TEXTOS DE PESCA - Monstros marinhos, a saga continua - O Peixe-Vela

Bom dia a todos,

Continuo a passar-vos testemunhos de dias em que o pescador ganhou. Não esqueçam que, por cada dia em que foi possível fazer uma foto de um bom peixe, houve dez dias em que as coisas não correram tão bem. A pesca é ir, estar com amigos, e passar uns dias em boa companhia. Os bons dias de pesca não são necessariamente os dias em que pescamos mais. 

O peixe-vela, Istiophorus platypterus, é considerado o peixe mais rápido do planeta. Pode atingir velocidades de 110 km/h. De resto, é feita uma descrição deste peixe no livro de recordes, o Guinness Book.

Imaginem o que é estar na água com este corredor dos mares, armado com um bico de cerca de 60 cm, …e que é infinitamente mais rápido que nós a deslocar-se. Explico-vos como se faz um peixe destes. 

Vítor Ganchinho com um veleiro, ou peixe-vela.

Quem quiser tentar um peixe-vela tem antes de mais de se munir de uma dose de paciência infinita. Esse é o grande segredo de conseguir um peixe que é raro, e que por isso obriga a uma aturada procura.

Sai-se numa piroga para o mar alto, com um teaser, que pode consistir numa linha de 20 metros de nylon forte, digamos 1mm, onde atamos uma lula de borracha, sem anzol. O objectivo é fazer subir o peixe e tê-lo a uma distância curta.

A lula é arrastada pela piroga, e salta à superfície, fazendo alguma espuma.
O caçador segue na piroga com barbatanas calçadas, uma faca de mergulho atada à perna por dois elásticos, e a máscara pronta a baixar para a cara. Podem passar minutos, mas também podem passar seis horas, até aparecer algo.

É corrente cruzar a rota dos golfinhos, ao largo. O calor é quase sempre insuportável, provoca muita desidratação, e por isso não se veste o casaco do fato de mergulho.

Quando o peixe surge na esteira da piroga e prepara o ataque, levanta a vela e torna-se visível à superfície. É o momento! Nessa altura nada pode falhar, sob pena de jogar fora todo o esforço anteriormente feito.

A piroga continua a sua marcha, e o caçador mergulha à ré, junto ao motor. Sabe que tem poucos segundos para estar em posição de tiro. A arma está sempre carregada, (não há tempo para isso quando chega o momento), e está atada a um cabo com cerca de 50 mts de comprimento, enrolado a uma bóia rígida. Porque a piroga segue o seu rumo, a distância ao peixe encurta a cada fracção de segundo. O caçador tem dois a três segundos para se preparar para a acção. A partir daí, ou está, ou não está. Porque o peixe segue a lula, à qual vai dando pancadas com o bico, quando depara com o caçador, está a poucos metros dele. O disparo é feito tendo em atenção a viragem que inevitavelmente o peixe irá fazer quando nos vê, para a esquerda, ou para a direita. Correr a mão e disparar tem de ser algo natural, em movimento, e se pensam que o alvo é grande, logo acerta-se sempre, estão enganados. Tenho amigos que falharam dois peixes no mesmo dia. Uma coisa é arpoar um sargo, outra é ter um peixe vela à frente. O coração bate muito mais rápido e isso propicia erros. Naquele momento, nada pode falhar porque tudo se joga naqueles centésimos de segundo.

A seguir ao disparo, há que ter em atenção que estamos perante dois metros de peixe, e que há um bico que nos pode varar. O resto é muito mais simples, o peixe faz 100 metros em poucos segundos, o cabo desenrola da bóia, e a seguir basta entrar para a piroga, e seguir o flutuador. A recolha é feita à mão, exactamente como se faria com um carreto, dando linha, recuperando, até ter o peixe à mão. Esta é a técnica que dá a foto acima. 


Estou disponível para responder a quaisquer questões que entendam colocar.


Vítor Ganchinho


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