TEXTOS DE PESCA - Gustavo Garcia & Tó-Zé Pinheiro: Dupla de insucesso

Isto é um país que não pára: ainda há dias, em 1908, um tal de Manuel Buíça assassinou o rei D. Carlos, e já estão outra vez a planear um atentado. Na circunstância, o meu. 
Motivo: não gostam dos meus escritos sobre pesca! Não digo que não possa haver melhor, mas eu não sou daqueles que escrevem seis páginas sobre bóias de pião! A esses, todos desculpam e ninguém dá tiros! Adiante. Enquanto a bala vai, vem, vai outra vez, enrola, bate na parede e faz ricochete, vou escrever-vos hoje sobre dois grandes amigos, futuros ex-grandes amigos depois de lerem isto. Mas, quer eles gostem ou não, quer tenham ou não problemas de artrite reumatóide persistente, sabem que eu digo sempre a verdade. Hoje vou falar-vos de pesca a sério. Apertem os cintos, porque vou apresentar-vos os meus dois companheiros!

Gustavo Garcia com um pargo simpático.
 

Tó-Zé Pinheiro: 59 anos 

Moço alto, novo, bonito e rico. E loiro. Passou ao lado de uma brilhante carreira de vendedor de toalhas de mesa em papel celofane para restaurantes, embora o seu sentido e sonho profissional fosse o lugar de subchefe de coveiros no Cemitério de Moura. Ou, porque é muito ambicioso, chegar, quem sabe, a vice-presidente de uma empresa de transladação de ossadas em Barrancos. Acabou por ficar a meio caminho, como enfermeiro no Hospital de Beja, o que vai dar ao mesmo. Pesca, mas pesca pouco. Sério candidato a mudar de vida, a escolher outro ramo que não a pesca à linha. Tem um ar atabacado. Fuma muito. Pressuponho que seja tudo tabaco normal, à base de ervas legais. Sendo enfermeiro, ganha bem e sai cedo, o que lhe permite preparar bem as linhas, canas e carretos. Considera-se um sobredotado de mãos e exactamente por isso, não precisa de mais de 50 minutos para montar a sua cana de pesca. Quando está quase a conseguir passar o fio em todos os passadores, o estupor do nylon resvala e recomeça tudo de novo. Fora de questão a vulgaridade dos simples humanos: ele pertence ao tipo de pessoa que enche o peito de ar e se lança sempre da prancha mais alta da piscina. Tem espírito de sacrifício, aguenta muita pancada e se for desafiado para ir à pesca num dia de vento e chuva, nem repara que tem uma faca de mato de 35 cm espetada na barriga até ao cabo. Lá em casa é conhecido por ser um raro fenómeno de resistência. Acredito piamente que, depois de ser baleado seis vezes nas costas à queima-roupa, ele possa reagir pedindo um café curto em chávena fria. Na noite anterior a uma saída de pesca, não dorme. Chega sempre a horas, nesse aspecto é um companheiro seguro, mas muitas vezes confessa-nos ter dormido no sofá. A sua fiel companheira Gertrudes não suporta o facto de ele acordar sobressaltado a cada cinco minutos, ligar a luz do candeeiro e olhar fixamente o relógio. Seguramente far-lhe-iam bem umas termas, para acalmar o nervoso miudinho. O Tó-Zé, de resto e tirando isso, é um individuo quase normal, tem o polegar oponível em relação aos outros dedos da mão e se lhe apontarem à cabeça uma pistola carregada com balas grandes e muita pólvora preta, consegue comer com faca e garfo. Não cuida da indumentária em demasia, e pode perfeitamente usar um desodorizante a cheirar a queijo de Serpa. Este homem pode muito bem ser o último pescador português a sério, o verdadeiro macho latino pescador, com bigode. Pela parte que lhe toca, pesca com o que há, e não inventa. Pesca com canas de carbono muito boas, novas, caríssimas, e não tem medo de as partir, de as torcer, de as dobrar e pisar violentamente, de colocar chumbadas matulonas, de as levar ao limite, se forem as minhas. Mas também pesca com paus de vassoura grossos e velhos e tem um cuidado extremo, se forem as dele. 



