SLOW JIGGING - OS CARRETOS - CAPÍTULO 5

Pescar slow-jigging em fundos baixos, digamos até 100 mts de fundo, não requer equipamentos ultra sofisticados, carretos com grande capacidade de linha, incríveis rácios de recuperação, pesos ultra ligeiros.
Nada disso. Podemos conseguir peixes com máquinas de preços relativamente modestos.
Nem são necessárias grandes recuperações por volta, qualquer carreto com uma recuperação acima de 80 cm por volta já chega e sobra.
Aquilo que se pretende é apenas trabalhar o jig através de pequenos impulsos verticais. O resto do trabalho de excitação é feito pelo jig. Ao contrário da versão musculada do jigging, o speed jigging, quando se pesca lento o carreto não tem de ser uma super máquina.
Como em tudo na vida, ajuda ter a ferramenta certa mas ainda assim o investimento não tem de ser excessivo para que se pesque. Tem é de ser o investimento na peça certa. E aí, esqueçam os carretos que também dão para pescar sargos à bóia…

Por vezes perguntam-me porque razão não utilizo nunca carretos convencionais, de bobine fixa. A resposta é algo técnica e morosa, mas ainda assim um bom desafio, um bom tema para o trabalho de hoje.
Sabemos que há uma tendência nata para pescar jigging com o equipamento que já se tem em casa. E aquilo que se compra de início nunca é um carreto de jigging, mas sim um carreto de spinning, ou pesca vertical.
Pode esse carreto cumprir os requisitos de quem pretende fazer slow-jigging? A resposta é….poder pode, mas não é a mesma coisa.
Embora tecnicamente o possamos fazer, não limpamos a sanita com a escova dos dentes, nem escovamos os dentes com o piaçaba da sanita. Então porque havemos de fazer pesca jigging com um carreto de spinning?

Meditemos no seguinte: quando pescamos com um carreto convencional, digamos de spinning, a fixação é toda no sentido de recuperar linha. Porque queremos dar vida à nossa amostra, a qual lançámos a muitas dezenas de metros à nossa frente, aquilo que faz sentido é recuperá-la.
Não pescamos quando a seguir ao lançamento deixamos a amostra parada, a 60 metros do barco. Isso não pesca. A amostra pressupõe movimento, e só o conseguimos através do carreto, a nossa máquina de recuperar fio. A acção de pesca vai pois no sentido de enrolar linha na bobine.
Mas essa bobine é um elemento fixo. Há um eixo no interior do carreto que a obriga a subir e baixar, para que receba linha. Aquilo que enrola a linha na bobine é um rotor que se desloca na periferia da bobine, horizontalmente, aproveitando o movimento desta para cima e para baixo, de forma a garantir uma disposição de linha homogénea.
Há muita informação que se perde, porque o rotor que nos coloca a linha na bobine está a transformar o sentido vertical de chegada da linha ao longo da cana em movimento horizontal, a 90º, mudando a orientação do movimento, suprimindo sensações, roubando sensibilidade.


Um excelente carreto, o Daiwa Saltiga 2020, mas para fazer spinning.


Não é isso que acontece quando dispomos de um carreto próprio para jigging, com tambor móvel. Aí, o enrolamento de linha é feito directamente à bobine e por isso mesmo conseguimos detectar o menor atrito, leia-se prisão de jig, toque, mordida de peixe.
E por isso conseguimos reagir mais rápido. Dir-me-ão que não é muito mais rápido. Pois, …atenção! Não convém subestimar detalhes como este.
A diferença de tempo pode parecer-nos insignificante, mas uma picada de peixe dura uma fracção de segundo. Não dura um minuto. É algo que podemos definir como uma pancada, não é algo que se prolongue ou perpectue no tempo.
E se considerarmos que por vezes pescamos em condições de vento, de ondulação, de temperaturas baixas, de presença de outras pessoas bordo que nos distraem do essencial, e de outras condicionantes que por vezes nos parecem menores, pouco importantes, como o número de horas dormidas, estarmos ou não bem alimentados, hidratados, etc, então a resultante de alguns destes factores pode ser a diferença entre ferrar ou não ferrar o peixe.
Não pescamos com a mão e o antebraço permanentemente tensos. Isso só acontece quando sentimos que há algo mais que a resistência natural do peso do jig na água. E a diferença entre estar tenso, preparado para ferrar, e estar relaxado e apenas a recolher linha, é um toque, é uma sensação, uma suspeita de algo está a acontecer. É algo mais que nada. E isso por vezes dura muito pouco….por vezes mesmo quase nada. Quantas vezes chegamos tarde, não ferramos, não bloqueamos a linha, e o peixe vai embora? Quantas vezes estamos…”distraídos”? É isso mesmo: muitas. Logo… todos os milésimos de segundo contam. E os carretos de jigging, pela sua simplicidade operativa, dão-nos mais alguns milésimos de segundo de reacção.


