SLOW JIGGING - QUANDO FERRAR? - CAPÍTULO 4

Pescar tem destas coisas: nem tudo é demasiado evidente, e por vezes, aquilo que é verdadeiramente bom apenas está ao alcance de alguns.
A maior parte dos alunos dos meus cursos de pesca acha estranho quando lhes digo alto e em bom som: “ferra!”….
Eles não estão a sentir nada, não estão a notar nada de estranho e no entanto têm um peixe a morder, a passar os dentes pelo seu jig. Porque falham aquela fracção de segundo que é decisiva, acabam por perder o lance.
Peixe que a seguir dificilmente volta a cometer o mesmo erro. É difícil que, depois de enganado, depois de sentir o contacto do metal com a boca, volte a acreditar que vale a pena tentar de novo. Pode acontecer, mas é muito mais difícil do que enganá-lo à primeira.
Nunca saberemos bem o que faz despoletar o click do ataque de um predador. É um conjunto de factores que não dominamos na íntegra. Mas isso acontece tantas vezes ao longo de uma saída de pesca que somos forçados a interiorizar que há muito boas razões para os peixes se lançarem sobre os nossos objectos coloridos. A verdade é que os atacam!


Reparem como é um pequeno robalo japonês. Crescem muito mais que os nossos...


Há momentos críticos: um jig que desliza lateralmente é um potencial alvo, um jig que cai para o fundo a vibrar também. Com efeito, a maioria das picadas acontece quando o jig afunda, e não quando o levantamos.
Para um pescador inexperiente, aquilo que é perceptível é exactamente o contrário, ou seja, apenas detecta as picadas do jig que sobe. Porque aí, qualquer um detecta, há algo que trava o jig, algo que dá uma pancada no jig e dobra a cana. Isso é facilmente perceptível.
Bem mais difícil é perceber que aconteceu algo quando a linha está solta e o jig cai em queda livre, por conta própria. E todavia, isso representa a maioria dos toques que temos. Por isso peço tanta concentração nessa fase aos meus alunos.
Podemos falar sobre miúdas loiras, podemos discutir futebol, mas um olho tem de estar sempre fixo no ritmo de descida do jig, na velocidade de saída da linha.

