Embora seja uma técnica com muitos anos entre nós, (ver pescarias de 500 kgs de peixe feitas nos anos 60 apenas por duas pessoas …na Pedra do Barril, Tavira, à zagaia), ainda assim o jigging não conseguiu recolher, até aos dias de hoje, um número significativo de adeptos. Quando se pensa em sair à pesca de barco, aquilo que vem à ideia é a cana comprida de 3.60 mts, um carreto 6000, linha grossa e chumbo a condizer.
É um facto que, não obstante uma significativa melhoria da qualidade dos materiais, os resultados obtidos são medianos ou medíocres, e raramente atingem estatuto de excepcionais.
E, como todas as coisas que estão enraizadas de forma profunda, também esta ideia de que apenas se pode pescar na vertical, com dois anzóis, um chumbo e isca convencional, levará anos e anos a desaparecer da mente de quem sai ao mar todos os fins de semana. Levará anos, ou décadas. Vejo em Portugal pessoas que se iniciam na pesca a adquirirem os seus primeiros equipamentos. Invariavelmente vão para o sistema vertical.
Outros países têm da pesca uma visão diferente, mais heterogénea, e por isso mesmo outros conceitos. Do outro lado do mundo, no Japão, a pesca vertical com isca quase não é praticada, e não sentem falta nenhuma disso.
É de tal forma assim que nem canas produzem para essa função. Por contra, o jigging é aceite como a modalidade mais produtiva, a que melhores resultados proporciona.
Seria interessante entender a razão pela qual naquelas paragens se valoriza tão pouco a pesca que aqui entendemos como…única. Na verdade, a pesca tradicional portuguesa com isca era feita com linha de mão. Os pescadores tinham dentro do bolso do casaco um “enrolinho” com um ou dois anzóis montados, que era sempre o mesmo, durava e durava na sua função. E se ao pós cortiça-e-linha se sucederam as canas de fibra de vidro de uma braça, rapidamente fomos importar aos italianos a sua forma de pescar, com canas até 4 metros, de ponteiras muito finas, preparadas para pescar peixes miúdos. Passámos sem dúvida a estar muito melhor equipados para detectar toques de peixes…miúdos! E é isso que fazemos ainda hoje, com força, com entusiasmo, como se fosse a única forma de pescar em Portugal: a pesca vertical às….miudezas!....
Pescamos alegremente…”caliqueiras”….como se não houvesse mais nada a fazer, como se não houvesse mais mundo.
Cana e jig Deep Liner e carreto Daiwa Saltiga. Um pequeno lirio como resultado de uma combinação perfeita. |
É muito mais comum que se atribuam os maus resultados a causas aleatórias, que não estão na nossa mão, como o vento, a ondulação, a lua, o mar parado, o verdete das toneiras, o mar mexido, do que aceitar que a técnica que toda a gente pratica está pouco menos que esgotada em termos de resultados. Basta pensar na quantidade de gente que visita as mesmas pedras durante anos e anos, sem conseguir um peixe de excepção. A melhor pescaria é sempre a seguinte, a que está para vir.
E que ninguém se atreva a dizer que o rei vai nu, porque isso é heresia. Pesca-se como todos os outros pescam e não se coloca em causa a razão de ninguém pescar nada. Haverá sempre causas próximas e remotas que ajudam a explicar a ausência de bons resultados.
E quanto a pescar com jigs, pois isso são coisas que só funcionam noutros países.
Poderá em primeira instância ter a ver com a crença generalizada de que os peixes não mordem peças metálicas. Efectivamente têm razão, não há motivo para que um peixe morda e engula um jig metálico.
Mas estamos a considerar que iremos pescar com esse jig…da mesma forma que utilizamos as nossas iscas orgânicas: parado, à espera que algo aconteça. Ora isso é subverter por completo a técnica em si.
É comum que não se saiba pescar com um jig, as pessoas não têm o conceito de movimento interiorizado, logo, ou não tentam, ou dedicam-lhe apenas alguns minutos e desistem logo de seguida.
E isso acontece por não terem a noção do que fazer com essa peça metálica. Não pescam peixe porque não sabem utilizar, e porque não sabem utilizar …não pescam peixe.
É muito mais natural que aceitemos passar horas e horas sem um toque, ao pescar com minhoca ou sardinha, do que aceitar a ausência de toques num jig durante…2 minutos.
Pois há gerações inteiras de pessoas a utilizar essas incríveis peças metálicas, avós, pais e filhos, homens e mulheres, e a obter resultados que deixariam embaraçados os nossos pescadores de linha.
Porque na verdade, as más pescarias que fazemos por cá …sucedem-se! Há pessoas que pescam assiduamente, todos os sábados e domingos, a não conseguirem um peixe acima de 3 kgs durante meses, ou anos!
Ficam roxos de enrolar linha no carreto, com canas pesadas de mais de três metros, e ao fim de cada dia, depois de horas e horas de pesca dura, não conseguem um peixe acima de 0.5 kg! Essa é a verdade.
