Estamos saturados de confinamentos, de COVID, de termos de ficar em casa sem poder ver a luz do dia.
Há bichinhos que vivem a sua vida inteira confinados a escuras furnas, e que não saem, nem podem sair, a espaços abertos.
Se é verdade que abróteas, fanecas e safios dão um saltinho cá fora, (embora tenham actividade sobretudo nocturna, sabemos que mordem nos nossos anzóis durante o dia), outros nem isso, e por diversas razões. A questão segurança será um dos motivos fortes. Tenho a certeza que um camarão terá poucas possibilidades de sobrevivência se arriscar a pele a passear numa pedra de sargos.
Como é viver em frestas e grutas escuras? O tema de hoje enquadra-se na situação e pandemia que vivemos e mais não é do que a prova de que aquilo que para nós é uma situação insuportável, que nos rouba anos de existência, é a situação ideal para outros seres que desse “confinamento” fazem o seu modo de vida.
Isto é aquilo que alguns animais podem ver, durante o dia. Poucas vezes terão oportunidade de sair. |
Quanto mais amplas e espaçosas, menos protecção individual oferecem. Nesta furna, qualquer peixe pode entrar e comer os habitantes do seu interior. |
Aqui os veem, encostados a uma navalheira, também ela dependente dos restos que o safio possa trazer das suas deambulações pelas redondezas. |
Os safios sacodem as presas para as partir, e isso lança sobre as paredes muitas partículas de pele e carne do peixe capturado. Para um pequeno camarão é mais que suficiente. Conheço uma gruta na ilha do Pico em que a quantidade de camarões vermelhos é tão elevada que ao ligarmos uma lanterna, ficamos ofuscados e deixamos de ver. O brilho emitido pelos olhos de milhões de camarões não nos deixa ver um palmo. É uma gruta que costuma ter meros, abróteas e safios de grande porte.
O meu amigo Tiago, caçador entretanto infelizmente falecido num acidente de caça…, arpoou lá um mero de 25 kgs.
Os olhos das navalheiras brilham na noite. |
Alguns peixes encontram nas grutas um espaço de protecção que não encontram cá fora. As saídas são curtas, e apenas para encontrar comida, voltando de novo à segurança do escuro.
As cores das esponjas que cobrem as paredes e os tectos destes buracos podem ser deslumbrantes. |
Quando utilizamos uma lanterna, os vermelhos ficam vivos e tudo ganha cor. |
Sem a nossa luz artificial, todo este local é um buraco escuro, sem recortes, sem brilho. A única luz que entra é mesmo a luz do sol, e dificilmente chega ao fundo da maior parte destas grutas. |
Amanhã vamos falar de grutas marinhas a sério.
Vítor Ganchinho