As vantagens de viver numa ilha

Estive há umas semanas a pescar na ilha da Madeira, com dois amigos. Costumo ir pescar aos Açores, onde encontro excelentes condições para proporcionar à família uns dias de ar puro, boa comida e repouso. 
Fazer umas mini-férias de pesca é algo de muito agradável, desde logo porque o tempo de deslocação é muito reduzido, na circunstância cerca de 1.40h de voo, o que dá para ler o jornal do dia calmamente, dar dois dedos de conversa com o passageiro do lado, e já estamos a baixar para o aeroporto. Quando saímos para os Açores, a mesma coisa, ao fim de 2 horas já estamos a baixar o trem de aterragem. 
Os voos não são caros, sobretudo se forem comprados com muita antecedência. Fazê-lo em cima da hora pode multiplicar por dez o valor a pagar. As companhias de aviação estão falidas e sempre que têm uma oportunidade de nos meter a mão no bolso, não hesitam. Também o transporte dos tubos das canas é pago como se não houvesse amanhã. Dependendo dos destinos, chega a ser de 200 euros, o que já me tem levado a pensar se não valeria a pena comprar canas no local e deitar fora a seguir. Mas todos nós gostamos de pescar com os nossos equipamentos e por isso lá vamos contribuindo para que centenas de pessoas possam receber salários sem sair de casa. A gestão das companhias aéreas é um poço sem fundo de problemas, de desmotivação, e de dinheiro deitado fora. Nesta situação, o handicap é termos de escolher datas sem saber qual a previsão meteorológica para as datas escolhidas. É sempre um risco, mais ainda porque os ilhéus não são todos homens de mar, têm, porventura com alguma razão, muito medo do mar, e assumem que só saem com bom tempo. Para nós, a definição de bom tempo será algo abaixo de 2 metros de ondulação, para eles as coisas não se colocam nesse patamar, é muito abaixo disso. 
Mas já vi pior, nas Maldivas o meu barqueiro local recusou-se a ir pescar porque estava ondulação de... 50 cm. 

O potencial que as ilhas têm para fazer pesca ligeira é enorme, dado que temos todos os ingredientes para poder disfrutar de interessantes jornadas de pesca a partir da costa. Temos imensos pesqueiros, com acessos fáceis ou próximo disso, inúmeros cais, pontões, e portos. 
O Light Rock Fishing veio para se impor como uma técnica de futuro, pela ligeireza dos seus materiais, pela facilidade de transporte, e pela sua grande eficácia. Para além disso, é uma pesca que pode ser praticada em família, todos podem experimentar, e dado que a exigência de grandes exemplares nem se coloca, há sempre peixe disponível. É pescar pelo prazer de pescar, porque o que se faz a seguir é devolver os peixes á água, em boas condições. 
A quantidade de zonas de pesca com fundo significativo a partir da linha de costa possibilita, para quem sabe um pouquinho mais, a pesca de alguns peixes interessantes. Sem plataforma continental significativa, as nossas ilhas têm águas limpas, têm fundo, e têm peixe encostado a terra. 

O azul escuro e profundo das águas das ilhas é algo que fascina quem as visita. O contraste da pedra com a água azul escura é algo que nos dá alento e faz bem ao espírito.


Aquilo que se sente ao lançar pela primeira vez um mini jig, ou um vinil, é de que o estamos a fazer pela primeira vez naquele sítio, àqueles peixes, porque as suas reacções são de o engolir de imediato. 
As ilhas são isso: um paraíso para quem aparece a inovar, a experimentar técnicas novas. Acredito que há centenas de sítios onde nunca apareceu algo de diferente das artes de pesca à linha tradicionais, com isca. 
Contra essas, os peixes ganharam desconfiança e o equilíbrio de forças está perfeitamente definido. Mas para os vinis, ou para micro-jigs, …está tudo por fazer. Para quem vive numa ilha, isso são seguramente boas notícias. 

Existem milhares de pesqueiros com estas características: fundos, com peixe, e onde se pode andar pela costa até encontrar a zona mais favorável.


