Vamos tê-las aqui, dentro de algumas semanas.
Nos últimos anos, temos sido regularmente visitados pelos atuns. A quantidade de comida que encosta aos nossos baixios leva-os a entrar na baía de Sesimbra, Setúbal, Sines.
Para estes viajantes do azul, a nossa costa deve parecer-lhes um gigantesco supermercado, de prateleiras repletas.
São gigantescos cardumes de cavala, “Scomber colias”, de sarda, “Scomber scombrus”, é o carapau, que nos aparece muitas vezes misturado, o “Trachurus trachurus”, ou o “trachurus picturatus”, se quiserem e respectivamente, o carapau manteiga, típico da região de Setúbal, e o carapau negrão, de muito menor qualidade.
Também aqui temos a sardinha, “Sardina pilchardus”, a tainha, um mugilídeo que é muito comum nas nossas águas, sob diversas subespécies, etc.
O que não falta é comida, e é isso que atrai os grandes atuns, que aqui ficam a alimentar-se durante semanas. E quem é que gosta de comer atum?...as orcas.
Vai ser esse o tema de hoje, a pedido do meu amigo António Duarte, que me falou nesta possibilidade. Pois seja, aí vai aquilo que sei sobre estes mastodontes dos mares.
Este superpredador come de quase tudo, desde peixes a moluscos (!), de aves a focas, de tartarugas a baleias. Os golfinhos fazem parte da dieta, e por isso, durante semanas, os nossos roazes não ousam sair do rio.
Tenho um dente de orca em minha casa, oferecido por um amigo açoriano. O tamanho não deixa de ser impressionante! E mais impressionante é saber que os sabem usar para matar animais que são muito mais fortes do que nós.
Uma orca pode chegar a pesar 9 toneladas. Quando vejo pessoas a filmar orcas a sul de Sesimbra, encostadas a barcos frágeis, lentos, pergunto-me se terão bem a noção do risco que correm ao colocar-se à mão de um predador deste tipo.
As orcas não são exactamente golfinhos roazes. O nome orca advém do romano “Orcus”, leia-se “inferno”, ou “deus da morte”. A complexidade da sua vida social é tremenda. Deslocam-se em agrupamentos familiares, em que a matriarca é quem define o rumo a seguir. Os elefantes fazem o mesmo, deixam a quem tem mais experiência a tomada de decisão sobre o rumo a tomar. Muito especialmente nos momentos difíceis.
A fêmea mais velha conduz o seu grupo em migrações de rotina, através dos anos. É um animal que pode viver até aos 90 anos, pelo que é muito possível que ano após ano se avistem os mesmos grupos, nos mesmos locais. Se por vezes se detecta um animal isolado, isso acontece por breves horas, com o fim de encontrar alimentação, ou mesmo proceder ao acto de acasalamento com outro membro de outro clã. Mas, através dos seus silvos estridentes, conseguem localizar os demais e voltar ao seio do grupo de origem. Eu tenho visto na nossa zona orcas em grupos de 4 a 5 animais, mas segundo as estatísticas aquilo que é corrente é que estas linhas matriarcais sejam constituídas por nove elementos. Nunca vi tantas orcas, juntas. Há registos de um agrupamento com 49 membros. Vários clãs podem partilhar um espaço, por alguma razão ocasional, ou por razões de auxílio mútuo no acto de caça, ( caçar baleias exige esforço conjunto), ou por viajarem com o mesmo destino. São comuns em grupos numerosos, e no nordeste do Pacífico foram detectados agrupamentos de até 214 orcas.
Separemos as orcas residentes, ou sedentárias, que pertencem a uma zona e aí encontram alimento todo o ano, das orcas nómadas, grupos mais pequenos, que caçam no azul animais de maior porte.
De tudo aquilo que li sobre estes fantásticos animais, retenho a grande complexidade dos seus agrupamentos familiares, a existência de dialectos sonoros próprios de cada grupo, e uma tendência para padronizar o seu comportamento de acordo com as directrizes da matriarca.
Assim, o quotidiano destes grupos, assenta em quatro tipos de actividades básicas: Caça, deslocação de um local para outro, descanso e socialização entre os membros do grupo.
Tive a sorte de as encontrar diversas vezes, e em todos estes estados de actividade. Recordo-me de as ter visto pela primeira vez um pouco a sul da Comporta, tendo na altura dito ao meu colega de pesca: “ vi uma orca”. Ele olhou para mim e riu-se, seguro de que eu estava a delirar.