É um bom amigo de infância, um amigo do peito. Uma pessoa do Alentejo profundo, para quem as chicletes só são boas se tiverem sabor a entrecosto grelhado na brasa, ou a lascas de presunto de Barrancos. Quando pensamos em abrir uma empresa de mudanças de móveis nunca pensamos no Tó-Zé. É magro de carnes, pouco jeitoso e fraca figura para fazer forças. Dificilmente seria capaz de pegar sozinho um touro Miúra em pontas, com 600 kgs, à primeira tentativa. Provavelmente nem à décima quinta tentativa, mas não tenho dúvidas de que seria capaz de ir lá até o bicho ceder e se deitar no chão por cansaço. Nós gostamos do rapaz, pese embora todas as suas imperfeições. Temos de atender também a questões que se prendem com a biodiversidade, aos direitos humanos, etc, pelo que sempre que vamos sair de barco, lembramo-nos dele. Gosta de caiaques. Nunca me apareceu montado num desses botes de plástico nos pesqueiros onde pesco, porque eu vou sempre para longe dos portos. Eventualmente, com mais algum treino de força de braços, será um dia capaz de acorrer rapidamente às “passareiras” dos atuns e gansos patolas no seu caiaque verde. Sei que o Tó-Zé, para conseguir dar mais andamento à coisa, está a desenvolver um engenhoso e sofisticado sistema de cabos e roldanas, que lhe permite auto chicotear-se a si próprio. 

O Tó-Zé no seu habitat natural. É aqui que ele está em grande, …porque tem o pé em terra firme. 
 

Pratica automedicação. O moço é nervoso por natureza, e isso nota-se quando chega o momento de ferrar o peixe: prega uns tirões na linha que deixariam sobressaltados e boquiabertos os gajos das motos que vivem do roubo de malas por esticão. Faz-me lembrar o meu barbeiro, que tem Parkinson em estado muito avançado. Tenho sempre o pescoço a prémio quando chega a altura de rapar os pelos do pescoço, porque ele não tem perto nem longe, é tudo de repente, a lamina umas vezes passa bem, outras,…mal. 
Pesca desalmadamente com vinis, e especializou-se em cavalas. Todos sabemos que uma cavala no anzol será sempre melhor que uma bala na testa, mas para ele, todos os outros peixes são estranhos, exóticos. Relativamente a medidas, …nunca mede. Está convicto de que, em caso de vistoria por parte da Policia Marítima, basta dizer que os mais pequeninos são para oferecer ao Corpo de Escuteiros de Beja, e o assunto está resolvido. Não lhe reconheço dotes exacerbados de trabalhos manuais, não toma os comprimidos Memofante, e por isso, esquece-se dos nós com frequência, pelo que o nó cego é a base da sua estratégia de junção de fios. Faz muitos, para ter alguma firmeza. No fim, queima as pontas com o cigarro, e o assunto está aparentemente resolvido. Tal como a dos peixes, também a sua memória é pouco selectiva. Não consegue estabelecer uma relação directa entre falta de manutenção, carretos bloqueados, fios de nylon podres e peixes que se escapam. Por azar felino, os grandes são precisamente os que lhe partem as linhas. Num dia menos feliz, pode acontecer estar uma tarde inteirinha a pescar pampos e pensar que está a encher o balde de sargos albinos. Se calha um deles meter o anzol até às amígdalas, está o caldo entornado, porque são horas de luta até descravar o anzol. Por ele, vinha tudo pela pontinha da beiçola. Não sei se haverá entre os leitores alguém que o queira patrocinar. Ele pode ser considerado um “target” perfeito para publicidade porque, da costa, sem nevoeiro e com binóculos, sempre se vê qualquer coisa. Até agora o que apareceu foi a Funerária Armindo – “No céu é um descanso”, mas há espaço para muito mais. Sei que está em negociações com uma multinacional que está disposta a pagar o mesmo que paga ao Roger Federer quando ele vai a Roland Garros, 70.000 euros por cm2. Concretamente por um anúncio que ele vai usar na parte de baixo da meia direita. 

