SLOW JIGGING - AS LINHAS - CAPÍTULO 7

Como artigo final desta série dedicada ao slow-jigging, e porque a seguir iremos ter uns quantos dias direcionados para peixes de grande porte, queria fazer algumas referências aos equipamentos que complementam o conjunto de cana e carreto. A começar pelas linhas, elemento fundamental na transmissão de informação daquilo que está a acontecer lá em baixo.
O diâmetro de uma linha de slow pitch jigging não tem de ser elevado. Não precisa e nem pode ser elevado. Falamos evidentemente de linha multifilamento. Os nylons ou fluorocarbonos estão completamente fora desta equação.
Desde logo pelo diâmetro elevado que implicariam para conseguirmos resistências significativas, mas ainda mais pelo facto de serem linhas elásticas, com o óbice de não transmitirem a informação tão directa e imediata quanto aquilo que necessitamos.
Definitivamente, a linha é importante na sua entrega de dados, de informação, sobre os subtis toques dos peixes que trabalham no outro extremo do nosso sistema de pesca.
O ataque ao jig pode ser brusco, mas nem sempre o é. E mais que a violência da pancada do peixe, aquilo que nos faz mesmo diferença, aquilo que marca a pesca ou não pesca, é o tempo de reacção. Precisamos de ser rápidos a reagir, porque o peixe só nos irá dar uma oportunidade.
A ausência de alongamento da linha PE multifilamento é pois essencial nesta técnica, é ela que torna o nosso equipamento tão comunicativo. E quanto necessitamos de uma linha que nos dê, em tempo útil, a informação do que se passa na outra ponta, junto ao jig.
Para além de outros detalhes, o PE multifilamento é muito resistente na sua acção de resistência a esforços de tracção. Por outras palavras, não parte com facilidade quando o peixe puxa. E por isso mesmo, permite-nos pescar com diâmetros bem mais finos que os polímeros, o nylon ou fluorocarbono.
Ao ter um diâmetro mais fino, ajuda a eliminar os efeitos das correntes, na sua constante movimentação horizontal, e que se faz sentir ao longo de toda a coluna de água. Leia-se não faz seio, não nos prejudica a verticalidade da nossa pesca e isso é importante para podermos animar o jig com qualidade, mas também porque ao pescarmos na vertical, isso permite-nos afastar rapidamente o peixe de encalhes como plantas e rochas, logo a sua menor tolerância à abrasão não chega a ser um problema.




A linha mais vendida para fazer jigging é o PE#2, um padrão de referência que se universalizou. Bem sei que a maioria dos pescadores nacionais continua a querer trabalhar com medidas métricas europeias, mas forçosamente terão de se adaptar às medidas japonesas e por duas ordens de razões:
As linhas são produzidas no Japão, e por isso não é de estranhar que cheguem cá com evidentes reflexos de quem as produziu. Mas também porque se trata de um trançado de fibras que são compressíveis entre si, logo a medida que se obtém de diâmetro nunca poderá ser fidedigna e rigorosa. Porque depende da força com que se apertam essas fibras! A medida obtida depende da pressão que lhe dermos com o aparelho de medida, certo?
Tomemos como boa a informação de que o PE#2.0 corresponde a um diâmetro de 0.235mm. Dependendo das marcas e da sua qualidade de produção, podemos esperar uma resistência à tracção na ordem das 30 a 40 libras, se quiserem algo como 13.60 kgs a 18.14 kgs. Muito mais que o suficiente para a pesca que fazemos por cá.
Sabemos que não será a resistência à tracção aquilo que irá contar no momento de pormos à prova a nossa linha. Essa sabemos que será suficiente, mas o ponto fraco de todos os sistemas é outro: a capacidade de suportar esforços nas zonas dos nós. É aí que tudo se decide.
Por isso é tão importante saber fazer nós, e saber como os devemos preparar para aguentarem os esforços a que o nosso peixe os vai sujeitar. Os americanos medem e valorizam precisamente isso, o nó, ao passo que os japoneses continuam a utilizar a resistência linear como padrão.




