SLOW JIGGING - OS JIGS - CAPÍTULO 8

Temos vindo a trabalhar neste tema do slow-jigging, de A a Z, que é como quem diz, da cana, carreto, linha multifilamento, baixada, e já estamos muito próximos do fim.
Vamos ver hoje questões relacionadas com a quantidade de acessórios que devemos aplicar junto ao jig, de forma a conseguirmos obter os melhores resultados.
Como ponto prévio, devo dizer que, na minha opinião, devemos simplificar tanto quanto possível a nossa pesca. Não acredito em soluções que penduram um pouco de cada coisa, até que finalmente já não temos um jig pendurado de uma linha, mas sim uma árvore de Natal completa, enfeitada com tudo o que são fitas e bolas, figurinhas e brilhos. No meio aquático, todos sem excepção, presas e predadores, procuram ser o mais discretos possível. E isso não passa exactamente por adoptar comportamentos barulhentos, com o intuito de dar nas vistas, mais próprios de um qualquer vendedor de farturas na feira. Ser discreto compensa, dá pelo menos mais um instante de vida num meio aquático onde a cada segundo pode acontecer algo de ruim.

Vamos então ver o que faz falta ou o que pode ser dispensado.


Aqui temos a argola de um jig, com uma argola fendida na qual entra uma argola fechada, da qual pende um assiste duplo. O Raúl não utiliza destorcedores nunca.


Numa situação standard, o nosso leader é, em jigging pesado, amarrado a um anel sólido, (mostrar-vos-ei como fazer o nó no primeiro workshop a realizar nas instalações da GO Fishing em Almada, tão mais depressa quanto esta pandemia nos deixar fazer uma reunião de grupo), o qual por sua vez é conectado a uma anilha bipartida. Este por sua vez, vai ligar ao jig. E a seguir, vamos adicionar uma outra argola fendida para colocar um assiste, simples ou duplo. Desta, de novo irá ser lançada uma anilha sólida, fechada, e então sim, os anzóis. E ainda há quem aplique a esta panóplia de bugigangas um destorcedor, que faz aqui tanta falta como o cancro da mama, e só serve para criar ainda mais resistência na água. Muita conversa para algo que se pretende simples, e na verdade é, mas que ainda assim abusa da quantidade de acessórios. Com isto, não estaremos longe de ter uma magnífica árvore de Natal engalanada, e não é isso que queremos.

Vejamos como devemos organizar a nossa baixada, de forma a obtermos o máximo possível de contactos, picadas. O princípio básico é este: fazer simples para com isso estarmos mais próximos da simplicidade da mãe natureza.