As cavalas não se podem descuidar, porque o Tó-Zé é letal com esta bicheza miúda. 


Gustavo Garcia: 66 anos

Rapaz calmo, mas desorientado com a pesca. Capaz de ir a Fátima de joelhos e fazer umas madeixas californianas loiras, se lhe calhar um pargo de 2 quilos. Quando tira as bolas de naftalina dos bolsos do fato, fica com bom aspecto, apresentável. É um fixe. O Garcia pertence àquele naipe de pessoas que devia ser património mundial da UNESCO. Penso que será pacífico e algo em que estaremos todos de acordo: se há para a religião um antes e depois de Cristo, também há para a pesca um antes e depois de Gustavo Garcia. A humanidade deve-lhe muito, sobretudo ao nível da técnica de empate de anzóis de patilha alta e da fina arte de fazer bricolagem com destorcedores. Pesca LRF-Light Rock Fishing, e gosta! O Garcia pertence à velha guarda, não usa brincos, não tem a pele toda cheia de tatuagens do estilo rascunhos de contas de multiplicar, noves fora, lembretes, coisas para comprar para o frigorífico, etc. E é pontual, não se atrasa nunca. Pessoa muito calma, dá sempre a ideia de ter sido atingido por um dardo tranquilizante. Para o manter calmo e sossegado na noite anterior a uma saída de pesca, em princípio basta apenas uma equipa de 12 elementos robustos, do Corpo de Intervenção e uma camisa-de-forças. O seu nome do meio não é Clark Kent, não usa collants azuis justinhos à perna, meias vermelhas e uma camisola azul com um S amarelo no peito, mas consegue voar. Ele consegue fazer tudo o que for preciso para ver os outros felizes. Agarra pela gola do casaco as velhotas que caem de edifícios, salva gatos que trepam às árvores e têm medo de descer e não hesita em atravessar pessoas inválidas nas passadeiras. E pesca. Tem um estilo estranho, mas pesca. A verdade é que os peixes aparecem na caixa dele. Num dia bom, com o material certo e com muita isca, pode acontecer terem de o tirar em braços do barco, porque esgota-se a fazer força. Tapa-se totalmente de peixe, faz pescarias de choupas de não conseguir sair lá de baixo. Pesca muito concentrado. Tenho a firme e sólida convicção de que o Garcia acredita piamente que 90% da pesca é concentração e os outros 62% são força física. Está sempre disponível, não é daqueles pescadores de dizer “Não vamos à pesca sábado porque joga o Sporting, e não vamos à pesca domingo porque é dia de missa”. Faz bricolages como ninguém. Algumas delas são de nos deixar o sobrolho franzido, mas no fim quase tudo funciona. O Garcia é a figura do irmão mais velho que todos nós gostaríamos de ter. Já é avô, e adivinham-se jornadas de avô/professor e neto/aluno de cair de costas. Brilham os olhos quando consegue um sargo grande, mas brilham ainda mais quando recorda os bailes da Sociedade Recreativa Incrível Almadense, onde se deixou anzolar pelo beiço por uma morenaça, hoje sua esposa. A sua paixão pela pesca só é suplantada pela paixão que dedica à luz da sua vida: a D. Odete. Ao fim de 44 anos de casados ainda é para ela o Gustavinho. O Gustavinho quando olha para a sua Odete, olha-a com os mesmos olhos das borboletas que giram à volta dos candeeiros. Quem não entende isto não entende a essência da vida. São coisas que vêm de tempos remotos, que evocam amores firmes, duradouros, e febres amorosas. Paixões e febres altas daquelas de derreter a fivela do cinto. 

Gustavo Garcia com um pargo de 5 kgs, pescado a bordo do GO Fishing III. A captura deste pargo foi integralmente filmada por uma equipa de reportagem do canal Caça& Pesca, de Madrid.

