A resistência ao nó nas linhas fluorocarbono (e mais alguns detalhes…)

Ao pescar vertical, a maior parte dos pescadores portugueses utilizam fio de nylon, quer nas baixadas quer nos estralhos.
Também o fazem os pescadores de spinning, quer nos seus ditos “chicotes”, (ou leaders), quer na própria linha de carreto. A razão é de índole económica, mais que qualquer outra. Compram o que é mais barato.
Não é entendível que o façam por falta de informação, a quantidade e qualidade de informação técnica existente deveria obviar a qualquer equívoco.
Outros, apenas aplicam fluorocarbono por razões que se prendem com a invisibilidade publicitada para este tipo de linhas. É curto. No sentido de ajudar a clarificar, aqui vai a minha opinião.


Aspecto geral do meu compartimento de linhas, em minha casa. Guardo todos os meus fios num espaço escuro, para que não se deteriorem com os UV`s.


Se o propósito é apenas o de tornar as linhas invisíveis, pois poupem o seu dinheiro. Os nossos atlânticos peixes não estão ainda, felizmente, ao nível dos desconfiados peixes mediterrânicos, nem perto disso.
Pese embora o aspecto cristalino que encontramos no fluorocarbono, a diferença entre pescar com este ou um nylon não é tanta que nos faça trazer uma caixa cheia ou vazia de peixe, consoante a opção.
Mas há vantagens para os fluorocarbonos que vão muito para além disso. Destacamos à partida a importante e extrema resistência à abrasão, e ao nó.
O ponto mais fraco das ligações que fazemos são precisamente as uniões. Quantos peixes já foram embora por roturas de linha precisamente na zona dos nós…
Sabemos que a pressão exercida sobre a linha no seu sentido longitudinal é suficientemente bem absorvida. Contamos com alguma elasticidade da linha, (mesmo que reduzida no caso do fluorocarbono), contamos com a embraiagem dos nossos carretos, e ainda com o tempo que nos é dado pelas nossas canas, que podem ter acções mais ou menos parabólicas. Tudo nos ajuda a nós e tudo joga contra os peixes. Normalmente, e desde que tenhamos um mínimo de noção de como trabalhar com o equipamento, estamos a salvo de roturas de linha. Desde que não se ultrapasse a resistência pré-definida e que tem a ver com a secção e a qualidade intrínseca do produto, não vem nada de mal ao mundo. Não podemos pretender que uma linha fina reboque um barco, mas no geral, podemos considerar satisfatórios os resultados que conseguimos.

Mas há um factor que frequentemente é desprezado, e que nos deixa de cana na mão, a ver o peixe ir embora: a resistência ao nó. Quando falamos de nylon, é fácil partir a linha, basta fazer um nó e dar um esticão seco nesse ponto. Parte sempre.
Nos bons fluorocarbonos já não é bem assim. Podemos ter valores de carga de rotura muito próximos dos 70% da resistência linear mencionada nas bobines, o que já nos dá algum conforto. Ainda assim, há que saber com o que podemos contar.
Ou seja, teremos de entender que a informação dada pelo fabricante apenas nos informa que a sua linha rompe aos x kgs, ( resistência linear) mas essa não é a carga máxima suportada.
Há que descontar a fragilidade aportada pelo nó, que irá reduzir em cerca de 30%, ou mais, esse valor.

Este quadro seguinte é muito importante! Vejam os cálculos feitos por um fabricante de linhas, que mostra o quanto o seu produto perde nas zonas em que fazemos nós:

A legenda parece-me simples, mas ainda assim dou uma ajuda: temos na primeira coluna o # relativo à identificação do fio. Não o utilizamos na Europa, excepto para trançados, pelo que passamos à frente.


Coluna 2: Diametro da linha.

Coluna 3: Máxima resistência da linha em kgs

Coluna 4: Máxima resistência da linha ao efectuarmos nós.




