Os pepinos do mar

Há peixes e seres marinhos mais mediáticos que outros. Quando se volta da pesca, não são as fanecas que brilham na caixa de peixe, são os pargos grandes. As pescarias são melhores ou piores em função da quantidade de robalos, ou douradas. 
E é com esses que se fazem as fotos para a posteridade. Mas o mar não tem apenas robalos, douradas ou pargos. Nem só de “brilhos” se faz o nosso mar, tão rico não só em diferentes possibilidades de pesca, como de outros seres vivos que compõem o leque de habitantes do fundo do mar. Há muito mais e felizmente que sim, porque a biodiversidade é uma riqueza imensa que importa preservar. 

Sabemos que muito poucas pessoas se preocupam em saber se existe algo mais, se há equilíbrio entre as espécies, se os efectivos desta variedade de peixe estão a limitar os de outra que lhes serve de alimento. 
Por questões que se prendem com a referida biodiversidade, é sempre melhor que exista equilíbrio. Porque a ausência de uma espécie ou elemento implica a proliferação de outra. O ser humano é o principal responsável pelas assimetrias que se verificam.

Se pescamos os sargos com redes até à exaustão, é natural que o seu alimento mais comum prolifere. Os bancos de mexilhões cobrem as pedras ao fim de algum tempo. Se fazemos apanha massiva de ouriços, as estrelas-do-mar proliferam sobre os bancos de mexilhão. 
A natureza adapta-se consumindo aquilo que está disponível no momento. 
Os pepinos do mar são comuns entre nós, dado que não temos o hábito de os comer. Têm o nome científico de holothuria tubulosa, trata-se de um equinoderme, e é uma estranha criatura detritívora, ou seja, que se alimenta de detritos. Não é um vegetal, mas sim um animal que se desloca, que procura a sua alimentação em zonas planas do oceano. São parentes das estrelas-do-mar e dos ouriços, sendo de supor que existem há cerca de 540 milhões de anos. Habitam desde águas superficiais até grandes profundidades, onde podem ser a espécie predominante. 
Existem mais de 1700 espécies diferentes, sendo o seu tamanho tão díspar quanto isto: podem ter de 1 cm até 5 metros! Atingem a idade de reprodução pelos 5 a 8 anos, o que indica estarmos perante um animal de crescimento lento. 
Para um animal tão sedentário e lento, seria natural que existissem predadores especializados. Aquilo que os torna menos “interessantes” é o facto de serem possuidores de toxinas fortes que afastam eventuais pretendentes. Conseguem lançar filamentos bastante adesivos, pegajosos, os tubos de Cuvier, os quais, sendo altamente tóxicos, não convidam de todo a grandes refeições. Fazem no entanto algo mais, a exemplo das suas congéneres estrelas-do mar, que nos impressiona particularmente: ejectam as suas vísceras, deixando-as à disposição de um eventual predador, conseguindo posteriormente regenerar o seu corpo na totalidade. Pese embora sejam tóxicos, como acima referimos, são particularmente apreciados na cozinha oriental, onde atingem preços astronómicos e são considerados uma iguaria. 
Como um mal nunca vem só, este pachorrento equinoderme é ainda utilizado pela medicina tradicional chinesa, para tratamento de fadiga, dores nas articulações, impotência, etc, à conta dos carbo-hidratos, e dos elevados níveis de sulfato de condroitina, um elemento presente nas cartilagens. Os seus compostos são ainda utilizados pelos orientais como anti-inflamatório natural. 









Ficam a conhecer mais um habitante das nossas águas, que existe em grande quantidade, por nos ser indiferente. Mas é bom saber que existem, que estão lá para se ocuparem de limpar os detritos acumulados no fundo do mar. Alguém tem de fazer o trabalho sujo.



Vítor Ganchinho



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