de termos um rio com estuário muito largo, muitas zonas de marismas, e mexilhoeiras próximas, nomeadamente na Arrábida, esta zona cria muito polvo. São pescados pelos barcos de pesca lúdica de forma inadvertida, quando pescam outras espécies, sendo que a pesca dirigida é sobretudo feita por velhos marítimos, pessoas que o fizeram toda a vida dentro do rio Sado, nas aiolas, os pequenos barcos típicos de madeira, com ou sem motor. 

Detalhe da aiola de Setúbal, no Sado. Reparar na dedeira que protege o dedo indicador, e o “palhaço” com fitas, em cima da travessa do barco. As latas de peixe sempre…pretas da tinta dos chocos.
Utilizam-se “palhaços”, de dimensão superior à das toneiras para chocos, com algumas fitas brilhantes penduradas, por vezes com um pequeno peixe acoplado, um carapau, uma tainha, algo do género. A forma de animar esta “amostra” é a mesma que se utiliza para os chocos, pequenos tirões junto ao fundo, à espera que um polvo emboscado se lance. 
Uma dedeira em borracha evita os cortes que o nylon poderia provocar. Pode acontecer que o marinheiro utilize duas linhas de mão, sendo uma delas para chocos e outra para polvos. Os barcos sujos de tinta revelam a perícia do pescador: mais negros, …melhores resultados. 

Com um pequeno polvo na mão, inferior aos 750 gramas legais. A este nível, falar de “tamanhos mínimos” é um absurdo, esta geração não os tem.
Vamos ver o detalhe técnico do “artista” de que tratamos hoje: 

O polvo é um octópode, oito pés, de corpo mole, sem esqueleto interno como a lula, ou externo. O hectocótilo, um braço modificado, porta o órgão reprodutor, e é facilmente reconhecido, por ter uma das ventosas bastante maior que todas as outras. 

Reparar no tentáculo com uma ventosa muito maior. É isso o hectocótilo.

A reprodução ocorre na nossa zona entre finais de Setembro a principio de Novembro, com posturas que podem chegar aos 200.000 ovos. Desses, e pela quantidade de predadores existentes, apenas uma ínfima percentagem chegará a polvo adulto. Trata-se de um período decisivo na quantidade de polvo existente numa determinada zona, não pelos progenitores, que morrem inevitavelmente a seguir à eclosão e libertação dos seus descendentes, mas porque passam a estar desprotegidos numa altura em que têm poucos milímetros e são vulneráveis aos ataques de todos os tipos de peixes, ou estrelas do mar. A reprodução é feita num momento crítico, de grande instabilidade de tempo. O Novembro já traz grandes temporais, e mata muita criação de polvos. O ninho de um polvo é basicamente um recanto ou reentrância de rocha, em que os ovos são colocados em cachos, pendurados do tecto, e que são oxigenados e movimentados pela fêmea, através do lançamento de água através do seu sifão. Neste período as fêmeas não se alimentam, morrendo de inanição. Os polvos vivem cerca de dois a, eventualmente, três anos. Em anos bons, de pouca tormenta, acontece criarem bem e já se sabe que daí a dois anos teremos centenas de polvos grandes a tapar as pedras. A reprodução não ocorre ao mesmo tempo em todo o Atlântico, em países mais tropicais, pode acontecer no Verão. Recordo-me de estar a caçar no Senegal, e ter dado com uma arribada de polvos de milhões deles. Os fundos estavam tapados, quilómetros em redor. As moreias estavam redondas, e sempre com tentáculos de polvos a sair da boca….os meros encostaram à praia e deixaram de poder ser vendidos, porque ninguém tinha mais espaço para os guardar. 
Nos Açores, onde é muito típico o prato de caçoila de polvo, as pedras são rapadas de polvinhos juvenis que mal têm 200 gramas…. e assim nunca os terão de tamanho adulto. 

Lindíssima foto de um pequeno polvo. Os polvos adaptam o seu corpo a qualquer estrutura assente no fundo. Pode ser uma lata de conserva abandonada por barcos de recreio…

Trata-se de um animal extremamente inteligente. Por não ter carapaça ou esqueleto exterior, vale-se da sua capacidade de penetrar em frestas apertadas, buracos, etc. Aprende a esconder-se dos predadores, e a utilizar objectos para se tapar. 
Como outros meios de defesa, apresenta uma rara capacidade de camuflagem, conseguindo através dos seus cromatóforos reproduzir as cores dos locais em que se encontra, que vão do branco, ao areia, ao castanho escuro, quando está na rocha. Pode também largar tinta para despiste dos seus perseguidores, enrugar o corpo de forma a dar-lhe uma textura de “pedra”, o que o auxilia, não só na camuflagem perante predadores, como na caça de peixes. 
A sua alimentação é muito variada, e pode incluir peixes vivos, mortos, crustáceos, invertebrados. Mata as suas presas por asfixia, ou por pressão de mordida, com os seus dois dentes semelhantes a um bico de papagaio, muito cortantes, de nome “bico quitinoso”. 
O polvo tem visão binocular, como os humanos, e tem percepção de cor. A tinta que larga para confundir os seus perseguidores tem cheiro, e é composta por melanina, a mesma substância que dá cor aos cabelos e pele dos seres humanos.  