Seria bom tentar desmistificar a questão da utilização de jigs e o que leva os peixes a morderem-lhes.
Quando lançamos uma isca para o fundo, fazemos aquilo que é mais fácil: propomos ao peixe o seu alimento natural. Tudo estaria bem e na paz dos anjos, se com isso conseguíssemos obter resultados. Infelizmente não. Passamos o tempo a recolher linha e no fim, na ponta do anzol, o que vem é mais do mesmo: uma boga, uma garoupinha, um carapau, uma pequena choupa ou um minúsculo sarguinho.
Na verdade, aquilo que fazemos é estimular a morder no nosso anzol, de tamanho reduzido, algo que esteja interessado numa isca de tamanho reduzido.
Porventura seria diferente lançar um filete de meia cavala, ou uma sardinha inteira, mas porque isso já é ser selectivo demais, ficamo-nos por … um ganso coreano.
E, obviamente, iremos capturar aquilo que come um ganso coreano: um peixe miniatura, cujo tamanho não excede o da bracelete de um relógio. Solução: lançar de novo, com mais coreano.
A pesca com jig tenta reproduzir algo que é muito comum na natureza, a movimentação errática e desequilibrada de uma pequena presa a dar os últimos golpes de cauda. Um pequeno peixe às portas da morte, fragilizado, é algo de muito apetecível, num mundo onde cada captura é merecida, onde o predador luta imenso para conseguir uma presa que lhe salve o dia alimentar.
É um principio universal: peixe grande come peixe pequeno. E por isso mesmo, procuramos disponibilizar aos predadores que estão a trabalhar sobre uma determinada pedra uma presa de tamanho apetecível, que aos seus olhos lhe pareça suficientemente boa, frágil e fácil de capturar. Algo que encaixe naquilo que esse predador procura naquele momento.
A grande diferença entre a ignorada isca que os nossos pescadores de vertical lançam para o fundo e o jig, é que, não obstante este último seja de facto uma peça metálica, algo que não deveria cativar a atenção de peixe de nenhuma espécie, ainda assim é proposto sob a forma de algo em movimento. Já não é a isca depositada no fundo, inerte, mas sim algo que demonstra ter vida, que exibe movimento, que emite vibrações na água, e por isso é tido como um potencial peixe vivo. E, por nossa capacidade de o animar, parece mesmo um peixe ferido, a dar as últimas.
Esse é o grande busílis da questão! É que estamos a estimular um predador a ser…predador! Por isso os resultados não são iguais.
Os lirios, que temos em Portugal, são presas impossíveis para quem pesca com ganso coreano, ou casulo, ou navalha, ou... |
Deixo-vos alguns exemplos de peixes que, sendo capturados no Japão, poderiam perfeitamente sê-lo entre nós, às nossas espécies.
Temos meros, temos lirios, temos corvinas, pargos, robalos, etc. Não nos falta peixe, falta-nos sim acreditar. E criar condições para que as embarcações possam pescar mais com jigs, e menos com …ganso coreano.
Vejam abaixo.
É acima de tudo uma questão cultural. Quem começa a fazer jigging acha tão natural pescar dessa forma como com qualquer outra.
Vou trazer-vos nos próximos dias imagens de um outro mundo, em que o objectivo é pescar peixe grosso.
E para isso, a primeira coisa a fazer é preparar a pesca a peixe grosso. Desde logo os equipamentos, que são outros, e a seguir aquilo que se propõe ao peixe.
Tenham a noção de que os peixes que pescam aqui podem ser pequenos para iscar aos peixes que vos vou apresentar.
A semana promete!
Vítor Ganchinho
Infelizmente o ser humano precisa de tempo para absorver e entender novos conceitos seja na vida como na pesca! Ainda me lembro quando me chamaram de "maluco" aqui em Angola, quando comecei a estudar e praticar SPJ!..hoje em dia a maioria dos pescadores desportivos que saiem ao mar passaram da isca para o jig mas isto demorou 8 anos e comigo a fazer peixe diariamente! E estamos a falar de pescadores que já faziam SJ à alguns anos, por isso em teoria seria mais fácil de interiorizar e entender uma técnica nova! Mas pelos vistos não é.
ResponderEliminarNem tudo é mau se pensarmos que quando comecei tudo tinha que vir do Japão pois não existia nada na Europa!
Hoje já temos tudo à nossa disposição, so falta é o mais importante...mentalidade!
Um grande abraço e até breve caro amigo Vítor
Boa tarde Luis Ramos. Muito vento deste lado, logo, uma jornada para ficar vem casa a afiar facas.
EliminarParece-me que esta é uma situação que não tem nada de novo. As gerações anteriores, e falamos de pescadores com 30/ 40 anos de experiência, não irão agora mudar um milímetro na sua prática de pesca. Irão pescar como sempre pescaram.
Vai ser a geração que aí vem que, olhando aos resultados obtidos, irá mudar a orientação da agulha.
