IMAGENS DE UM OUTRO MUNDO

Aquilo que me proponho trazer-vos esta semana é algo que pode chocar os mais sensíveis. Vamos viajar para o outro lado do mundo, para o Japão e para a pesca lúdica feita por pessoas que pescam sobretudo peixes grandes. Porque os métodos que utilizam são para isso mesmo, para peixes grandes.
Vamos dar uma vista de olhos pelos materiais, pelas técnicas, e pelos resultados que podem ser obtidos quando arriscamos a sair da mediania.
Esqueçam as iscadas de casulo, os gansos coreanos, o lingueirão. Aqui pesca-se a sério, utilizando jigs, ou cavala viva, um isco por excelência, que em Portugal temos a rodos, às toneladas, e não utilizamos.
Não deixa de ser incompreensível que, tendo a facilidade de conseguir isca boa, que nos pode dar peixe de excelente qualidade, continuemos a insistir em “mariquices” de iscadas de …minhocas e berbigões.
Apertem os cintos, preparem-se, porque esta viagem de uma semana ao mundo dos peixes grandes vai ser …dura.


Lírio atacado por um tubarão, quando o pescador já o tinha quase à superfície. As possibilidades do pescador são nulas. A resistência do peixe enquanto vivo não permitem recolher mais rápido, e a partir do momento em que o esqualo desfere o ataque, à primeira dentada já leva o peixe na boca. Os dentes de um tubarão cortam como lâminas, e seccionam um peixe de 25 kgs a meio, com muita facilidade.


Em termos de equipamento, falamos de material entre o médio e o muito pesado. Porque queremos pescar os gigantes que vivem lá em baixo, não temos tempo para miudezas.
Canas de pesca sim, mas de primeira qualidade, porque as outras todas ficam pelo caminho, partem-se. Estes meninos não são para brincadeiras.
Esqueçam os carbonos, aqui o facto de uma cana ser leve não atrasa nem adianta. O que se quer é a fibra de vidro, muito mais elástica e resistente, embora pesada.
Tive o primeiro contacto com as canas japonesas que esta gente utiliza há uns anos, por ocasião de uma visita à AlphaTackle. Podemos pensar que aquilo poderia ser diferente, que as canas poderiam ser mais rijas, mais curtas, mas atenção, esta gente é profissional e só faz isto. Eles sabem exactamente como fazer e o porquê.
Há detalhes, como a questão do arrefecimento da linha, os materiais que compõem os passadores, etc, que são trabalho de laboratório, e de ciência pura. As canas rijas, sujeitas a uma pressão máxima deste tipo, partem em segundos.


Os pesos de chumbo têm 2 kgs cada um. O número de passadores da cana, de resto particularmente bonita, é aumentado para que a linha possa ter acompanhamento constante.


Estes modelos de cana podem chegar aos 2.500/ unidade pois não são canas de fácil construção. São produtos que visam sobretudo a pesca de grandes exemplares, em stand-up, e estão longe dos modelos duros e compactos de trolling, usados em Big-Game. Para o gosto europeu, são até canas que “pingam” muito, mas há razões objectivas para que sejam assim.
A deformação não aumenta substancialmente com o aumento de carga, e o acompanhamento que é dado à linha pelos passadores preserva-a de um aquecimento que a iria, a médio/longo prazo, danificar irremediavelmente.
O conceito não está muito distante das canas mais ligeiras, também para carretos eléctricos, que existem em stock na GO Fishing. Com preços na ordem dos 650 euros, estas canas estão adaptadas ao peso do peixe que nos é mais corrente.
Falamos de gorazes, besugos, cantaris, algum cherne mais atrevido.


Porque pescamos muito fundo, carretos eléctricos Daiwa de primeira água, sólidos, bem preparados para um trabalho muito duro. É o caso do popular Daiwa Seaborg 1200 MJ, uma peça que foi pensada para pescas profundas a peixe muito grande, muitas vezes abaixo dos 150/250 metros, e em que se pretende grande capacidade de recolha de linha grossa.
A amperagem desenvolvida por estas máquinas não deixa de ser impressionante, sobretudo atendendo ao seu peso reduzido. Trabalham utilizando uma bateria de 12v como fonte de energia, e permitem capturas como as que vão poder ver nos filmes que irei anexar. Um carreto destes vale, grosso modo, cerca de 1000 euros.




E quando queremos lutar com peixes grandes, utilizamos linhas super resistentes, baixadas em monofilamento ou fluorocarbono, no mínimo de 1mm, e sem que isso seja garante de nada.
Vamos ver como eles pescam, e tentar tirar algumas ideias para aplicarmos por cá, pela nossa santa terrinha. Se pensam que nós não temos peixes destes, enganam-se redondamente. Temos meros, temos corvinas, atuns, lírios, chernes, espadartes…é o que não falta. Os atuns estão a regressar em força, este ano vi-os diversas vezes, a comer bem perto do barco.
É perfeitamente possível conseguir pescar um atum acima de 100kgs em Sesimbra, não requer muito mais que alguma paciência e material adequado. Assim se pesque decididamente a eles!