Os carretos de slow jigging, estruturalmente mais fortes que os convencionais, dispensam guia fios. Trata-se de uma engrenagem que apenas irá fragilizar a máquina, e que não sendo indispensável, é retirada Menos peso, menos avarias.


A colocação da linha acaba por ser algo natural, que se faz instintivamente com o polegar, sempre que necessário, sempre que sentimos que a linha pode estar mais alta de um lado que do outro da bobine.
Existem muitas versões de máquinas destas com guia fios, o que facilita a manobra de armazenar linha de forma uniforme. O Daiwa Saltiga Bay Jigging, ou a sua verão mais económica, o Daiwa Catalina, cumprem perfeitamente a sua função.



As soluções que o mercado apresenta são inúmeras, e existe informação em abundância para que o pescador possa fazer a sua opção. Também a gama de preços é bastante alargada, desde 80 aos 800 euros...


Peças como esta, têm a robustez necessária, cumprem com todos os requisitos necessários a uma pesca exigente, e no entanto, têm um preço de 191 euros, algo que é acessível a qualquer pescador. 


E que diferenças mais podemos encontrar entre as duas versões de carretos?

Em termos técnicos, será mais fácil recuperar mais linha utilizando um carreto convencional. O rotor e a sua alça giratória ganham energia cinética que promove um impulso de recuperação mais fácil e mais forte.
Mas por outro lado a rotação centrífuga é muito alta, o movimento centra-se demasiado na recuperação de linha e algumas informações subtis perdem-se.
No carreto de jigging, a linha entra na bobine no mesmo sentido em que chega à cana. Isso é já de si uma vantagem. Temos uma melhor noção de chegada do jig ao fundo. Podem pensar: “mas isso é importante?”…
Acaba por ser. Uma das principais razões de perdermos jigs tem a ver com a sua prisão nas rochas do fundo. A outra que me ocorre é ser um peixe a carregar com o jig, por rotura da linha.
Mas, considerando a frequência de ambas as ocorrências, não há dúvidas de que são as rochas quem mais jigs nos roubam.
Reparem nisto: o jig, feito em chumbo, é mais pesado que as linhas onde estão montados os anzóis. Logo, por efeito do atrito da água, estes irão tocar o fundo sempre depois da peça de chumbo. Primeiro bate o jig, a seguir encostam os anzóis. Mais uma vez temos aqui apenas milésimos de segundo….mas o carreto de jigging, com apenas um movimento de manivela, bloqueia a bobine e começa a enrolar linha. Leia-se levantar o jig do seu contacto com fundo, ou se quiserem, afastar o jig das pedras.
É sempre mais rápido que aquilo que conseguimos fazer com o carreto convencional. No carreto convencional, baixar a alça e começar a enrolar leva efectivamente mais tempo. Levantar de imediato o jig do seu contacto com a pedra apenas torna menos provável a sua prisão, o seu enrocamento, mas isso já é uma ajuda.

De considerar ainda que o controle que temos dos movimentos do jig é maior quando utilizamos carreto de jigging.
Quando estamos concentrados na pesca, a linha dá-nos muita informação. Através dela podemos sentir as correntes, um quase imperceptível toque de um peixe, uma lula, até mesmo sentir se o fundo que tocamos é areia ou pedra. A batida do jig diz-nos isso.
Porque a ligação do pescador ao jig, utilizando um carreto convencional é menor, muitos desses elementos perdem-se irremediavelmente. E absorver todas essas informações é vital para a boa prática do slow-jigging.
Aí, vivemos de sensações, de informação.

Na próxima semana vamos falar um pouco sobre... canas de slow-jigging.

Votos de um bom ano para todos.

Abraço!


Vítor Ganchinho



1 Comentários

  1. Boa noite,

    Porque razão não se utilizam estes carretos nas pescas mais ligeiras e em águas menos profundas (<15m)? As vantagens apresentadas parecem, pelo menos logicamente, poder ser aplicadas à utilização de um jig de 7g a 10m de fundo, por exemplo.

    Não conhecendo a técnica, e nunca tendo utilizado um carreto de jigging, ocorre-me a possibilidade de os carretos de spinning poderem ser mais aptos a trabalhar com linhas e matérias ligeiros. Fará sentido?

    O jigging é uma prática que me desperta muita curiosidade. Não só pelos resultados mas também pela sua versatilidade. Quando um dia tiver oportunidade de ir mais para fora de barco irei experimentar, por agora vou me focando na prática do LRF e spinning com o material recentemente adquirido.

    Abraço,

    Duarte

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