Na semana seguinte, duas orcas passaram a algumas centenas de metros e eu voltei a referir que as orcas andavam por ali. Ninguém acreditou. Recordo-me de um deles me ter dito que eram golfinhos. Eu vejo golfinhos há anos suficientes para saber se são golfinhos. A barbatana dorsal de uma orca pode atingir uma altura de 1,80 mts. É um animal que no seu estado adulto, e tratando-se de um macho, pode atingir quase 10 metros de comprimento. Para as fêmeas cerca de 8.5 metros e 7500 quilos de peso. Não é um golfinho roaz. As orcas, só ao nascer poderão ser confundidas: 2.40 metros para cerca de 180 kgs de peso. Passados uns dias, e estando eu a bordo do GO Fishing III, parei o barco e filmei um grupo de quatro animais. Nesse dia, e porque elas estiveram a menos de 50 cm do barco, com água muito limpa, todos acreditaram que eu tinha visto as orcas, semanas antes.
Foi de tal forma incrível que tivemos o privilégio de as ter a nosso lado cerca de 15 minutos, a saltar, a bater as caudas, a exibir este comportamento de socialização entre elas, dando-nos a possibilidade de registar em filme alguns desses momentos. Vejam o vídeo:
Não se sabe se este tipo de atitude pode ser considerado hostil, no sentido de pretenderem afastar-nos da sua zona de caça, ou se há algo mais. Nitidamente aquilo que senti na altura é que estávamos perante um acto de exibição de força, de demonstração de capacidade de domínio.
Os cientistas separam claramente estes animais em orcas residentes, em orcas temporárias, em orcas off-shore. Em termos de pigmentação do corpo, registam-se 4 tipos distintos. A cada um destes grupos corresponde um tipo de alimentação especifico, e até um tipo de coloração do corpo e formato de barbatana típico. Não vamos tornar o texto extenso em demasia, mas queria apenas referir-vos que há famílias a alimentarem-se de peixe e lulas, outras de mamíferos marinhos, focas, leões marinhos, ( e não comem nunca peixe), e outras que atacam tubarões, baleias cinzentas ou outras, a quem preferencialmente fazem predação dos filhotes.
Penso que as que conseguimos ver nas nossas águas se enquadram nas que se alimentam de cardumes de peixe e se possível dos grandes atuns que nos visitam em Julho e Agosto. Também a barbatana dorsal destas orcas é ligeiramente diferente, mais arredondada, e o seu tamanho um pouco mais reduzido.
Porque estão disseminadas por todo o globo, é natural que os cientistas de determinados locais possam aprofundar conhecimentos que outros não terão possibilidade de obter. Em Portugal, começamos a ter uma rotina de visitas que pode vir a permitir esse estudo, de momento muito centrado naquilo que é o comportamento destes animais no Pacífico. Também na costa argentina foram descobertas técnicas de caça à focas e leões marinhos que obrigam o animal a arrojar à praia, ficando literalmente a seco. Trata-se de um encalhe intencional. As mães orcas ensinam os filhos a fazer, e isso é importante já que numa idade precoce, o facto de ficarem encalhados pode significar a morte na areia. Já o vi na televisão e acho assombroso tanto o acto em si como a possibilidade de ser filmado em vídeo. Também no mar, as progenitoras ensinam as suas crias a caçar as focas. A inteligência das orcas leva-as a isolar e matar os juvenis destes mamíferos, mais fáceis de capturar e com menor risco para a sua integridade física.
Passo-vos abaixo um filme em que é possível ver uma imensidão de estratégias de caça. Salta-me à vista o facto de as orcas conseguirem provocar, propositadamente, uma ondulação muito forte, de forma a fazer cair as focas dos blocos de gelo em que se encontram, para as comerem a seguir. São mamíferos inteligentes, não são…peixes.
Quando penso nas imagens de portugueses a conduzir os seus semirrígidos ao lado e por cima de orcas, sem qualquer tipo de cuidado, parece-me que estamos a arriscar um pouco a pele.
Sobre a população global de orcas há muito poucos dados, todavia é estimado que possam existir entre 70.000 a 80.000 na Antártida, 8.000 no Pacífico, cerca de 2.000 nos mares do Japão, 1.500 nos mares frios do Pacífico, e cerca de 1500 na Noruega. Podemos estar a falar de uma população global em redor dos 100.000 indivíduos. Reproduzem-se a partir dos 15 anos com um ciclo de criação a cada 5 anos. Dado que a taxa de mortalidade é elevada, estima-se que uma orca durante a sua vida possa gerar 5 descendentes. Os machos raramente ultrapassam os 30 anos de idade.
Disse-vos antes estarmos a tratar de um predador implacável. Não lhe assenta bem o título de “baleia-assassina” porque nem é uma baleia. É um golfinho e de resto, o único que ataca outros cetáceos. Viram no filme que ataca baleias regularmente. Mesmo as crias da maior baleia de todas, a baleia azul, com cerca de 30 metros de comprimento, para 200 toneladas, são atacadas por grupos de orcas. Perseguem-nas até as deixarem exaustas e aí, quando a mãe já não tem forças para socorrer a filha, separam a cria, rodeiam-na e obrigam-na a afundar, impedem-na de subir à superfície, matando-a por asfixia. Comem-na a seguir. Para que tenham uma ideia de quem estamos a fotografar e filmar nos nossos barquinhos, as orcas matam e comem os fígados a …tubarões brancos. Comem ainda todos os tipos de pinguins, focas, leões marinhos, aves, (o nosso corvo marinho faz parte da sua dieta), polvos e lulas, etc.