A baixada é feita com isto: uma linha Varivas de 1.28mm, 220 libras de resistência, e que já dá alguma segurança. Nada garante...


Entendo a questão desta forma: para pescar com este tipo de equipamentos e técnicas, é necessário que o pescador tenha condições para o fazer. E isso significa exactamente não ter colegas a enrolar as linhas nas dele, que não o pressionem a mudar para outra isca ao fim de 5 minutos de pesca infrutífera, que possam prescindir nesse dia do peixe miúdo habitualmente capturado, etc. É uma pesca solitária, de paciência, para quem pode.
Tentar fazer isto a bordo de uma embarcação MT com mais 16 pessoas, ….

E como se pesca?
Tudo começa pela captura da isca. É muito fácil colocar a embarcação em cima dos cardumes de cavalas, ou carapaus, e conseguir em poucos minutos uma remessa suficiente para o dia.
Também as lulas vivas são uma iscada a considerar. No fundo, procuramos reproduzir a alimentação regular dos grandes peixes.
Existem cuidados a ter para manter viva a isca, e em bom estado de apresentação. Um oxigenador pode resolver-nos o problema.
É possível adquirir um aparelho desses, a pilhas, na loja GO Fishing Portugal, em Almada, ou encomendar através da loja-on-line. Dura facilmente 24 horas, e presta um serviço inestimável.
Não é igual pescar com uma lula viva, ou morta.


Parece-nos sempre que isto são imagens de algo muito distante, mas nós temos por cá peixes deste nível.






Ancorar o barco numa zona que saibamos ser de passagem destes peixes, e lançar algum engodo feito com restos de sardinha ou cavala, pode ajudar. A operação deve ser executada de forma regular, parcimoniosa, e com a noção de que poderá ser mais nefasta que útil, se a executarmos da forma errada. Parece-me importante repetir que pouca quantidade e muitas vezes, é bem melhor que muito e poucas repetições. No caso de termos demasiada corrente, é preferível nem engodar, estaremos apenas a gastar recursos sem necessidade.
O objectivo é fazer uma esteira de engodo, um caminho, que possa trazer o peixe até nós.
Quando pescamos sobre montes submarinos, onde o peixe naturalmente se coloca para esperar os cardumes de comedia, nem vale a pena engodar. Em águas abertas, zonas que apenas servem de passagem, como a linha que une o Cabo Espichel ao Cabo de Sines, algum engodo pode ser decisivo.

No filme que vão ver a seguir, chamo a atenção a um detalhe: a dada altura, os pescadores espetam um varão oco, furado, no peixe que pretendem libertar. Não estão a fazer mais que a proteger o peixe, após a sua libertação.
Quando acontece que o exemplar suba demasiado depressa, e isso pode acontecer com carretos eléctricos muito potentes, a bexiga natatória expande demasiado, e o peixe fica com a sua pressão interior descompensada.
Tratámos este assunto aqui há dias, aquando do método de libertação de peixes. Assim, é importante fazer um pequeno furo, ao nível da bexiga natatória, para permitir ao peixe baixar, sem perder o controlo da sua capacidade de flutuação.
Reparem que eles passam a mão sobre o flanco do peixe, para ajudar o ar a sair pelo tubo oco. Um peixe destes vale todos os trabalhos, e é importante que, quando se pretende a sua libertação, se acautelem todos os detalhes.

Vejam este filme em 1080 P, HD, e não como vos aparece de base, em 480. A imagem fica muito mais nítida e com melhor qualidade. No canto inferior direito têm acesso à definição de qualidade. Basta clicar em 1080P.

Divirtam-se:




Vítor Ganchinho



2 Comentários

  1. Fernando Santos30 novembro, 2021

    Bom dia Sr Vítor !

    Mais um excelente texto.
    Pelo que vi é um tipo pesca que exige tanto do material como do pescador.
    É preciso um certo preparo físico do pescador em termos de força e/ou resistência, mesmo estando com um carreto elétrico.
    Ou estou enganado ?
    Forte abraço !

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    Respostas
    1. Oi Fernando! Espero que essas costas estejam a ficar melhores. Vã ter de estar boas para a entrada dos pargos, que vai começar agora. A água já arrefeceu um pouco, 15ºC, pelo que dentro em breve vamos ter os nossos parguinhos pesados por aí.
      È bom que as costas estejam bem, porque peixe grande exige sempre um esforço extra. Bem como o resto do material.
      Neste caso, falamos de material topo de gama, porque só esse consegue suportar tamanha tensão. As canas são muito elásticas, com cargas de rotura tremendas, mas ainda assim podem partir, conforme viram no fim do filme. Mas a pessoa cometeu um erro técnico, e por isso partiu. Teve pressa a mais, e ultrapassou os 45º de inclinação recomendados pelos fabricantes. Há momentos em que podemos fazê-lo, mas temos de ter a certeza de que os peixes não irão por sua vez dar um esticão no mesmo momento. Quando isso acontece, e se não houver drag suficiente para largar linha, ...parte.



      Vou pôr o Fernando, em Janeiro, a lutar com um peixe grande e vai entender!

      Abração!

      Vitor

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