Os seus principais predadores, são: o homem, os safios, os tubarões, os meros e sobretudo, outros polvos. Podemos analisar em detalhe cada um deles: 

O homem - Desde sempre nos habituámos a incluir na nossa dieta este molusco, por razões que se prendem com o seu valor gastronómico e a facilidade na sua captura. Efectivamente, os polvos frequentam as zonas baixas de marés, perseguindo as suas presas favoritas, as navalheiras, ou peixes que ficam confinados em poças de maré e por isso não podem escapar. Também são visitantes assíduos de zonas de mexilhão, que adoram. É muito fácil descobrir, em zonas costeiras baixas, na vazante, polvos encostados a recantos da rocha, zonas mais escuras, à espera da chegada da maré. Os espanhóis pescam-nos com uma cana, cuja ponta tem enrolada uma pequena rede com peixe no seu interior. A técnica é muito simples, é ir metendo a vara em tudo o que sejam recantos abrigados. O polvo agarra-se à rede e larga a protecção do seu buraco. Entre nós, a forma mais usual de pesca profissional é a colocação de uma fileira de gaiolas de rede com um resto de peixe no seu interior. O polvo ronda e entra para a gaiola por cima, não conseguindo sair dela. Essas gaiolas são levantadas diariamente, e deixadas no mesmo sítio. Tradicionalmente, pescava-se o polvo com um longo cabo com vários cântaros de barro, pousados sobre o fundo, explorando a necessidade que o polvo tem de se refugiar num recanto escondido, e partir daí para a caça de peixe, bivalves, etc. São capturadas por ano em Portugal cerca de 10.000 toneladas de polvo.  A caça submarina dá também algum desbaste, dado que a profundidade a que se desce não é muita, e por isso, acessível a iniciados, novatos na arte. Nessa fase, ainda lhes dão tiros de arpão, e por isso entortam as pontas todas nas pedras, depois aprendem que se deve ter sempre à mão um gancho, para os puxar dos buracos.  

O gancho dos polvos.
Os safios - A arribada de polvos que vêm das profundidades para a costa, em finais de Setembro, coincide com a chegada dos safios, que deles se alimentam. O safio tem maxilas muito fortes, capazes de partir os dedos de uma pessoa. 
Quando consegue descobrir um polvo fora da toca, se tiver pequena dimensão é comido inteiro, se for grande, o safio aboca um dos tentáculos e roda sobre si próprio até cortar este. Os polvos conseguem regenerar os seus tentáculos, fazê-los crescer de novo, ao fim de algum tempo. 
É muito frequente encontrar polvos grandes sem tentáculos, e polvos pequenos …no estômago dos safios. 
Pequeno safio, que come polvos em série para chegar a grande.
Os tubarões - Entre nós, os mais frequentes são a tintureira, Prionauce glauca, que do alto dos seus possíveis 3,50 mts de comprimento e cerca de 200 kgs de peso, não tem qualquer dificuldade em os devorar. Também os tubarões makos, ou anequins, Isurus Oxyruinchus, se alimentam deles, pese embora, por serem um peixe pelágico, do largo, tenham menos oportunidades. As tintureiras são por vezes avistadas a menos de 5 metros de fundo, inclusive em zonas de banhos. São frequentes a sul da praia da Comporta, por exemplo, quando as águas estão limpas, azuis, normalmente a seguir a alguns dias de vento leste. 

A tintureira, um tubarão azul que vive perto da costa. São oportunistas e se tiverem tamanho e possibilidades de atacar pessoas, se sentirem fragilidades, atacam mesmo. Comem cadáveres. Já as encontrei a rondar uma baleia morta.
Os meros - É muito frequente que os meros, quando caçados, regurgitem polvos, que podem facilmente ter alguns quilos de peso. O mero procura-os nas paredes de rocha e zonas de areia próximas da sua toca, onde lhe é mais fácil conseguir caçá-los. Tratando-se de um peixe que tem um poder físico tremendo, o mero, com uma cabeça que ocupa um terço do seu tamanho, literalmente aspira o polvo, que de um momento para o outro passa de estar fora, a tentar camuflar-se, ou a fugir, para ficar dentro do estômago do peixe. É uma presa muito procurada por este peixe, que os coloca no topo das suas preferências.