Como podem observar, há uma redução significativa da resistência, mais de 30%, e que advém do facto de o nó ser em si um ponto de rotura, de fragilidade.
Daí a minha opção por perder mais algum tempo a elaborar correctamente os nós e escolher apenas aqueles que melhor garantem a solidez da baixada.
Se tenho amigos que basicamente fazem nós cegos, e até alguns que no fim de uma resma de nós “ao calhas…” ainda recorrem à chama do cigarro para queimar as pontas, (sim…!!), outros há que entendem o nó como uma ciência, e que retiram verdadeiro prazer na sua execução perfeita.
A complexidade de um nó não tem muito a ver com a sua eficácia. Um bom exemplo disso é o nós “Palomar”, que é tão simples que custa a crer que possa inclusivé ser utilizado em Big Game.
Outras técnicas, e especialmente quando aplicadas em trançados, como o nó FR, ou o nó FG, pura e simplesmente dispensam os nós como normalmente os entendemos.
Mas queria que ficassem com este dado: quando nos preocupamos com questões relativas à resistência ao nó, é o fluorocarbono que ganha. Não ganha é em tudo!

O nylon ganha em resistência linear.
Vamos ver um quadro comparativo de algumas das secções mais utilizadas pelos nossos pescadores, sendo que a escolha não recaiu sobre as melhores linhas, por exemplo Varivas, mas sim sobre um produto médio, aquele que terá mais possibilidades de vir a ser adquirido pela esmagadora maioria dos compradores nacionais. Comparemos pois as resistências lineares:


                 Fluorocarbono ---------------------------------------- Nylon

0.35mm—7.5 kgs-----------------------------------------------------9.2 kgs

0.40mm—9.8 kgs-----------------------------------------------------11 kgs

0.45mm—11.3 kgs---------------------------------------------------15 kgs

0.50mm—16.2 kgs---------------------------------------------------18 kgs

0.60mm—21.6 kgs---------------------------------------------------27 kgs

0.70mm—27.8 kgs---------------------------------------------------31 kgs


Vejamos duas possibilidades de fios de monofilamento nylon com características diferentes, preços diferentes, metragens diferentes:




Esta linha japonesa tem um valor de venda de 5.10€, alguma elasticidade, e para um diâmetro de 0.45mm, uma resistência linear testada de 20.40 kgs. A elasticidade não nos ajuda quando pescamos fundo e queremos fazer uma ferragem forte. Temos não só de lutar contra a distância a que estamos a querer cravar um anzol na boca de um peixe, por vezes próximo dos 80/ 100 metros, …como ainda o desagradável efeito de elástico, que amortece o esticão vertical que imprimimos à nossa cana. Peixe mal ferrado tem mais possibilidades de se soltar no trajecto fundo/superfície. Ainda é mais importante contar com linha rígida quando pescamos com amostras, em que apenas temos um toque, e por isso mesmo, uma oportunidade.
O que não fizermos ao primeiro contacto, não vamos poder corrigir a seguir, e é menos um robalo que entra. Mas este efeito pode ser resolvido com um outro tipo de nylon, conforme segue:




Nesta versão Varivas, para um diâmetro de 0.47mm, é referida uma resistência linear de 15 kgs, e é vendido a 12.69€.
Trata-se de uma linha japonesa pouco elástica, que é reconhecida pela IGFA e permite estabelecer recordes oficiais de capturas. A resistência linear até é menor, mas ao fim do dia temos mais alguns peixes na caixa, porque os ferrámos melhor. Quando fazemos spinning, esta é em definitivo a melhor opção, na categoria de Nylons.

Mas voltemos à comparação do fluorocarbono com o nylon, sob um outro aspecto que nos empurra decididamente para os fluorocarbonos: a sua superior resistência à abrasão, ao desgaste provocado pelo roçar na pedra, quando o peixe arranca pelo fundo.
Aqui, a diferença é enorme. O nylon é mais macio, e rompe mais facilmente ao contacto com a superfície áspera da rocha.

