Depois de um temporal rijo, com vento forte e ondulação a passar dos 4/5 metros na zona da Comporta, baía de Setúbal, o mar deu uma folga nesta segunda semana de Dezembro, aproveitada pelos pescadores da zona para ensaiar as douradas. Trata-se de um período em que muita gente de outras zonas do país aproveita para tentar a sorte. Encontrar pessoas de Beja, de Coimbra, de Portalegre, é relativamente frequente.
O filme já está muito visto: as douradas estão descansadas e picam durante a semana, quando muito poucos barcos têm possibilidades de se deslocar à Vereda, ou pedras vizinhas. Pouco barulho, e as douradas entram aos caranguejos com vontade. A notícia é dada, e corre o país em poucas horas.
Ao fim de semana, perante uma centena de barcos, de cabos, de correntes, de âncoras, ….e muitas centenas de linhas, chumbadas, etc, ….os resultados são absolutamente catastróficos.
Raramente alguém consegue fazer algo.
Por esse motivo, quando todos os pescadores apostam todas as fichas na tentativa de conseguir uma das ditas, eu, que já não vou em “febres do ouro”, aproveito para fazer uns pargos grandes, em zonas em que eles estão muito mais descansados.
Num desses locais, e depois de ter entrado um pargo bonito, pescado pelo Tó-Zé Pinheiro, resolvi fazer um intervalo para pescar uns quantos carapaus. A sonda estava bem marcada por uma bola de peixe a cerca de 80 metros de profundidade, num fundo de rocha a cerca de 89 mts. E eles cumpriram com aquilo que se espera de uma carapau: bonitos, grandes, gordos e muitos.
Em poucos minutos, os penachos fizeram o seu trabalho e 3 kilos de carapau estavam na caixa.
A cana que tinha utilizado para pescar os pargos estava na água, a uma profundidade de 3 a 4 metros, com um resto de isca, um filete de cavala, concretamente.
Dizia o Tó-Zé, entre dentes: “Passou aqui qualquer coisa debaixo do barco que não consigo perceber o que é”….
Daí a minutos, reparo que a minha cana estava a ser arrastada para a água, e num derradeiro esforço, consegui lançar-lhe a mão. Seguiram-se alguns minutos de luta desenfreada, com uma pressão enorme, a que o carreto Daiwa correspondeu devidamente. Após alguns avanços e recuos, aí estava o animal: uma raia, fisgada a 3 metros da superfície, em mar aberto, num fundo de 89 metros!!!! Poderá haver algo mais improvável que uma raia violácea auto anzolada nestas circunstâncias?
Ora vá lá alguém entender isto da lógica aplicada à pesca….
O animal, depois de fotografado, foi restituído à água em perfeitas condições de ir atazanar outro atleta. Cuidado, ela …anda por aí!!
Vítor Ganchinho