O SLOW JIGGING - CAPÍTULO 3

Pescar slow jigging não é exactamente enrolar apenas a linha mais devagar. É sim um método de pesca baseado numa sequência de movimentos cadenciados, de paragens e avanços, de um estimulo de movimento que induz o predador a julgar estar na presença de uma presa que quer fugir mas …não pode.
Já todos vimos filmes em que os esforçados pescadores de speed jigging enrolam linha com a máxima velocidade possível. Dão aos braços freneticamente, tão depressa quanto possível, chegando a extremos de ficar completamente descoordenados. É o tudo por tudo pela velocidade de recuperação.
Espumam da boca para conseguirem puxar aquele jig pesado do fundo até à superfície, e ao fim de algum tempo, passam uma toalha pelo rosto, pousam a cana e descansam. E dizem que se estão divertindo...
Ninguém aguenta pescar com tal violência durante muitas e muitas horas. A pesca não pode ser um mero exercício físico, em que os muscularmente mais fortes são considerados mais aptos. Pescar rápido pode não ser sequer a melhor opção para o local onde a pesca se desenvolve.
Com efeito, isso pode funcionar em determinadas circunstâncias, com condições de visibilidade apropriadas, temperatura de águas óptimas e na presença de determinadas espécies. Mas não funciona sempre. Nada funciona sempre. Mas há técnicas que são mais universais, e o slow jigging é uma delas.
Porque se baseia num princípio correcto, o do estimulo ao peixe predador que procura comida fácil.

Como executar, então? Vamos ver em detalhe:

1- Temos a cana na horizontal, bem firme no sovaco, com uma das mãos a bloquear o carreto, e outra a manobrar a manivela. No momento em que damos uma volta de manivela, (1 volta, ½ volta ou até ¼ de volta) a cana acusa a pressão do peso do jig, e flecte para baixo. Porque o carbono tem tendência para recuperar a sua forma original, irá ser naturalmente dado um impulso em sentido contrário, sem intervenção do pescador, apenas pela acção da cana. Isso faz com que o jig seja sujeito a um esticão que o trará a um patamar superior. Digamos que há uma aceleração suave da peça, para cima. Podemos auxiliar com o braço que segura a cana e dar um impulso extra para cima, para obter um efeito mais pronunciado. Nesta fase, o jig sobe.

2- A fase seguinte será a de o jig sofrer o efeito da gravidade e voltar a cair. A cana irá dobrar novamente por efeito do peso que cai, e por consequência, irá repetir o processo de retorno à sua posição inicial, dando novo arremesso ao jig. Acontece que o jig tem um centro de gravidade que não é regular.
A forma de construção é frequentemente assimétrica, quer no sentido longitudinal, quer no eixo transversal, o que provoca uma tentativa de estabilização da massa da peça na coluna de água e o consequente movimento. Há resistência à queda do jig, a força de impulsão faz-se sentir, embora estejamos a tratar de um pequeno objecto com uma massa critica muito reduzida, que oferece pouca resistência e que tem tendência nata para penetrar o meio liquido. Ainda assim, pontualmente, e porque a peça é plana, há pontos de resistência na água que obrigam a movimentos de deslize lateral. E esses movimentos horizontais, essa libertação de forças de pressão, são entendidos pelos peixes como uma manifestação errática de algo em queda descontrolada. Logo, …uma possível presa. É aqui que o jig se assemelha a um peixe.

3- Quando baixamos a cana e apenas fazemos metade do enrolamento de uma volta completa, ou quando subimos e exercemos pressão com a cana sobre o jig, estamos a imprimir movimentos que fazem mover o jig, obrigando-o a “escorregar”, a continuar a fazer o seu deslize horizontal. E isso atrai os predadores.

4- Caso não façamos nada, a peça cai em queda livre, e realiza as suas manobras de queda vibrando pontualmente aqui ou ali, sem qualquer controlo. Travagens há sempre, quer sejam provocadas por nós, quer seja a resistência da água a provocá-las.

