A técnica de jigging é extremamente produtiva no que a grandes exemplares diz respeito. Com os nossos jigs chegamos a peixes que não são fáceis para quem pesca vertical com isca orgânica.
Os grandes pargos, meros, peixe-galo, lírios, atuns sarrajões, por exemplo, não têm qualquer interesse nas usuais iscadas de navalha, ganso, ameijoa e mesmo troços de sardinha com que pesca o pessoal do “pica-pica”.
Esses peixes comem isca viva, e a base da sua alimentação são mesmo as cavalas, as sardinhas e os carapaus, …vivos.
Por isso, e porque os jigs reproduzem situações correntes de alimentação com dinamismo, que excitam o instinto predador, são atacados com muito mais facilidade.
Já aqui vos falei das minhas experiências de mergulho no meio de grupos de golfinhos a atacar isca viva. É um espectáculo surpreendente, de coordenação, de brutalidade, de instinto de caça, de saber fazer. Os golfinhos empurram os cardumes até a superfície, e estes, tentando defender-se, formam uma bola de peixe que se torna absurdamente fácil de capturar. O instinto dos pequenos peixes, ao verem os golfinhos aproximar-se é o de conseguirem entrar pelo cardume dentro, deixando os outros de fora. Mas alguns têm de ser “os de fora”, e quando a pancada chega, vai a todos, dentro e fora daquela massa impressionante de peixe. Digamos que bastaria aos cardumes adoptarem uma postura de fuga individualizada, rápida, cada peixe para seu lado, e seria quase impossível os golfinhos fazerem o estrago que efectivamente fazem. Não é compensador para um predador gastar energias perseguindo um pequeno peixe, apenas um, porque, como já vimos anteriormente, o que um golfinho capta de energia comendo esse peixe é inferior ao dispêndio de energia para o capturar. E na natureza isso não acontece, não faz sentido desperdiçar recursos. Mas os cardumes de comida não sabem tudo, e por isso cada peixinho tenta defender-se escondendo-se atrás de outros congéneres. E morrem por isso.
O cerco é feito pelo grupo, e à vez, cada golfinho ataca o cardume, normalmente com uma pancada seca da barbatana caudal. A seguir, é abrir as goelas e comer aqueles que ficam mortos ou feridos com gravidade.
O estrondo e a onda de choque correspondente são tão grandes que alguns dos peixes, mesmo não sendo directamente atingidos, acabam por sofrer, ficando atordoados. São engolidos a seguir, quer pelos golfinhos, quer pelos pássaros que picam sobre eles.
Ou, no caso de abundância de “estragos”, quando sobra peixe morto ou ferido, pelos pargos, que os esperam no fundo, ou a meia água.
É aí que nós entramos com os nossos jigs!
Aquilo que tentamos fazer com os nossos jigs é exactamente reproduzir, de forma artificial o resultado de um ataque de golfinhos, o qual sobreexcita os pargos que vagueiam pelo fundo, a caçar. Algo que cai em folha seca, descontrolado, é um alvo fácil, a abater.
A queda de um jig, com as suas vibrações e deslocação desordenada de água, provocam no predador um instinto de captura. Quando esse movimento é feito na vertical, tanto melhor. É aí que se obtêm os melhores resultados, e que a técnica melhor demonstra a sua eficácia.
Para isso é importante que determinadas condições estejam garantidas: pouca corrente, pouco vento, e água com alguma visibilidade. Estas são as condições ideais para a maior parte dos pescadores.
Eu já pesquei com jigs no Japão com menos de um metro de visibilidade, e fiz peixe. Mas é verdade que se trata de uma pesca feita apelando à vista do peixe, não há odores envolvidos e por isso a linha lateral apenas participa na detecção das vibrações emitidas pelo jig, logo, haver visibilidade é importante.
Para quem gosta de pescar sem corrente nenhuma, há um momento de maré perfeito para este tipo de pesca: o estofo da maré. Melhor se na maré cheia, porque tem muita água no pesqueiro.