O slow jigging maximiza os momentos em que podemos ter toques. Com menos trabalho, menos esforço, podemos conseguir resultados bem vistosos. O primeiro passo é conseguir colocar o jig a planar, a descer devagar num deslizamento lateral.
É deixá-lo ir e não estragar muito aquilo que foi pensado pelos fabricantes. Nunca esqueçam que eles passaram centenas de horas a trabalhar nesse efeito. Deixem ir o jig, sempre atentos ao ritmo de saída da linha. Deixem cair…
Um jig lento pesca até que chega ao fundo. Mesmo peixes que não eram alvos para os jigs rápidos, chamemos-lhe “convencionais”, passam a ser. É o caso dos meros, das corvinas, etc, que, com puxadas demasiado rápidas, (quer em termos de cadência quer de amplitude), podem não ter tempo para morder a peça.
Trata-se de uma pesca que requer condições óptimas de funcionamento. Se quisermos pescar nas melhores condições possíveis, teremos de encontrar uma zona em torno dos 50/80 metros, com pouca corrente, com pedra alta no fundo, peixe por cima da pedra, e uma subida vertical do jig. Isso é o bom.
Raramente teremos essas condições, pelo que há que adaptar o nosso estilo ao que existe. Mas a nossa luta vai toda no sentido de pescar vertical. Inimigos? O vento e a corrente, acima de tudo.
A escolha da táctica certa pode ser decisiva. Podemos começar por tentar os peixes de fundo, os bentónicos, que caçam de emboscada e normalmente necessitam de um pouco mais de tempo para morder, e passar a uma cadência mais elevada, quando entramos no terreno dos pelágicos, daqueles que se alimentam por serem mais rápidos a nadar que as suas presas. Falamos pois dos atuns sarrajões, dos robalos, das sardas, etc, que se movimentam acima do fundo, a alguns metros deste.
Parece-me importante ter consciência dos movimentos do jig, pois isso dar-nos-á a noção daquilo que estamos pedindo aos peixes. Quando algo não funciona, normalmente nós temos culpas nisso. Quer dizer que não ajustámos os nossos movimentos aos movimentos possíveis aos peixes. Ou que os equipamentos utilizados não são os mais adequados.
Podemos actuar sobre o comprimento da cana (que no limite irá dar-nos a amplitude de movimento a imprimir ao jig), a sua dureza, o carreto e a sua capacidade de recuperação, o jig, (e aqui, de duas formas: o peso e o formato), o diâmetro da linha, os anzóis dos assistes, o leader ou baixada, e por fim, o nosso entusiasmo a enrolar linha, a pressa que manifestamos e tão inimiga é de bons resultados, e a amplitude de movimentos da cana. Tudo o que foi referido antes tem intervenção humana, está nas nossas mãos, e pode ser trabalhado.
Para quem começa, um dos erros mais frequentes é precisamente o excesso de entusiasmo, a pressa em enrolar linha. Como se dessa forma se pudesse acelerar o processo de captura. Não resulta bem.
Como vimos antes, podemos fazer speed jigging, e com isso conseguir alguns peixes que gostam de perseguir as suas presas a meia água, aqueles que fazem da velocidade o seu melhor argumento. Ou podemos apostar em slow jigging, e aí, chegamos a todos os outros, aqueles que jogam com outros factores para caçar: camuflagem, emboscada, ataque surpresa.
Podemos pensar: mas se o peixe tem tempo para observar o jig, …porque raio é que o irá morder? A verdade é que morde, e isso é um facto indesmentível. O slow jigging interessa a uma gama de peixes muita ampla, e faz estragos quando estão muito activos e também quando …não estão.
No caso de águas mais frias, e sabemos o quanto isso “arrefece” o entusiasmo dos nossos peixes em fazer grandes corridas, ainda assim o jigging lento continua a ser eficaz.


O autor a pescar em Osaka, no Japão, com material que seria para tudo menos jigging. O bom material ajuda muito e este não ajudava nada, mesmo se os pequenos robalos Suzuki se lançavam a tudo. Este veio preso pela cauda, num dia em que a temperatura exterior era de cerca de 4ºC….um gelo.


Na verdade, quando as condições são as ideais, tudo funciona. Se estamos em cima do peixe, se a hora da maré manda comer, o peixe come. E nós temos toques sucessivos.
Bem mais difícil é conseguir picadas quando tudo joga contra nós. E aí, o slow jigging é uma arma decisiva.
Ter más condições de pesca é algo que acontece com tanta frequência que o devemos entender como padrão, como standard. Na verdade, o peixe não fica activo o dia todo, nem nada que se pareça. Saber escolher os momentos certos é uma arte, implica conhecimento e sabedoria.
O peixe come de forma franca durante duas a três horas, e na minha opinião, faz isso apenas duas vezes por dia. O que nos dá, em 24 horas, cerca de 6 horas para mostrarmos o que valemos. É um desapontamento muito grande ter de dizer isto a alguém que sonha com uma saída de pesca recheada de capturas, durante todo o dia. Isso não existe. O que é normal é haver um espaço de tempo, que normalmente não excede as três horas, em que temos possibilidades máximas de conseguir bons resultados. O resto do tempo, e dependendo das horas da maré, passa a ser médio, ou mesmo nulo. Não é indiferente ter uma maré cheia às 7.00 da manhã, ou tê-la às 12.00h. Porque temos, grosso modo, uma maré a cada seis horas, e porque avança todos os dias uma hora, acabamos sempre por conseguir, mais dia menos dia, as condições certas.
O slow jigging explora as situações em que o peixe está activo, mas também resulta quando está menos activo, e até mesmo quando não está activo de todo. Porque uma presa fácil é sempre de aproveitar, mesmo aparecendo fora das horas do... ”lanche”. E um jig lento não é mais do que isso: uma presa fácil.


O “pesqueiro” aqui eram uns pilares de sustentação da pista do aeroporto de Osaka. Tinham robalos, mas o frio era de rachar.


