SLOW JIGGING - AS CANAS - CAPÍTULO 6

Quando adquirimos uma cana de slow-jigging, a última coisa que nos deveria vir à cabeça é que essa cana seja resistente, que possa levantar em peso um peixe grande.
Porque isso nunca deve acontecer! Não é à cana que compete lutar com um peixe! A sua função não é essa. O trabalho de uma cana de slow-jigging é o de animar o jig, de trabalhar o jig, de o pôr a “dançar” na água, de convidar os peixes a mordê-lo. E a seguir, de os ferrar.
O resto do trabalho é feito por outro elemento do equipamento: o carreto. É ele quem tem poder e resistência para poder trabalhar o peixe. As canas não têm drag, embraiagem, e servem-nos a partir do momento em que ferramos o peixe, de elemento de passagem de linha.
Quando se pesca slow-jigging, a recolha do peixe não é feita da mesma forma com que recolhemos um atum com uma cana de Big-Game. Não bombeamos o peixe, antes o levantamos na coluna de água, e aproveitamos esse momento para enrolar mais linha. É de enrolar linha que falamos, é isso que nos irá trazer o peixe até nós. A cana fica apontada abaixo, na direcção do peixe, sem mais inclinação que aquela que pode e deve ser. Não esqueçam que as hastes de slow jigging, frequentemente, não pesam mais de 100 gramas. E podemos estar a puxar um peixe de 10 kgs ou mais. Toda a cana de slow jigging é feita e pensada para trabalhar a amostra, não para fazer força contra a força do peixe. Por isso, deixamo-la virada para baixo, e enrolamos linha calmamente, sem pressas, disfrutando do momento por que tanto ansiamos. Como diria alguém com provecta idade e um grande mestre: “não se irrita o peixe”. No fim da linha, estará a recompensa pelo nosso esforço: um magnífico peixe para o jantar da família.


Aqui tenho a cana virada para baixo, e deixo ao carreto a função de responder às investidas do peixe. Foto feita ao largo de Vila Nova de Milfontes, a 120 metros de profundidade.


As canas de slow-jigging têm características bem diferentes das canas de speed jigging.
Desde logo são mais finas, mais leves, com um efeito mais parabólico, e estão equipadas com elementos de alta qualidade em termos de tecnologia. Falamos de passadores e porta canas muito sensíveis, de enorme leveza, que nos transmitem muita informação. Quando executamos uma pesca mais agressiva, mais rápida, o speed jigging, não nos interessam canas macias, que demorem muito a recuperar a sua posição inicial. Praticamente todos os movimentos do jig são provocados por nós, pelo efeito do esforço de recuperação de linha e impulsos verticais que imprimimos à cana. Somos nós que trabalhamos e pouco deixamos à cana. Por contra, quando pescamos mais lento, slow-jigging, a técnica em si exige um comportamento da cana que não se coaduna com a rigidez anterior. Pelo contrário, promove-se a sua flexibilidade, porque nos interessam os movimentos amplos, em que a cana pende para baixo sob o efeito do peso do jig, e a seguir, por força da sua composição em carbono, retorna lenta mas firmemente à posição inicial. Será esse impulso que vai fazer “saltar” o jig na água, que irá dar-lhe movimento, e com isso, fazê-lo adoptar os característicos deslizes laterais que tanto atraem os peixes. Tudo o que fazemos imprime movimento ao jig, a começar pelo próprio enrolar de linha. A cana de slow-jigging apanha muita informação que lhe é transmitida pela linha. Dado serem hastes muito leves e sensíveis, passam-nos essa informação para as nossas mãos. Em jigging lento, a nossa acção vai mais no sentido de escutar aquilo que a cana nos diz, absorver a informação que ela nos transmite. Digamos que adoptamos uma postura de ficar à escuta.
São canas muito frágeis, sensíveis, também por isso algo caras, e merecem da nossa parte bons tratos. Aquilo que nos dão em termos de informação supera em muito o que é normal obter a partir de uma cana vulgar. Não podemos pedir é a um objecto com esta sensibilidade que ao mesmo tempo nos permita levantar em peso um peixe de 10 kgs! Para levantar um peixe grande e deitar com ele no interior do barco, seria mais indicado utilizar um pau de vassoura!


O autor a lutar contra um peixe grande, em África. O slow jigging é tudo menos isto. Para trabalhar um peixe de bom tamanho, a cana de slow jigging fica a apontar para o peixe e mais nada. O seu trabalho já foi feito.


Já vimos aqui nesta sequência de artigos que podemos executar o levantamento e excitação do jig através do carreto, ou da subida do braço portador da cana. O efeito de mola que uma cana destas possui, faz subir um jig, imprimindo-lhe movimentos interessantes para os peixes. Daí a importância da acção da cana, e do cuidado que temos de ter aquando da sua compra. Há que considerar a profundidade média a que iremos pescar, pois isso influencia o peso dos jigs a utilizar. E por sua vez estes determinam a acção da cana. Em caso de dúvida, vale sempre mais jogar pelo seguro, adquirindo uma cana de acção superior. Nada pior que tentar trabalhar um jig demasiado pesado para a cana que temos. Nunca resulta bem.
As canas de slow pitch jigging são desenhadas na sua estrutura para responder eficazmente a pequenos estímulos, e esses podem advir de maniveladas completas de carreto, meias maniveladas, um quarto de manivelada, ou ainda menos, ou de um pequeno impulso dado com o braço, tudo é suficiente para que a nossa cana imprima movimento ao jig. Há um ritmo certo de recolha de jig para cada espécie. Cada tipo de peixe tem hábitos e padrões de vida definidos, e por isso aquilo que serve para um pode não ser bom para outro. Há que, em função daquilo que queremos pescar, encontrar os ritmos certos. Tudo influência o comportamento do peixe, e nós negligenciamos imensos factores, sendo que, na minha opinião, um dos mais decisivos é a temperatura da água. Pescamos de Inverno com o mesmo ritmo com que pescamos de Verão. E não pode ser! Com águas frias, há que ser mais paciente com o peixe, dar-lhe um pouco mais de tempo.
Na nossa costa, podemos pensar que são os pargos, os robalos, os mais procurados pelos nossos jigs. Têm diferentes formas de perseguição de presas, e por isso cabe-nos tentar estimular uns e outros de formas diferentes.
Deixaremos isso para o último capítulo desta série.



Vítor Ganchinho



Artigo Anterior Próximo Artigo

PUB

PUB

نموذج الاتصال