Todos nós temos um local onde acreditamos que é possível lançar uma amostra e ferrar um bom robalo.
Não tem de ser um pesqueiro profundo, não tem de ser sequer uma zona no fim do mundo, porque o robalo grande pode aparecer em qualquer lado, desde que tenha um mínimo de segurança e condições de alimentação. Os rios são, por efeito da quantidade de peixe miúdo que criam, um local por excelência para procurar peixes, e por vezes de bom porte. A foz dos rios, costuma estar repleta deste tipo de predador. As marinas são locais onde sabemos que vivem em permanência, mas se quisermos ter a certeza de que vamos encontrar robalos, é pescar nas desembocaduras dos rios.
A sua capacidade de tolerar águas mais salobras dá-lhes uma vantagem acrescida relativamente a outras espécies de predadores. É ali que se sentem ….”como peixe na água”.
Com efeito, todos os locais onde possamos encontrar águas com mistura, ou seja, aquelas que não são nem água pura do mar, nem água doce a 100%, são passíveis de esconder nas suas sombras alguns robalos.
Podemos definir este tipo de águas, que têm mais sais dissolvidos (cloretos) que a água doce, e menos sais que a água do mar. Diríamos que é uma água com salinidade intermédia entre rio e mar. Os estuários são um exemplo perfeito disso, com a sua salinidade em torno dos 5% a 30%.
Do ponto de vista técnico, considera-se água salobra a que contenha entre 0,5 e 30 gramas de sal por litro, é água salobra. Ainda assim, a amplitude de análise é grande. O conceito de água salobra inclui um vasto conjunto de regimes de salinidade e não é considerado uma condição ecológica muito definida, tanto que tende a apresentar, em cada corpo de água, grandes variações espaciais e temporais. Pode variar de acordo com as marés, com períodos de chuva, com a temperaturas do ar, evaporação, etc. A água que os nossos robalos gostam, é algo de intragável para um ser humano.
A água salobra é uma água composta por diversos sais, como o cloreto de sódio, além do cálcio, o magnésio, e o potássio, justamente por causa da presença desses elementos ela possui uma aparência turva e o gosto é bem desagradável.
A água dos rios é uma água que possui muitas substâncias em suspensão, possui milhões de micróbios patogênicos, e por isso é imprópria para o consumo humano. Mas isso pouco afecta os nossos queridos robalos, que a toleram e nela podem viver.
Se juntarmos a estes locais um pouco de agitação marítima, uma hora do dia em que o sol não esteja alto,( idealmente o nascer ou pôr do sol, e por isso mesmo menos luminosidade), e uma maré cheia, que permita ao predador adentrar-se na costa, chegar a zonas que normalmente estarão mais baixas e por isso oferecem melhores condições para esses peixes miúdos se esconderem, então caminhamos no sentido certo, de conseguir encontrar robalos interessados nas nossas amostras.
Em suma, tudo o que dificulte um pouco mais a vida aos pequenos alevins, joga a nosso favor. Sabemos que o crepúsculo que antecede a chegada de um novo dia é um momento mágico. Nessas condições, teremos ainda mais possibilidades de os encontrar a caçar, no máximo da sua actividade.
E vamos pescá-los com que tipo de amostra?
Recordando que estamos a pescar em águas pouco límpidas, não é boa ideia apostar tudo numa situação de caça à vista. O robalo pode nem conseguir ver a amostra, dadas as baixas condições de visibilidade. E no entanto, continua a querer e a necessitar de comer. Utiliza para isso a sua linha lateral, sistema nervoso muito sensível, que lhe dá a informação necessária para entender se à sua frente está algo que interesse ou não. A visão joga aí um papel irrelevante, secundário, sendo utilizada quando o peixe se encontra a centímetros da pressuposta presa. E por isso mesmo, uma amostra com pala frontal e cores brilhantes pode ser o engano mais conveniente. Deixa de o ser a partir do momento em que a quantidade de lançamentos, de estímulos sensoriais provocados por dezenas ou centenas de passagens deste tipo de amostras, fazem chegar o robalo a um estado de indiferença. Numa primeira fase interessam-se, afinal de contas a pala da amostra provoca vibrações de baixa frequência, e isso no mar é sinal de incapacidade de manter uma natação silenciosa, discreta, apanágio de peixes saudáveis. Mas a seguir vem o excesso, e vira-se o efeito contra nós. Os robalos deixam de se interessar. Em zonas mais frequentadas, isso é muito corrente. Lançam-se amostras ate à exaustão, todos os dias. Não resulta, o peixe deixa de reagir, por defeito.