As linhas finas têm vantagens evidentes sobre os diâmetros mais grossos. Não esqueçam que fazer slow-jigging implica pescar na vertical e para isso, a ausência de “barriga” da linha é um requisito importante. Quando pescamos com o jig longe do nosso barco, muitos detalhes subtis acabam por se perder.
Eu consigo pescar dessa forma, a zona onde normalmente actuo tem correntes significativas e por isso habituei-me a elas, mas aquilo que faço não é slow-jigging puro, é mais uma mistura de jig casting com a técnica lenta original. Por isso posso pescar com o jig em posição oblíqua. Mas reconheço que existem vantagens óbvias em pescar na vertical. E para isso, uma boa linha, de diâmetro fino, com revestimento a silicone (evita enleios, cabeleiras, provocadas pela agitação marítima e vento), ajuda imenso a que consigamos resultados. Em resumo, temos mais possibilidades de conseguir detectar os toques, e sobretudo a descida, quando pescamos mais fino. Para quem se sentir inseguro, a escolha por diâmetros superiores é sempre uma opção, mas se ganha em possibilidades de fazer força, acaba por perder em subtiliza, em sensibilidade.
A opção terá sempre de ser feita e começa na loja que vende o multifilamento. É bom saber que a decisão irá influenciar a jusante todos os resultados de pesca que iremos obter. Os argumentos dos dois lados são válidos: de que serve ter uma linha grossa que nos prejudica a pesca a cada instante, e do outro lado a constatação de que uma linha fina e frágil não irá suportar os esforços dos peixes maiores. Sem querer fazer disso bandeira para esta explicação, eu pesquei em 2021 um pargo de 11 kgs com uma linha PE 0.6, …com resistência máxima inferior a... 6 kgs.
Temos formas de trabalhar o peixe que vão muito além da resistência linear da linha, o drag do carreto, e temos …as nossas mãos. Por mim, a opção é evidente: prefiro ter mais toques, a seguir eu tratarei de os trabalhar e fazer chegar à superfície. Sem toques não pesco. E, sem querer tornar elitista a escolha de uma linha, existem produtos no mercado que, sendo mais caros, permitem que consigamos o melhor de dois mundos: pescar fino, e com margem de segurança. São linhas mais caras, mas quanto vale um bom peixe?

Nunca teremos a configuração ideal de equipamento, porque enquanto não houver uma evolução técnica dos produtos de pesca nesse sentido, vamos ter forçosamente de optar entre fino e grosso. Mas será que a quantidade de peixe acima de 15 kgs disponível nas nossas águas justifica que a opção seja feita pela resistência máxima, a força, em detrimento da subtileza, da sensibilidade? Quantos peixes nos rompem as linhas ao longo do ano? Parece-me que essa reflexão é importante e que a devemos fazer.

A seguir à análise que fizemos aos carretos, às canas e às linhas, parece-me importante incluir nesta reflexão um elemento que também tem um papel decisivo na pesca: o chicote de nylon ou fluorocarbono.
Normalmente deixamos pontas de 2 a 6 metros, dependendo da visibilidade das águas em que pescamos. Na zona de Setúbal, é corrente ter menos visibilidade, porque o arrasto de sedimentos do Sado acaba por nos turvar bastante as águas. Não é por isso que não pescamos.
É evidente que prefiro pescar com águas limpas, porque isso irá permitir-me pescar com jigs de cores naturais, os azuis ou verdes, em vez de optar por cores flash, mais vistosas, brancos, laranjas, etc. Mas não é nada que uma boa mochila com algumas caixas de amostras não resolva.
Os chicotes, que faço em fluorocarbono japonês Varivas, deixo-os mais longos ou mais curtos dependendo de ter 15 metros de visibilidade ou apenas 2 ou 3 metros. Poupo o fluorocarbono pelo seu preço mas mais ainda porque prefiro ter menos elementos elásticos no sistema. O trançado ajuda-nos a ferrar.
Porque não estica, recebe a pancada do peixe e actua de imediato, não oferecendo a elasticidade de um nylon. E por isso crava melhor. E esse é o ponto de partida para tudo o resto que se segue. Sem cravar o peixe podemos divertir-nos muito mas …não pescamos.
É minha opinião que existem fluorocarbonos no mercado que são mesmo muito bons. Eu utilizo sobretudo estes, em diâmetros que vão do 0.28 ao 0.33mm:




Em situações extremas, quando pesco em zonas com muitas estruturas e quero estar seguro que o fio, mesmo que roce na pedra não me irá deixar mal, aplico a versão mais cara, o Varivas fabricado com uma protecção de titânio.
Estas linhas trazem na sua embalagem uma cinta elástica que não deve ser deitada fora. A sua utilidade prende-se com a necessidade que temos de proteger as nossas linhas dos efeitos nocivos dos raios UV, Ultra Violetas, pois estes danificam irremediavelmente a qualidade das linhas quando se trata de exposições muito prolongadas. Qualquer polímero sujeito a uma longa estadia ao sol acaba por tornar-se instável, quebradiço, e por isso menos resistente.
É tudo aquilo que não queremos, logo, manter a protecção da cinta elástica é importante.
Relativamente a diâmetros utilizados, procuro manter o padrão dos 0.33mm, mas se me parecer que as rochas afiadas do fundo e o tamanho dos peixes que as sobrevoam pode ser significativo, consigo subir até aos 0.37mm.
E já sobra…




Vamos ver a seguir o último elemento que nos falta, o jig.
Deixemos para amanhã a peça que irá enganar os peixes.



Vítor Ganchinho



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