A técnica de caça de fazer subir os bancos de cavalas, sardinha, carapau, etc à superfície, tão do agrado dos nossos roazes, é algo que fazem frequentemente. Sobem-nos, obrigam-nos a compactar, a fazer uma bola, e aí, em sistema de carrossel, alimentam-se até querer.
Se o meu amigo António Duarte quer que eu lhe diga que é seguro fotografar orcas a poucos metros de distância, pois eu registo aqui que claramente pode não ser. As orcas comem cerca de 220 kgs de comida diariamente, e se não há registos de ataques a humanos, não deixa de ser preocupante a possibilidade de ele, o meu amigo António poder vir a ser o primeiro caso. As orcas ocupam um lugar de topo na cadeia alimentar dos oceanos, sem dúvida. Se não têm interesse na caixa de lingueirões que o António possa ter no seu pequeno semirrígido, podem no entanto ter em algo mais pesado.
Nunca estive dentro de água com uma orca por perto, tanto quanto sei. Tenho um amigo senegalês que sim, teve um encontro imediato com uma. O Mohamed estava a mergulhar em apneia, encostado a uma pedra a cerca de 30 metros de profundidade, a caçar pargos.
Quando olhou para cima, tinha uma orca a olhar para ele, numa posição oblíqua, a não mais de três metros. Diz-me, ele que é de raça negra, que ficou….branco.
Há aqui muito peso e força. Um animal que ataca uma baleia destas, deve ser considerado como algo potencialmente perigoso... |
O ano passado, em Sines, algumas embarcações à vela viram os seus patilhões partidos no mar, ficando sem capacidade de governação. A embarcação semirrígida da PM acabou por ter problemas também, tanto quanto sei. A Policia Marítima chegou mesmo a interditar a saída de embarcações durante alguns dias com o objectivo de proteger os pescadores e passeantes.
António, a mensagem é: fotografar sim, mas com cuidado…..querer um close-up no telemóvel pode significar que o meu amigo não vai continuar a dizer mal de mim e dos meus escritos.
Não queremos isso!...
Vítor Ganchinho
Boa tarde Vítor,
ResponderEliminarNem a propósito, corre pelas redes sociais um vídeo amador, em que o pessoal num semirrígido, interage com um grupo de orcas na nossa costa, chegam a tocar-lhes com as mãos!!!
O desconhecimento do quão perigosos são estes animais, pode ser fatal!
Obrigado pela partilha.
Abraço,
A. Duarte
Boa tarde Antonio Este foi feito para si, a partir de uma sugestão sua. Por sinal, a 27.06.21, em Sesimbra, ou seja há dois dias, as orcas inutilizaram o leme de um veleiro que tinha 4 pessoas a bordo e que por isso tiveram de ser rebocadas para o cais. Não houve qualquer acidente pessoal, as pessoas só apanharam um susto, mas é bom pensarmos que estes bichinhos são selvagens, e se atacam e matam uma baleia para lhe comerem a língua, também nos podem pôr a cantar fininho a nós.
EliminarPelo sim pelo não, há que ter algumas cautelas, e não confiar em demasia. Porque um acidente pode acontecer e pode ser fatal, exista ou não qualquer intenção de qualquer das partes. Podemos sem querer dar-lhes com o hélice, e haver...retaliação. O António não corre muitos riscos, porque a sua embarcação tem uma estrutura forte, mas para embarcações de menor calado...
Abraço!
Vitor
Vítor,
EliminarSou curioso e gosto de observar o nosso fabuloso mundo aquático, mas respeito muito a natureza e quem nela vive.
Devemos sempre dar uma especial atenção a este tipo de animais, que pelas suas características aqui muito bem identificadas no seu texto e de forma não intencional, podem provocar-nos alguns dissabores.
O lema deverá ser sempre... respeitar para ser respeitado!
Muito obrigado pela lembrança e partilha.
Abraço,
A. Duarte
Bom dia António Chegou o peixe de Verão. Os lírios estão em força, as minhas filhas já fizeram uma data deles, e as águas já estão nos 19,2ºC. Aqueceram. Largue as técnicas de Inverno e passe ao spinning, ao popping.....
EliminarAndam cardumes de robalos à superfície. As bailas estão a montes. Com amostras micro, tem diversão garantida, e de quando em quando vem um robalo de 2 kgs....eles já estão a comer alevins.
Abraço
Vitor