Fantásticos tempos, onde a falta de qualidade do material era compensada por uma capacidade física que permitia descer ao fundo vezes sem conta. Vítor Ganchinho com um mero.
O mero, um peixe que é um aspirador de polvos, está bem longe de ser o peixe pacifico que se conhece através de documentários feitos em reservas marinhas. Aí, são alimentados à mão e  comem ovos, salsichas e tudo aquilo que os turistas lhes quiserem dar. Deixam fazer festas e são os peixes dóceis que encantam mergulhadores de garrafas. Outra coisa bem distinta são os meros selvagens, que são matreiros, são desconfiados, e muito difíceis de ver e de caçar. Comparar as duas realidades, é comparar leões de circo com os leões na selva.  

Este tinha 30.5 kgs de peso, era grande, o Mohamed Sow tem …1,90 mts de altura. Reparar no tamanho da cabeça.

Outros polvos
- Porque mergulho com alguma frequência em zonas de polvos, tenho a possibilidade de observar o seu comportamento. Em zonas preservadas, e sobretudo com muita alimentação disponível, os polvos crescem com alguma  facilidade a pesos superiores a oito quilos. Os exemplares de excepção atingem os 11 kgs, sendo que com esses pesos praticam canibalismo puro, alimentando-se de outros polvos mais pequenos. Encontrei muitos casos de polvos grandes que tinham debaixo de si, já meio comidos, polvos pequenos de …4 kgs. Começam pelas pontas dos tentáculos e vão subindo até finalizar o seu trabalho.  


O polvo tem uma predilecção especial por fundos baixos, onde consegue descobrir comida com mais facilidade, onde há mais vida, e por isso mais oportunidades de se alimentar. Com efeito, apenas sai para zonas fundas em momentos em que a turbulência das águas torna impossível a sua permanência em pedras junto à costa. Os dias de grande ondulação, com o que arrastam de areia, pedras pequenas, e por vezes grandes ( já vi, depois de voltar aos sítios que conheço, blocos de pedra com toneladas serem arrastados dezenas de metros do local original), e isso torna impossível a presença dos polvos nos seus locais de caça favoritos. 
Em determinados momentos do ano, nomeadamente o período de reprodução, é possível encontrar pedras completamente cercadas de polvos. As tocas ficam marcadas por uma razoável quantidade de calhaus rolados e outros objectos que encontram nas imediações, dispostos em concha. Em caso de ataque, o polvo lança “mão” de todos os que pode, e tapa-se. Torna-se muito difícil de morder pelos safios, ou de arrancar da pedra pelos caçadores, onde se agarra fortemente. 
Para quem nunca viu uma sequência de ninhos de polvo a partir da superfície, é algo com o isto: temos uma infinidade de buracos ocupados pelos bichos, com pedras roladas sempre encostadas, “à mão”, a distancias que podem ser inferiores a meio metro entre si, em extensões de centenas de metros. Existem dois spots em que são muito querençudos, os limites da pedra que dão para a areia, onde encontram navalhas, ameijolas, vieiras, chocos, etc, e as zonas de pedra com mariscos fixos, como mexilhão e perceves. Os polvos encontram aí comida fácil, e os polvos grandes encontram …polvos pequenos. 

Em zonas muito remotas, pouco conhecidas e por isso pouco exploradas, é possível encontrar concentrações absurdas de polvos. Diria alguns milhares deles. Para isso, muito contribui o facto de nesse lugar terem comida em abundância. 
Digo-vos que um dos meus sítios favorito de polvos, cujas condições técnicas serão eventualmente perfeitas, tem mexilhão velho de 13 a 14 cm de comprimento, agarrado à pedra, a alguns metros de fundo. Existe uma curiosa simbiose entre mexilhão e um pequeno caranguejo, de 1 cm de tamanho, de cor rosada, que vive dentro do mexilhão, e que prestará serviços de limpeza, em troca de segurança. Como a pedra está por completo coberta deste molusco, existem tapetes de mexilhão que apenas estão agarrados aos anteriores, ao mexilhão do lado, ou seja, sem qualquer pedra por baixo. Existem extensões de mexilhão que se estendem por metros e metros fora da pedra. Todo este mexilhão morre quando vem um ano de grandes ondas. O processo recomeça a seguir, tendo como base a reprodução do mexilhão velho que fica na pedra e eventualmente de outro que chega das redondezas, dado que estes, quando ainda minúsculos seres, vagueiam livremente nas correntes. Caso tenham curiosidade, posso voltar a este tema. 
Ter estes moluscos disponíveis, garante ao polvo uma dieta proteica rápida, que é complementada com vieiras, ameijolas, navalha, etc. Para que tenham uma ideia, e porque o observei dúzias de vezes, os polvos comem o mexilhão da seguinte forma: colocam um tentáculo de cada lado, e fazem pressão. A princípio, o mexilhão aguenta firme, não abre. Mas passadas algumas dezenas de segundos começa a vacilar …e cede. Quando abre, é comido. 

