A história é curta.
Nos bons tempos em que ainda se podia ir a Sesimbra fazer uns peixes para o jantar, fui com a minha mulher, a penitente Lena, (que me tem aturado anos e anos sempre a cheirar a peixe, roupas a tresandar a sardinha), fazer um treino de mergulho muito perto da vila, sem grandes pretensões. Porque tinha ideia de cozer uma abrótea fresquinha para o jantar, fui a um buraco baixo, a cinco metros de profundidade, onde havia sempre um peixinho daqueles, e normalmente no tamanho pretendido: 1,5 kgs. Uma abrótea para duas pessoas. Ali havia sempre. Desci perfeitamente convencido de que iria encontrar a minha abrótea, pois já havia umas duas semanas que não ia ao buraco e aquela zona não era caçada, por ser tão perto de Sesimbra. Também por ninguém achar que seria sequer possível encontrar peixe ali…
Ao assomar ao buraco, uma nuvem de areia e poalho levantou-se aos meus olhos e deixei de ver. Esperei um pouco, mas nada, não assentava.
Vim para cima, muito intrigado, porque uma abrótea nunca faria aquilo, apenas se escondem na zona mais escura e esperam que passe o perigo. Mais que isso, o ruído que escutei à porta do buraco era um ruído meu conhecido, de outras paragens, outros mares, outros peixes. Concretamente aquele bater de cauda lembrava-me as minhas caçadas no Senegal, …lembrava-me um mero!
Mas um mero ali, onde estava, a cinco minutos de Sesimbra?? Impossível!
Foto de um pequeno mero, da autoria de Carlos Osório. |
Voltei para baixo, e foi aí que o vi, encostado a uma das paredes, no escuro. Um tiro fácil.
Vim para cima com o peixe, e quando cheguei à superfície ouvi um ruído de um motor de um barco. Era um semirígido meu conhecido, do meu amigo Carlos Osório.
O Carlos foi e é, um dos valores mais seguros da caça submarina nacional, com títulos nacionais, europeus, e à parte disso, uma espectacular pessoa.
Irmão de Horta Osório, banqueiro conceituado, uma família de estrelas.
Perguntou-me:
_Então andas por aqui, a caçar?
_ Sim, vim aqui ao meu cantinho para vir pescar um mero para o jantar.
Ele ia para se rir, quando nisto, eu saco do mero para fora de água, e mostro-lho. Arregalou os olhos. Nem queria acreditar! O Carlinhos voltou a esfregar os olhos mais duas vezes e aos poucos recuperou a fala.
Na verdade, encontrar um mero àquela profundidade, num sítio tão passado e repassado de pessoas, barcos, era pouco menos que ter encontrado um extra-terrestre.
Mas lá estava, pequeno sim, mas um mero.
Vítor Ganchinho
Vítor Ganchinho