A partir de um dado momento, o peixe já não corre à amostra, não se sente estimulado sequer a procurar aquilo que passa perto emitindo estas vibrações. No limite, o predador afasta-se.
Os robalos são muito procurados, são um alvo muito apetecível, e dificilmente encontraremos peixes que nunca viram ou sentiram uma amostra.
Tornam-se mais fragilizados em determinados momentos da sua vida, nomeadamente este que passamos agora, o período outonal, em que o robalo está a comer tudo o que pode, para aumentar os níveis de gordura corporal.
As águas frias vêm aí, e mais que isso, vem aí um momento marcante na sua vida: a reprodução.
Em zonas muito batidas, é minha forte convicção de que amostras sem pala, de tamanhos mais reduzidos, podem ser mais eficazes. Bem trabalhadas, com recuperação não linear, leia-se com esticões não demasiado bruscos, seguidos de pausas curtas, podem surpreender-nos. Aquilo que procuramos mostrar ao predador é uma presa em sérias dificuldades, um pequeno peixe que quer fugir, quer escapar dali para longe, mas não pode. O trabalho de pulso aplicado à cana consegue fazer isso. Nos cursos de pesca que dou, por vezes insisto com as pessoas que levo ao mar, para que façam os movimentos de forma correcta. Uma amostra é algo que, mais importante que fazer-se ver, é fazer-se sentir. Estes predadores têm receptores de vibrações, detectam facilmente pequenas turbulências na água, estão afinados ao limite. Fazer demasiado barulho na água pode ser contraproducente. Dar a entender que algo está ali, mas sem excessos.
E muito rapidamente as pessoas começam a obter resultados. É pôr as coisas ao contrário, é pensar pelo lado do peixe. O nosso egocentrismo humano leva-nos a pensar que o peixe tem de se adaptar a nós, tem de morder porque afinal de contas, comprámos uma cana, um carreto, uma linha e uma amostra, logo tem de resultar. Não necessariamente. O peixe reage por critérios próprios, que nada têm a ver com os nossos interesses. Ou acertamos com aquilo que ele procura, ou não obtemos êxito.
Mas também podemos encontrar bons robalos por fora das zonas de influência de águas doces. Neste período exacto em que estamos, os peixes começam a concentrar-se em grandes cardumes, e a procurar alimento mais gordo, mais encorpado, e isso rima com …sardinha e cavala. As sardinhas estão em pleno processo de reprodução, estão no seu tamanho máximo, cheias de ovas, pesadas, e por isso mesmo são um alimento bastante conveniente. Também a cavala está gorda, passou todo o Verão a comer, a filtrar água e a recolher nutrientes que lhe serão úteis nos próximos meses. E por isso é um alvo a abater. Proteína e gordura, necessita-se.
Por fora, em mar aberto, as melhores condições que podemos ter serão as seguintes:
Mar bem agitado, de várias horas ou mesmo dias, uma água não demasiado clara, mas ao mesmo tempo não demasiado suja, não carregada de suspensão. Idealmente água que esteja mais tapada à superfície, mas limpa por baixo.
Para quem mergulha, sabe que não é tão difícil assim encontrar estas condições. São mais naturais perto das desembocaduras dos rios, por haver uma diferença de densidade entre as águas salobras e a água que entra com a maré cheia, mas também por fora é possível encontrar esse efeito pretendido. A razão tem a ver com a possibilidade que o predador tem de se situar na zona de visibilidade, e estar atento aos cardumes de pequenos peixes que sem da água carregada de suspensão, e de repente se veem numa zona mais clara. O efeito surpresa e a rapidez do robalo fazem o resto.
Isto para um robalo é um paraíso. É estar em frente às prateleiras de um supermercado, com muito dinheiro na carteira. |
Vamos voltar a esta questão das amostras, definir quais os modelos e tamanhos mais eficazes, em função da época do ano que atravessamos.
Vítor Ganchinho