 
Como companheiro de pesca não acredito que possa haver melhor. Mas como todos, também tem os seus dias: peço desculpa mas hoje a ponta da caneta com que vos escrevo está impregnada de ácido sulfúrico, tenho de dizer a verdade: O Garcia, numa das nossas últimas saídas, e depois de eu lhe pedir para me fazer uma foto com um robalo bonito que pesquei com um jig de 12 gramas da Xesta, ...diz-me: “eu vou lavá-lo, só um momento”. Pegou no robalo, molhou-o dentro de água, …uma rabanada brusca e aí vai ele a nadar para o fundo. Fez-se um silêncio de catedral. Logo no dia em que eu fazia 36 anos de namoro e 1 ano de casado, e queria surpreender a minha Leninha. Eu pesco e ele deita fora. Nem o Jorge Jesus se lembraria de tal táctica. Com um amigo destes quem é que precisa de dois quilos de pedras preciosas?



A pesca, finalmente.

A ideia para esse dia era desenhar uma pescaria diferente. O tempo não estava nem bom nem mau, estava atomatado. O mar anormalmente calmo. A água lisa sugeria ser um dia bom para pescar com poppers, em lançamentos longos. O primeiro sinal de acalmia de Verão foi dado pelas tainhas: estavam à superfície, mas de barriga para cima, a bronzear o corpinho numa zona onde são muito branquinhas. As gaivotas à nossa volta davam conta da penugem, esperando languidamente a oferta de uma boga. Um ou outro peixe assomava à tona de água, fazia uma espira circular e voltava lentamente ao fundo. Chegámos ao pesqueiro. Demos com um barco ancorado não muito longe da nossa marca. Fizeram-nos má cara. Pelos vistos estavam à espera de uma dúzia de modelos loiras em lingerie curta, daquelas mocinhas da Victoria`s Secret. A sonda marcava algum peixe no fundo, sem ser nenhuma fartura. Mas havia algum a meia água, alvorado. Começaram a mover-se as rodas dentadas dentro do cérebro, a ideia começou a tomar forma e de repente, foi como se um starlight se acendesse na minha cabeça: comecei a ver claramente que a técnica a utilizar nesse dia teria de ser a de pescar com uma pena de gaivota, como bóia. Isto não é brilhante?! Sem ser eu, alguém se poderia lembrar de fazer isto? Sei que é por coisas destas que me consideram uma lenda viva da pesca, mas acho que há algum exagero vosso. 
O Tó-Zé começou a montar a cana. Normalmente ele acaba de pôr os anzóis um pouco antes de decidirmos voltar para terra. Nesse dia não seria diferente. Vinha de terra uma ligeira brisa, com um cheiro a carne grelhada. Eram as moçoilas novas que estavam na praia, esticadas ao comprido nas toalhas, a bronzear as coxas. São daquelas raparigas mamalhudas perigosas, as tais que deviam vir sempre equipadas com uma tatuagem de um frasco preto sobre fundo amarelo, com duas tíbias pretas cruzadas. Uma coisa do mais venenoso! Mais vale concentrarmo-nos na pesca.