Descobrir peixes activos é trabalho para um guia de pesca. A responsabilidade de encontrar situações de peixe disponível é algo que é intrínseco a quem tem o volante nas mãos, ao homem do leme.
Pedras altas com peixe miúdo em cima são uma garantia de que há predadores por perto, e assim sendo, a acção é garantida. Quando aparece uma mancha de peixe comedia na sonda, e uns traços mais densos ao lado, ou por baixo, chegou o momento. É tempo de pegar nas canas de slow jigging, normalmente mais longas e finas que as canas mais grossas, mais fortes, e que por isso mesmo permitem um trabalhar do jig de forma mais lento e suave.
São canas aparentemente demasiado frágeis, pelas quais as pessoas têm alguma relutância em dar algum dinheiro. Na verdade, são canas tão finas e macias que aquilo que lhes podemos pedir é mesmo que façam trabalhar o jig, deixando trabalhos de levantamento de peixes em peso para outras núpcias.
A cana de slow jigging pressupõe apenas trabalhar um jig de forma lenta, suave, e por isso, a parte de trabalhar o peixe é deixada para o carreto, e a sua embraiagem. A cana é deixada virada para baixo, quase na vertical, com pouca intervenção no processo. Nunca por nunca lhe devem dar uma inclinação superior a 45º, sob pena de a verem irremediavelmente partir. Temos de garantir que a execução técnica supera o natural entusiasmo que sempre demonstramos quando temos uma picada que nos leva linha. Nessas alturas manter o sangue frio é muito importante. Primeiro o equipamento, a seguir o peixe. E resulta bem, os peixes acabam por entrar no barco, sem dramas.
Mas isso implica também adquirir um bom carreto de jigging, algo que pode custar cerca de 400/ 500 euros. Algumas marcas, como a Studio Ocean Mark chegam a valores acima de 900 euros, com peças que são autênticos tratados de tecnologia.




A qualidade dos componentes implica discrepâncias de preços muito grandes. Na minha opinião deve começar-se por uma peça muito mais barata, e há carretos de jigging abaixo dos 200 euros.
Um bom fio trançado e um leader em fluorocarbono de boa qualidade completam o equipamento. O resto são jigs, e aí deixa-se à imaginação de quem pesca. Nada pior que pescar com um jig no qual não se acredita.
É deixá-los cair, deixá-los fazer o seu trabalho, lentamente, sem pressas, e os peixes acabam por entrar na caixa.
Volto a repetir: cerca de 90% das picadas que temos acontecem na descida. Bem sei que não acreditam, que acham que é apenas a subir que sentem o jig preso, mas isso é ver a árvore e não ver a floresta. A atração de um jig lento está na sua capacidade de deslizar horizontalmente, de simular uma presa em dificuldades, e isso acontece por acção do desenho do jig. É para isso que eles são preparados. Deixem-nos cair em queda livre e eles irão transmitir a imagem de um peixe ferido, perdido, …a pedir dentes!
Na subida, é importante fazer algumas pausas, dar tempo.
Costumo chamar a tenção, quando o objectivo são os pargos, que podemos e devemos esperar picadas nos primeiros 10 metros a contar do fundo. Por vezes os meus alunos perguntam-me a razão de ser desta distância. Não esqueçam que os peixes têm uma bexiga natatória que os estabiliza a uma determinada profundidade. Sem ela, cairiam para o fundo. Porque a têm pressurizada para uma determinada pressão, fazer ajustes implica tempo. O grau de tolerância de que dispõem não é infinito, pelo que não são de esperar picadas muito acima dos níveis a que esses predadores normalmente operam. Quando caçam emboscados, necessitam de estruturas onde se esconder. E isso obriga-os a esperar junto ao fundo. Assim sendo, os primeiros dez metros costumam ser os mais produtivos. A partir daí, podemos ter mordidas, mas de outras espécies, de peixes que vivem no azul. Entendido?

Tenho mais para vos dizer, pelo que vamos ainda voltar a este assunto nos próximos dias.



Vítor Ganchinho



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