Nem tudo aquilo que se faz em África tem a ver com pesca. Nem tem de ser assim.
O continente africano é um escola de vida e acreditem que se pode aprender imenso com aquelas pessoas. Desde logo, porque se trata de gente que não está pré-formatada por conceitos europeus de vida moderna, em que se assume que alguém pode sentar-se no mesmo banco de um comboio, sem dar uma palavra a quem está ao lado.
As relações pessoais na Europa restringem-se a mínimos que de há muito deixaram de ser aceitáveis.
Achamos que é moderno colocar uns auscultadores nas orelhas e fazer uma viagem ao lado de alguém a quem não vamos sequer dizer boa tarde. O mundo caminha para níveis de relações interpessoais inexistentes, mecanizadas, e isso é pouco menos que insustentável. Felizmente temos o interior de Portugal, felizmente temos África, onde as pessoas se cumprimentam, mesmo não se conhecendo.
Um “bom dia” é algo que custa muito pouco e é uma porta aberta ao diálogo.
A minha mulher, a conversar com crianças na praia de N`Gor, alguns km a norte de Dakar. No saco que tem na mão direita seguramente que tem comida, roupa, … |
Uma das coisas que fazemos sempre é ser portadores de medicamentos, de roupas, de brinquedos, que nos pesam nas malas à ida, mas que nos enchem o coração de alegria quando os distribuímos. Quando voltamos vimos sempre felizes por ter deixado amigos. Também o resultado das nossas pescas, ou caçadas sub-marinas, é partilhado por todos. Sabemos que, mesmo quando estamos numa aldeia de pessoas que vivem junto ao mar, e que vivem do mar, um peixe fresco pode sempre ajudar quem o não tem nesse dia. No Senegal, grane parte das pessoas vive dos recursos marinhos, e se uns pescam, outros fazem redes, outros reparam motores, outros carregam peixe, outros vendem peixe. Quando olham para as suas costas, têm no horizonte um país meio desértico, que não lhes dá muitas possibilidades de sobrevivência. O caminho é o mar.
Estas sardinhas estão à venda, numa banca. Provavelmente já estarão à venda há dois dias no mesmo sítio , à espera de comprador, ao sol. |
Saída da lagoa de Saloum, um porto de abrigo natural numa zona onde a ondulação é uma constante, e não dá muita protecção às pirogas. |
Passo-vos um filme feito com o meu telemóvel, para que fiquem com uma ideia do que é entrar nesta lagoa, com um barco a motor, contra a corrente, e com 30 cm de água. Vejam um motor que diariamente salta água, areia, pedras… e trabalha.
Espero que entendam o quanto é agreste a pesca naquelas condições. O motor de reserva, o pequeno que vêem na foto, não funciona, está ali só para fazer vista, e dar uma ideia de segurança. Mas há anos que não trabalha e está completamente calcinado….
Vítor Ganchinho