Passo-vos um esquema de uma conhecida marca de jigs, topo de gama em termos de qualidade, a Deep Liner, para que percebam a questão das vibrações:




O momento em que há uma “paragem”, um abrandamento da queda para o fundo, é um instante crítico na tomada de decisão de um predador que tem fome e quer tentar um ataque. Por vezes, a meio de uma destas oscilações dá-se o ataque e o pescador só o percebe no momento seguinte, quando repara que a cana ficou flectida e não desenvolveu movimento no sentido de recuperar a forma inicial. Há que ferrar com energia porque está lá peixe!
Há todo um conhecimento que é necessário ter, quer da cana quer do jig, para se poderem detectar estes toques quase no mesmo instante em que se produzem. Nunca é algo directo, porque falamos de transmitir um sinal a algo que está dezenas de metros acima, à cana, à linha, às nossas mãos.
Também os jigs não são todos iguais, uns são mais reactivos que outros. As grandes diferenças situam-se ao nível do tempo de queda, das paragens que fazem. É isso que os torna mais indicados para este ou aquele tipo de pesca.
As vibrações acontecem, maiores ou menores, de acordo com o formato do jig, do seu peso, das suas simetrias, das superfícies planas que comporta. Se quiserem, da resistência que a água oferece à sua descida.
Por isso pescamos com “agulhas, jigs mais estreitos e compridos, ou com “chapas”, jigs mais curtos e largos, de acordo com as condições de mar que temos. No meio de duas opções completamente distintas, há um mundo de outras possibilidades, intermédias, em que o jig muda por completo o seu comportamento, e por isso mesmo, a sua forma de ser atractivo para esta ou aquela espécie. Vejam abaixo algumas formas, com diferentes resistências à descida, logo descidas e subidas completamente distintas.




A cada formato corresponde uma queda específica, que só pode ser determinada em laboratório de ensaios. Os fabricantes desesperam por encontrar as formas de afundamento mais atraentes, mais parecidas com as de uma presa viva.
Trabalham arduamente para conseguir isso, e quando o conseguem, …jackpot! A sequência é produzir um molde, e a partir daí, é pintura, e pôr à venda.
A Deep Liner, líder no mercado mundial de jigs de qualidade, encontrou uma forma de poder satisfazer os clientes mais exigentes, deixando ao seu critério a criação do jig que pretendem ter. Com efeito, e dentro da panóplia de formatos que desenvolveram nos seus laboratórios e tanques de ensaios, dão ao cliente a possibilidade de escolher o peso que pretende e a cor. E vendem uma unidade!
Já se sabe que leva tempo, porque se trata de uma peça feita por medida, “taylor made”, e que por isso mesmo implica a disponibilização de meios humanos e técnicos para o efeito. Mas ao fim de 2 meses, a peça aparece nas mãos de quem a encomendou.
Na verdade, podemos actuar sobre diversos aspectos da pesca: sobre o comprimento e acção da cana, o peso do jig, a velocidade de recuperação, o ritmo que lhe imprimimos, o tempo que damos à cana para actuar sobre o jig, e por fim, podemos decidir sobre uma infinidade de combinações de voltas de manivela. Não é pouco!
Cada um de nós pode ser único no estilo que cria para a sua pesca de jigging. Eu comecei como todos começam, por ver fazer, por ver os mestres japoneses actuar. A seguir, “importei” as ideias deles e apliquei-as na minha zona de pesca. E a seguir, fui em busca do meu estilo próprio, que mais não é do que o aproveitamento de experiência adquirida ao longo dos anos. Por outras palavras, passamos a pescar de acordo com aquilo que mais rende. Se fizermos desta maneira não resulta, mas se fizermos daquela maneira…mordem e sacamos peixe. É tão simples quanto isto.
Acabei por me fixar num estilo que é meu, que me dá peixes bonitos e que não quero mudar sem ter boas razões para isso. E certamente cada um dos leitores que faz o favor de passar os olhos por estas linhas irá encontrar o seu ritmo próprio, a sua forma de fazer jigging. Dentro das dezenas de variantes que existem, há uma que dá melhores resultados. É essa que deve ser seguida.
Dou por mim a saber qual a melhor técnica que consigo utilizar quando estou numa situação de “aperto”, ou seja, quando por qualquer razão tenho pouco tempo para experimentar uma pedra, ou quando o peixe está tão mau nesse dia e nesse momento que penso que a única forma de conseguir um peixe, é pescar da “tal forma”. Essa é a nossa melhor estratégia, o nosso estilo. O nosso melhor jigging. Ou é dessa forma, ou não conseguiremos um único peixe.

Amanhã vamos continuar a falar sobre slow-jigging. Há tanto para dizer...



Vítor Ganchinho



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