Isto leva tempo, estes processos levam dezenas de anos.
Grande Abraço!
Vitor
Bom dia,
ResponderEliminarMentalidades demoram o seu a tempo a mudar e nós Portugueses levamos muito à regra essa situação.
Temos as condições não temos é mentalidade.
Tenho me deparado que efetivamente não existem embarcações MT's a fazer saídas de SPJ de forma regular, mesmo a pagar o que pedem.
Uns porque não é lucrativo, outros porque dizem ser uma pesca "chata", outros porque querem mesmo apanhar peixe em quantidade, não interessa o calibre, o que interessa mesmo é encher os baldes, as arcas e se possível ainda trazer dois ou três nos bolsos das calças, enfim os há para todos os gostos!
Também temos problemas organizacionais e de divulgação séria da modalidade.
De SPJ apenas vejo o Vítor e o Luís Ramos a fazerem resistência contrária dos restantes e de forma muito competente.
Faz nos muita falta o diálogo, o debate de ideias e a partilha, a isso deixo o meu agradecimento a ambos.
Saúde da boa!
Abraço,
A. Duarte
Boa tarde António! Não é uma equação fácil de resolver. Se o fosse, estava resolvida. Por um lado, as pessoas querem pagar o mínimo possível. E assim sendo, só podem sair em grupos grandes, porque os combustíveis estão pela hora da morte, e as outras despesas todas são um custo real. Têm forçosamente de ser muitos, para dividirem pelo grupo esses valores. Mas quando são muitos não conseguem pescar com jigs. Não vale a pena pensar em pescar com jigs com o barco com 16 pessoas, é uma banda filarmónica...
EliminarEssa gente quando sai, leva canas com mais de 3,5 mts, e querem pescar ao fundo com chumbada e dois anzóis, porque é aquilo que sabem fazer. Logo, mesmo que haja uma pessoa que queira fazer diferente, mesmo que haja alguém que queira tentar, esbarra no facto de o barco estar fundeado, e as suas possibilidades são nulas. Fica impossibilitado de pescar com jigs, por mais vontade que tenha.
A solução de colocar num barco três/ quatro pessoas que assumam todas as despesas não resulta no nosso país, porque os salários são médio/baixos. Uma saída de pesca está muito longe de custar o valor que se paga em gasolina. Muito provavelmente o combustível não representará mais de 50% das despesas totais. Mas as pessoas só contam com esse valor. Esquecem que o barco irá necessitar de revisões de motores, de ser preparado para as inspeções, que paga taxas de farolagem e balizagem, que tem de mudar os medicamentos e os meios de salvamento, os fachos de mão, as garrafas dos coletes salva-vidas, etc, etc.
E as pessoas só perguntam quando se gasta em gasolina. E acham que alguém se levanta da cama para os levar à pesca recebendo o valor que vai gastar em gasolina....
Com um pouco de sorte, ainda consegue meter a bordo alguém que lhe rouba os pontos de GPS onde leva esse grupo. A mim já me roubaram os coletes...os jigs desaparecem todos dentro dos bolsos, os pontos de GPS aparecem no Facebook, ... as pessoas entram para o barco a dizer-me que os primeiros 4 robalos de 5 kgs são para oferecer ao sogro, a seguir querem sete pargos grandes para fazer ao sal, ...e eu ando a fazer de conta que me divirto.
A pesca é um desporto caro, e é ainda mais caro quando se exigem resultados. Barato é ficar à saída do rio, e olhar para a ponteira da cana durante seis horas, estática como se fosse uma estátua. Isso é barato...
Tenho clientes americanos que me perguntam como é possível que em Portugal, com serviço igual ao que prestamos, se pague menos de 300/400 euros por uma saída...
As pessoas cá querem pagar 30. Um atleta de Alcochete ligou-me e disse-me algo como isto:
_ "Se me garantir que vou fazer uma caixa cheia de pargos, de robalos e douradas, vou consigo. O máximo que lhe pago são 15 euros. É pegar ou largar. Aceita?!"....
Abraço!
Vitor
Bom dia,
ResponderEliminarNo seu caso e em relação aos ditos "Chico espertos", já tive oportunidade de dizer o quanto lhe gabo a paciência.
Para mim, a pesca é um desporto de equipa, não gosto de pescar sozinho, muito menos de barco, mas mais do que 3 a 4 pessoas numa embarcação é meio caminho andado para a faina se tornar num belo passeio turístico.
Abraço,
A. Duarte
Bom dia António Ainda voltando à questão dos catálogos, se quiser, eu tenho em papel os catálogos da Daiwa e Shimano. Só teríamos de nos encontrar para eu lhos emprestar.
EliminarRelativamente às saídas, ...pouco mais há a dizer. Aquilo que se procura é um milagre, é pagar 30 euros e trazer 300 euros de peixe. Na verdade, à medida que o tempo passa, o contrário será o mais natural.
Abraço
Vitor