Durante esse período, o mar movimenta-se pouco, fazendo apenas deslizar o barco, e permitindo pescar a pedra com tempo, devagar, prospectando declives, zonas onde os peixes se escondem e preparam a sua emboscada. Confesso que gosto mais de trabalhar com um pouco mais de dificuldade, uma ligeira corrente, que faz com que o peixe se movimente mais, que procure, mesmo que isso signifique menos conforto na pesca para mim. Nunca esqueçam: o peixe precisa de corrente para se alimentar, por mais inconveniente que isso nos seja a nós, pescadores.
Marés grandes, com grande coeficiente de altura entre a maré vazia e maré cheia, são difíceis de pescar, mas são as marés em que o peixe se torna mais activo. Da mesma forma que todas as costas norte, viradas ao vento e à corrente, serão sempre mais produtivas que as costas sul, abrigadas. Eles sabem do que precisam...
E a picada acontece. Cana Deep Liner Logical 55 #5, com carreto Daiwa Saltiga 35NHL-SJ, e um jig SPY V de 220 gramas, Deep Liner, um conjunto francamente bom. |
Para carretos de pesca mais ligeira, aconselho a compra de unidades com guia fios. É mais prático, as linhas são muito finas, e não vem mal ao mundo por termos o auxílio desse acessório. Quando se trata de carretos para trabalhar peixe grande, pesado, que pode fazer mossa no nosso equipamento, aí o guia fios é dispensável, já que adiciona um ponto frágil ao carreto. Um peixe de 50 ou 60 kgs quando arranca exerce um esforço muito grande sobre as peças mais frágeis do sistema. Ver abaixo como se faz nesse caso para ter a linha bem acomodada na bobine. Para quem “não liga” a este detalhe, não é raro ter o fio todo enrolado a meio da bobine, em bola, ficando as laterais sem fio. O que quer dizer que, caso esteja a pescar muito fundo, não será impossível chegar a um ponto em que não consegue enrolar mais linha, porque esta passa a bater na carcaça do carreto, e não cabe mais. Pequenos detalhes...
Quando temos peixe na linha, é elementar baixar de imediato a cana, retirando-lhe o ónus de ter de suportar as investidas do peixe. As canas de carbono são muito ligeiras, são excelentes para trabalhar os jigs, mas não podemos pedir a um produto que pesa 110 gramas que suporte o esforço de peixes que podem ir acima de 50 kgs. Se a colocarmos acima da linha horizontal, arriscamo-nos a que ...parta. O peixe trabalha-se nessa circunstância dando “menos cana”, ou seja, inclinando a ponteira para baixo, e deixando que seja o carreto a aguentar a pancada do peixe.
No caso de ser um peixe mesmo muito grande, forte, então aí é mesmo cana na vertical e é só o carreto a trabalhar o peso do peixe! O movimento passa a ser feito de baixo para cima, recuperando um pouco de altura e manivelando linha no carreto, dentro do possível. Os carretos de jigging têm embraiagem, e quando a tensão da linha for muita, …soltam linha. Para determinados tipos de peixes, nomeadamente os meros, peixes que procuram desesperadamente entrar para os seus buracos, …não há embraiagem. Ou sobe, …ou parte! Os primeiros metros são decisivos para saber quem ganha. Se o conseguirmos levantar o peixe alguns metros, é nosso.
Nesses casos, ter um chicote com cerca de 10 metros de linha de nylon de 1mm, ajuda. Desde logo porque aguenta melhor que o fio trançado a abrasão nas rochas, e porque não há o risco de a linha cortar no próprio peixe, que se debate.
À chegada à superfície já não há problema, o mero sobe sozinho e já não consegue descer. Quando se quer fazer captura e solta, há que furar a bexiga-natatória com um estilete, uma agulha. O ar sai e o peixe passa a conseguir descer.
Irá recuperar a energia e a sua vida normal muitos metros abaixo, em sossego. Outros não terão tanta sorte...
Mero de 18 kgs. Reparar na barriga inchada, com ar. |
Os melhores meses de pesca estão aí a chegar, o mar vai mexer e trazer novas oportunidades. Aproveitem.
Desejo-vos…linhas esticadas!
Vítor Ganchinho