Polvos aos pulos, em cima da consola.

Uma história curiosa, relacionada com polvos: 

Recordo-me de um amigo, funcionário de uma grande superfície, me ter solicitado para lhe arranjar meia dúzia de polvos, para um petisco com o pessoal do supermercado. Saímos os dois ao mar. 
O Salsinha ficou dentro do barco, a pescar garoupinhas, pampos e miudezas, enquanto eu me fiz à água para ir à minha zona de polvos. Quando estava a cem metros do barco, lembrei-me que não lhe tinha perguntado quantos colegas tinha. 
Por isso, durante duas horas trabalhei arduamente e no fim, a bóia já tinha um peso de tal ordem que já mal flutuava. Havia mais umas centenas de polvos na pedra, mas achei que devia ser o suficiente. Fiz alguns sargos para oferecer a outro amigo.
Voltei ao barco e disse ao Salsinha que estava feito, e podíamos regressar. Despi o fato, arrumei o gancho dos polvos, e disse-lhe para me ajudar a levantar a bóia. 
Contente por saber que iria ter os seus polvos, foi posicionar-se à proa, com os dois braços pendidos. Passei pela bóia a uma velocidade ligeiramente acima do conveniente, para provocar a situação. O meu colega deitou as mãos à bóia e num esgar de esforço, veio agarrado a ela, raspando o corpo na amura do barco, até à popa, sem largar, mas sem a conseguir subir. Aí, em aflição, foi obrigado a desistir. 
_ Salsinha, se não queres ajudar dizes-me, que eu trato disso! Eu vou aí levantar a bóia!...
_Não Vitor! Não consigo mesmo mexer isto! Acho que está preso no fundo, não sobe nem um milímetro. Eu quero ajudar, mas não consigo levantar….

Voltámos atrás e ajudei-o então a levantar os 100 kgs de polvos….em cerca de 15 bichos. Média de 6.5 kgs cada…

O Salsinha, sem forças nos braços para levantar a bóia…
Foram outros tempos. Hoje, esta situação seria um absurdo, porque não faz sentido. 
Naquele local, felizmente, continua a haver bastantes, acho até que mais. 
Eles continuam lá, grandinhos e gordinhos, mas as actuais restrições de quantidade, mais que justas, e entendíveis, limitam as capturas. 

Outro dia, o mesmo perfil. Os polvos vão para cima do mexilhão e ficam mais fáceis de levantar, não exigindo tanto esforço, quanto de os retirar dos buracos. Os safios estão sempre ao lado. Comem polvos…

Podemos considerar como polvo de excepção tudo o que ultrapasse os 8 kgs, mas em determinadas zonas, são muitos os que atingem os 10 kgs. Polvos grandes é isto: 

O autor com dois polvos que no total pesaram 20 kg.

Fica a resposta para os amigos que fizeram o favor de me contactar. 

Agradeço que coloquem as questões através do blog, têm um espaço para isso, e eu prometo que respondo sempre. 

Caso tenham sugestões de temas, também me ajudam. 


Vítor Ganchinho


2 Comentários

  1. A primeira pesca a que me dediquei foi curiosamente ao polvo. Passei noites no braço da doca das fontainhas, perto do catamaran que vai para Tróia, de linha na mão. Sempre tive algum sucesso mas nunca me passou pela cabeça surgir um polvo dos tamanhos que se podem ver aqui! Creio que o maior deva ter tido perto de 2kg, o que para mim foi uma extrema alegria como é de imaginar. A maioria era tao pequenos que voltavam para a água. Agora apanhar um polvo de 10kg?! O sonho…Talvez um dia…

    Obrigado pela partilha de fotografia!

    Cumprimentos e bom ano!

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    1. Continua a haver polvos bem grandes.
      Na nossa costa, os maiores não deverão exceder os 11kgs, o que ainda assim é significativo para um animal que vive muito pouco. As fêmeas não passam os dois anos.

      Por definição, o momento de maior concentração de polvos é o mês de Outubro.
      É esse o mês em que a quase totalidade dos polvos se concentra junto à costa, para reprodução.

      É apostar tudo nesse momento, sabendo que durante todos os restantes meses há sempre muitos junto à costa.


      Vitor

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