Sobre os peixes a capturar, na Madeira penso que neste momento está para acontecer algo de estranho: as douradas e robalos passaram a ser criados em cativeiro, para abastecer as grandes superficies do continente. 
Desde que encontrem condições de alimentação suficientes para que se consigam aguentar, vão muito rapidamente colonizar a costa. As fugas das cercas onde são criados estes peixes já cederam, os peixes já escaparam, e esse é o primeiro passo para o início de algo estranho. Não podemos sequer neste momento ter a noção do seu futuro impacto ecológico. Vamos ver. 
As bicudas, sphyraena viridensis, fazem o seu papel de predador de costa, e fazem o seu trabalho bem feito. São abundantes e os seus stocks não correm risco de desaparecimento. Também os pargos madeirenses existem em quantidade à volta da ilha, para quem os quiser tentar. 
Nos Açores, o lugar do robalo está ocupado pela anchova, predador costeiro que existe em abundância, e que se move bem em zonas de rompente, com muita espuma, tal como o nosso robalo gosta de fazer. 
Os lírios, pelágico que vem à costa para se alimentar, ocupam um lugar muito especial nas baixas afastadas da costa, onde atingem números e pesos impressionantes. 

José Pedro com um lírio, (seriola dumerili) com cerca de 8 a 9 kgs, feito com isca viva. 


Os stocks de peixe disponíveis nas ilhas têm muito a ver com a quantidade de comedia que encosta. Em anos em que há muita sardinha, ou cavala pequena, os pesqueiros ficam cheios de predadores, atuns, lírios, (quer a seriola dumerili, que a seriola rivoliana), anchovas, bicudas, etc. Mas quando não há isca, podem acontecer anos de alguma escassez. Fico alarmado quando vejo os grandes barcos atuneiros visitar as maternidades de peixe, as baías protegidas, e fazer lances de 5 toneladas de peixe miúdo, para lançarem em alto mar, aos grandes atuns. Quando se retira da costa a sardinha, mas também os minúsculos gorazes de 10 cm de comprimento, ..não os iremos ter com 4 kgs, anos mais tarde. 
Se fosse um barco, já era suficientemente mau fazer isso. Mas são muitas dezenas, e isso está a acabar com os criadouros de peixe que iriam crescer e ocupar os seus postos nos pesqueiros mais profundos. 
Em mergulhos que fiz em S. Miguel, tive oportunidade de ver o quanto é frágil este equilíbrio, e o quanto depende da razoabilidade das pessoas. O que preocupa. 

Uma pequena bicuda, que se lançou a um jig de 30 gr. A cana, uma Xesta Japan, modelo travel, pesa 85 gramas e permite o acondicionamento dentro de uma pasta de neopreno com pouco mais de 45 cm. Aqui utilizei um carreto mStella 4000 da Shimano, mas costumo aplicar carretos mais pequenos, o tamanho 2000 Clash da PENN faz o mesmo trabalho, e é mais ligeiro. O objectivo é aligeirar o mais possível o conjunto, para que as sensações produzidas por um pequeno peixe em luta sejam máximas.

Pormenor do assiste duplo da Daiwa, a cumprir o seu trabalho. Este peixe foi capturado com linha trançada 0.08mm, chicote de nylon 0.30mm e um jig de 30 gramas. De reparar que o alfinete de pequeno tamanho, da marca Smith, aguentou o esforço do peixe, sem abrir. A resistência destes minúsculos alfinetes é de tal ordem que já os utilizei no Senegal, a peixes bem maiores, com bons resultados. Concretamente resistem até….28kgs de força!! À venda na GO Fishing Portugal, em Almada. Este material é importado do Japão e é útil em situações em que se prevê mudar de amostra com muita frequência. É fiável, seguro, e muito prático. 


De resto é ir, é pescar, e disfrutar das condições ímpares que as nossas ilhas têm para nos acolher, e para nos brindar com alguns peixes que nos enchem as medidas. 
A simpatia das pessoas faz o resto, para que nos sintamos bem, … e em casa. 



Vítor Ganchinho



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