Eles transformaram as suas barbatanas peitorais em “patinhas” para andar pelo fundo...
Os “Chelidonichthys lucerna” são de tal forma estranhos que valem bem uma página no blog. Vamos aprender coisas sobre eles!...
As suas barbatanas peitorais particularmente desenvolvidas chamam a atenção, e não apenas pelo tamanho descabido, mas também pela sua cor vermelho/ azul forte / violeta.
Destas longas e largas barbatanas utiliza os três últimos raios peitorais livres como órgãos locomotores, como se fossem dedos de mãos que o empurram no seu caminho. Mas serão ainda mais preciosos como sensores que o ajudam a detectar presas enterradas na areia. É mesmo aqui, em fundos móveis de areia que podemos pescar com mais facilidade este peixe de corpo cónico, com o ventre branco e dorso vermelho.
Posso dizer-vos onde cacei, ao mergulho, o meu primeiro cabaço: na pedra que sai no alinhamento do molhe de Sesimbra, a cerca de 12 metros de profundidade. Teria cerca de 2 kgs.
Temo-los até aos 75cm, com cerca de 6 kgs de peso para 15 anos de idade, e estão presentes em fundos de rocha, areia e lodo, dos 3 metros aos 300 metros.
Dirigem-se aos estuários para desovar, e aí, por estranho que pareça, é perfeitamente possível encontrá-los a menos de 4 metros de água.
Quando os tentamos desferrar, emitem sons que não deixam de ser estranhos. Resultam de rápidas vibrações da sua bexiga natatória, a qual pode vibrar de 517 a 1160 vezes por segundo.
Reproduzem de Maio a Julho, e alimentam-se de crustáceos, moluscos, pequenos cefalópodes e peixes. Por isso os pescamos indistintamente com navalha, sardinha, cavala, lula, anelídeos, etc. Não são difíceis de ferrar, e a sua abundância em fundos a partir dos 100 metros é significativa. Conheço zonas onde o mais raro é que não apareçam. Os barcos profissionais capturam-nos nos sacos de arrasto, sendo um peixe com boa cotação nos mercados de peixe.
Consoante a sub-espécie, assim os conhecemos como cabaços, ruivos, cabras, …..todos são diferentes, mas o princípio básico mantém-se: um peixe bonito e ao mesmo tempo estranho.
Captura feita por um japonês de nome Shintaroh Tsutsumi, a bordo do barco GO Fishing III, num sítio pouco expectável: Pedra do Garçone, ao largo de Sesimbra, a 350 metros de profundidade.
Um pouco abaixo daquilo que os registos oficiais consideram como sendo o seu limite de acção. Também a amostra será tudo menos convencional: um jig Deep Liner de 500 gramas!....
Quando abertas, estas barbatanas assemelham-se a asas coloridas. Dão-lhe indiscutivelmente um ar de planador. |
Este foi pescado com um jig ligeiro, pelo Raul Gil Durá, em Valência. Recordo-me de uma visita que ele e o seu inseparável amigo António Pradillo me fizeram, para virem pescar comigo. Enquanto eu metia o barco na água, lançaram do pontão do Clube Naval de Setúbal, e ferraram um ruivo (!!), com um jig de …5 gramas da Savage.
Algumas sub-espécies apresentam placas ósseas bem desenvolvidas, o que lhes dá um aspecto meio pré-histórico.
Presumo que as utilizam para desenterrar as presas que procuram na areia.
Esta captura foi feita com isco orgânico, a cerca de 130 metros de fundo, pelo amigo Luís Nascimento.
Este peixe foi capturado pelo meu amigo Gustavo Garcia a menos de 3 metros de profundidade, à saída do rio Sado. Utilizou um equipamento de LRF e um vinil como amostra. |
Temo-los com relativa abundância na baía de Sesimbra / Sines, embora nem sempre com tamanhos muito significativos.
Os ruivos são peixes de carne muito branca, e pode ser feito cozido, grelhado, ou no forno. Para quem nunca experimentou, …vale a pena.
Vítor Ganchinho