O Garcia, pela enésima vez, ferrou um piço. Um peixe pequeno, diabético, com ar desnutrido e cansado.
_Se tirarmos mais 168 destes piços laranjinhas, se calhar temos de mudar de sítio…dizia ele. 
Sem paninhos quentes: aquilo estava mau, não picavam. Digamos que estavam um pouco mais difíceis de convencer a picar do que convencer a minha mulher a comprar uma mala numa loja da Prada. Os peixes completamente parados e eu sem ter uma ganza para fumar. Estávamos naquele Semi-tédio dos Prazeres…quando nisto, a ponteira da cana tremelicou. Se eu ainda não tenho Parkinson, teria de ser alguma coisa lá em baixo a sacudir a linha.  Ferrei com a habitual esperança de todos os clubes que equipam de verde, e aí vem peixe a debater-se. À superfície, …era uma margota. Haverá coisa pior na vida que ferrar uma margota?! Parece um peixe bom, faz força, cabeceia, e vai na volta, uma caliqueira. Continuámos por ali, a fazer tempo, a “enrolar a manta”, na esperança de que algo diferente desse à luz. O Tó-Zé continuava a esfregar o cabo da cana no fundo do barco, a bater com ela em tudo o que era sitio, a fazer um cagaçal tremendo. Já aconteceram deslocações de placas tectónicas com muito menos ruído e agitação. É horrível pescar com pessoas assim. Às tantas, diz-lhe o meu colega Garcia: “ não percas a concentração, mas vem aí a Policia Marítima”.
_ Não digas isso nem a brincar, que ficas com cancro na língua. 
Mas era mesmo a autoridade. Passámos mais meia hora a mostrar documentos, a balsa, os medicamentos, os extintores, as licenças, etc. Tudo em dia, mas mais tempo perdido para o Tó-Zé, que entretanto perdeu o que já estava feito. Retornou pois à dura tarefa de tentar montar a sua cana. Corria à ponteira, corria até ao cabo a desengatar do carreto, e não dava conta da linha. Ao fim de umas horas de empreitada, acabou finalmente o trabalho, e preparou-se para iniciar a sua pesca. Lançou e sentiu de imediato um toque. Ferrou com a alma toda, de alentejano duro, e a cana dobrou até ao cabo. Com os braços crispados e duros como quem lança à mão fardos de palha para cima de uma roulotte, a pele das mãos a saltar com o esforço titânico de segurar a cana, que por sinal era dele. Se fosse a minha, tinha-a largado para o fundo, mas sendo assim, redobrou forças, cerrou os dentes e aguentou firme. Ficou vermelho às bolas como quem tem um fortíssimo surto de sarampo, mas não largou a cana…dele. Babava-se e espumava, enquanto fazia a força toda que tinha nos braços. Entendi que seria provavelmente um bom momento para lhe dar uma injecção de moral, ao estilo de treinador de futebol a meio de um jogo decisivo: 
_Vai Tó-Zé, não desistas! Tu consegues! Se lutares, lutamos juntos!
Só podia ser um peixe cheio de força, encharcado em Viagra. E ele continuava a rodar a manivela e a dar fio ao bicho: 
_Conheci a minha Gertrudes num concurso de Miss T-Shirt molhada, no Alvito! 
E a linha a sair e ele todo animado. Infelizmente era o fundo. Ao primeiro lançamento, o Tó-Zé ficou arrochado. Começámos a ouvir um silvo agudo. Dos ouvidos dele saía um jacto de vapor com a mesma força de um pipo de panela de pressão. Deu um pouco de fio para conseguir lançar as mãos ao trançado, para partir o terminal de nylon. Nisto, por azar, agarrou uma cabeleira tremenda na linha. Puxou uma ponta da linha com força e enleou ainda mais. A partir daí nem um controlador aéreo da TAP conseguiria desenlear aquilo. Respirou fundo, recitou uns versos do Novo Evangelho, cortou tudo à facada e voltou a começar a fazer uma pesca nova. 

Um pequeno lírio, que se lançou sobre um jig Savage de 5 gramas. 


Infelizmente, estava quase na hora de virmos embora, já só faltavam quatro horas de pesca, e atendendo ao tempo que ela leva a montar a baixada, não conseguiu voltar a lançar. Pescaria finda, meti rumo ao pôr-do-sol, direito a Sesimbra. Um dia de pesca pouco memorável, sem peixe, mas mesmo assim, para os convencer a sair de lá tive de lhes encostar um pano com clorofórmio ao nariz. Mais calmos, cloroformizados e atordoados, e na viagem de regresso, o Garcia ainda tentava iscar casulo à luz de fósforos. À chegada ao porto, o Tó-Zé continuava a tentar passar o nylon pelos passadores da cana. Terá conseguido acabar a tarefa pela noite dentro, quando já tinha Beja à vista. Mesmo a chegar a casa, foi surpreendido com fogo-de-artifício. Os vizinhos corriam de braços no ar, em todas as direcções. Em conversa com a sua amada Gertrudes, afinal ficou a saber que ela, por descuido e sem saber como, a preparar o jantar dele, tinha conseguido rebentar duas botijas de gás na cozinha.


Vítor Ganchinho


 

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