Os robalos aguentam?

Continuamos a ter robalos, e até agora não tivemos de proceder a quaisquer restrições na sua captura que excedam o peso máximo permitido por lei, 10 kgs, exceptuando o maior exemplar, respeitando ainda o tamanho mínimo legal de 36 cm. 
Não é líquido que este tamanho seja suficiente para garantir que o peixe já desovou pelo menos uma vez, mas manda quem pode. A meu ver, seria de aumentar este tamanho, para garantir que os reprodutores seriam capazes de deixar descendência garantida. 

A maior parte das pessoas faz pesca dirigida a peixes do topo da cadeia alimentar, onde se incluem os robalos, e isso, sendo entendível, pode causar assimetrias que mais tarde se irão pagar caro. 
Vejam o caso de um país com uma costa enorme como a França: estão limitados a 2 robalos / dia. E por toda a Europa, surgem imposições que visam limitar a captura deste peixe, que está em acentuado declínio. 
Entre nós ainda os temos, e por isso seria importante sabermos preservar o que de bom existe na nossa costa atlântica. 

O robalo, um dos melhores peixes do mundo para pescar, e também para comer. Assim os consigamos proteger, livrando-os de uma extinção que se avizinha.


Como fizeram os franceses para permitir a recuperação dos efectivos? Criaram uma obrigatoriedade de limitação de capturas, e curiosamente, e atendendo aos censos de população que registaram, delimitaram zonas mais ou menos restritivas. 
O famoso paralelo 48N é a marca tomada como referência. Socorro-me de informação enviada de França por um amigo para vos explicar o sistema: 

Com base nas quotas de peixe existente, estimaram o número de robalos que poderiam extrair anualmente, sem que isso viesse a causar problemas de reprodução e sustentabilidade da espécie. Designam por RDM essa quantidade estimada. Esse valor teórico é avaliado pelos cientistas, sendo um indicador decisivo na concessão de licenças de pesca profissional e número de peixes a serem capturados por pescador lúdico. Para a frota pesqueira foram afixados limites de captura rígidos, emanados da sede da União Europeia. Em 2020, para Espanha e França, foram concedidas licenças para a captura de 2533 toneladas, sendo 2118 toneladas destinadas aos profissionais. O que deixa 415 toneladas para a pesca lúdica. 
Estima-se que neste momento, se estejam a pescar peixes abaixo da quota de RMD possível, o que são boas noticias. Isso permite alguma folga na recuperação de efectivos destes peixes. 

Pequeno robalo a patrulhar um campo de caça.


Mas os franceses foram mais longe: estão a analisar a capacidade de reprodução de uma forma pluri-anual, a taxa de sobrevivência de peixes juvenis, e a ajustar a quantidade de capturas a esse factor. 
Enquanto não melhoram os stocks reais de robalos disponíveis, França adoptou um criativo método de preservação deste interessante peixe: o paralelo 48 define a linha que separa a possibilidade de capturar e guardar o peixe, ou proceder à sua solta em boas condições de sobrevivência. 
Sobre um mapa costeiro, criaram duas zonas distintas, em que a norte, zona verde no mapa abaixo, de 1 de Janeiro até 29 de Fevereiro, e de 1 de Dezembro a 31 de Dezembro, apenas é permitida a pesca sem morte, ou seja, a pesca com libertação do peixe. Na mesma zona, de 1 de Março a 30 de Novembro, a pesca com captura é permitida na quantidade de 2 robalos /dia, por pescador.
Na zona violeta, durante todo o ano é permitida a captura de 2 robalos /dia, por pescador.

As cores verdes e violeta referem-se ao famoso paralelo 48.


Espero que tenham achado interessante saber destes detalhes, porque muito provavelmente, e se continuarmos a pescar peixes juvenis, abaixo de 36 cm, em breve iremos ter estas limitações entre nós. Está nas nossas mãos.



Vítor Ganchinho



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