Vejamos agora algumas possibilidades de fluorocarbonos de qualidade, e que níveis de resistência apresentam:



Esta linha fluorocarbono de diâmetro 0.47mm, com um preço de venda de 13.39€ é comercializada em bobines de 30 mts. Trata-se de um produto premium, que deve ser utilizado parcimoniosamente, em situações especiais, quando a qualidade da linha tem de ser mesmo boa. Esta versão de linha tem como particularidade o facto de transmitir muita sensibilidade, pois não alonga praticamente nada quando sujeita ao choque de um ataque de um robalo a uma amostra, por exemplo.
Isso torna-a indicada para spinning, mas também para pescas a alguma profundidade, nomeadamente o jigging. Basicamente pretende-se uma linha que não estica, que sendo invisível, é o prolongamento do nosso trançado, em termos de rigidez.
O amortecimento, se e quando necessário, é feito pela cana e pela embraiagem do carreto.




Esta linha Hard Top T1 da Varivas é um portento de tecnologia. Não é barata, (15.50€ por bobine de 30 mts), nem o poderia ser. Para além de um fluorocarbono de excelência, o fabricante adicionou uma fina cobertura de titânio, a qual, se não torna a linha rígida demais, é suficientemente flexível e adequada ao tipo de pesca que fazemos. Esta cobertura dá-lhe no entanto uma resistência acrescida à abrasão. Particularmente indicada para baixadas quando pescamos à chumbadinha, em que a bala de chumbo corre sobre a linha, ou na execução de estralhos para pescar próximo da rocha. Em locais onde sabemos da existência de pedra dura, com arestas vivas, é definitivamente o produto a utilizar.

Reparem como a linha é fornecida de fábrica: com uma banda elástica aderente, que a protege dos raios ultra-violeta.
Os fluorocarbonos devem ser protegidos da exposição solar, pois tornam-se quebradiços. Os distribuidores especializados dedicam uma especial atenção a este pormenor, já que pode influenciar a qualidade da linha adquirida por um pescador que acredita que ao escolher o produto está a comprar algo imperecível, e que terá sido armazenado em perfeitas condições, no escuro.
Nem sempre é assim e por isso há que levar em conta a possibilidade que o estabelecimento tem de escoar os seus stocks expostos de forma rápida. A GO Fishing Portugal vende semanalmente algumas dezenas de bobines de cada diâmetro, o que a liberta do problema de exposição demorada aos UV.



Mas a Varivas não se fica por aqui, eles fabricam produtos muito especializados, com fins muito específicos e que dão resposta às nossas necessidades.
A Hard Top é outra dessas linhas, com um valor de 8.90€.




Eu utilizo para fazer estralhos, quando pesco vertical. Uma bobine de 30 metros dá-me para muitos meses de pesca, faço os empates com 30 a 40 cm de comprimento.
A secção de 0.37mm já dá muita segurança, existindo outras mais baixas, 0.23, 0.26, 0.28 e 0.33mm. Nos meus chicotes de LRF, utilizo-as frequentemente.

Espero que este texto tenha sido útil e que ajude quando chegar o momento de decidir sobre o tipo de linha a escolher para cada situação concreta de pesca.

Este é um tema interminável, pelo que obviamente voltarei a ele. Em caso de dúvidas ou de pretenderem colocar questões, agradeço que o façam aqui no blog.



Vítor Ganchinho



3 Comentários

  1. Nunca vi esta marca de linhas á venda,em Lisboa onde poderei encontrar? Parabéns pelo seu texto,venham mais.obrigado.

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    1. Bom dia Vitor Dang Trata-se de material topo de gama, de qualidade acrescida. Pode encontrar estes produtos na loja GO Fishing Portugal, em Almada.
      Faça uma visita e vai ver que tem lá muitas coisas que são exclusivos desta loja, que importa directamente do Japão, sem intermediários, e que por isso consegue fazer preços baixos para produtos que normalmente são caros. Vale a pena a visita.


      Abraço
      Vitor

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    2. Também pode receber os produtos em sua casa, se encomendar pela loja on-line: https://store.gofishing.pt/pt/

      Mas nada melhor que ir ver aquilo que existe de novo no Japão. O que é novo e tem qualidade, ..está lá.

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