Sem dúvida, necessitamos do troço de nylon, ou preferencialmente por razões de resistência à abrasão dos fundos, um bom fluorocarbono. Deixaremos, como vimos nesta sequência de artigos, entre 2 a 6 metros de comprimento, dependendo da visibilidade das águas ser menor ou maior.
Eu faço um nó FR entre o multifilamento e o fluorocarbono, pelo que, ao sair de casa já está tudo previamente preparado. São tarefas que prefiro fazer em casa, para que ao chegar ao local de pesca possa apenas disfrutar da pescaria sem me preocupar demasiado com logística. Para além disso, adoro passar algum tempo a preparar a pesca seguinte, em casa. Numa primeira fase, deixo normalmente um troço de linha mais longo, uns 4 ou 5 metros. Esse é o ponto de partida. Se não houver azares de maior, se não tiver o "azar" de conseguir peixes demasiado grandes, ou se sentir que a linha não roçou em perdas ou gorgónias, por uma questão de preguiça, dou o sistema como bom e corto apenas a parte final da baixada, para voltar a fazer um novo nó. De qualquer forma, passo sempre os dedos pela linha e verifico se tem alguma marca de irregularidade, de falta de brilho, que me indica uma zona frágil. Dessa forma, poupo linha e tenho sempre uma situação segura junto ao jig. O nó de ligação ao jig, um Palomar reforçado, esse refaço sempre, não vou pescar com os nós do dia anterior. Não esqueçam que os nós são a parte frágil da nossa baixada. Para que tenham uma ideia da sua importância, dou-vos este exemplo: os pescadores de jigging rápido, speed jigging, chegam ao extremo de pescar apenas algumas horas com cada nó feito, sendo que o substituem ao fim de x tempo.
Também quando são utilizadas linhas de nylon muito finas como baixada, digamos um 0.18mm, em micro-jigging, é de bom tom substituir os nós com regularidade, pois a deslocação destes na água a altas velocidades, enfraquece-as, queima-as por atrito.
Voltamos à questão da montagem de slow-jigging. Queremos ter nas mãos um sistema simples, que nos dê segurança e ao mesmo tempo sensibilidade para sentirmos os toques mais ínfimos. Não é por acaso que adicionamos ao trançado uma ponta de fluorocarbono: o trançado, sendo muito resistente a esforços longitudinais, é no entanto muito frágil em esforços de corte da sua secção, esforços transversais. Rompe com facilidade. O menor contacto com a pedra e o peixe já foi embora. Assim, o primeiro objectivo é esse, o de fortalecer o conjunto. A seguir, pois falemos de visibilidade: sem dúvida o multifilamento é bem mais visível que o polímero. Logo, sem dúvida, a primeira decisão está tomada.
Não entendo como importante a questão do amortecimento proporcionado pelo nylon. A questão da  absorção dos impactos provocados pelos puxões do peixe. Pelo contrário, esse factor de alongamento do nylon, ou em menor escala do fluorocarbono, parece-me mais prejudicial que benéfico aquando do momento crítico da picada. Queremos que o peixe bata e se crave por si, sempre que possível. Queremos aproveitar ao máximo as picadas do dia! Se a linha da baixada é elástica, o que estamos a fazer é tudo menos isso. De resto, temos outros meios de conseguir amortecer os esticões do peixe, desde logo a acção da cana, a seguir o drag do carreto, e por fim, a inclinação que podemos dar à cana, mais ou menos agressiva.


Peixes que não têm demasiado peso, e que por isso não têm um potencial acrescido de ficar cravados por si, necessitam de sistemas simples, mas firmes. A soma de demasiadas articulações no sistema pode prejudicar-nos. Aqui, temos apenas uma, a da argola que o Raúl colocou na fateixa. A linha da baixada liga directa ao jig.


Que diâmetro utilizar na baixada? Isso é uma resposta de um milhão de euros: depende sobretudo dos peixes. Quem pesca em Madagáscar utiliza canas fortes, baixadas grossas de 2mm, e pode não chegar. Quem pesca em Setúbal utiliza canas e linhas finas 0.28mm e pode até sobrar. Tudo depende do alvo, e das condições de pesca que temos. Para mim, para pesca nacional e na maior parte dos casos, um baixo de linha em 0.33mm é mais que suficiente. Já me dá conforto que chegue para me atrever a dar luta a peixes com tamanho, inclusive acima de 8 kgs. Se não os houver, um 0.28mm já sobra. Queria que ficassem com a ideia de que, à medida que baixamos o diâmetro da linha de nylon, subimos as possibilidades de obter picadas. Isso é válido para outros tipos de pesca, não só para o jigging. Pescar sargos de dia, fora da rebentação com um nylon de 1mm, é um suicídio. Temos zero picadas. Mas com um 0.12mm comem facilmente, entram todos. A questão é determinar qual o diâmetro máximo que podemos utilizar sem quebra de picadas, ou se quiserem, qual o diâmetro mínimo a que os peixes nos obrigam, sem ficarmos com o coração nas mãos a cada toque.
Como dito acima, a nossa opção deve depender sempre da expectativa de capturas que temos para o local em questão. E também, já agora que falamos disto, também da profundidade a que estamos a trabalhar. Não é igual pescar a 15 metros, ou a 120 metros. A quantidade de linha que temos fora do carreto, em comprimentos curtos, tem menos possibilidades de absorção de choques que uma linha muito mais longa. Neste último caso, os impactos dos esticões dos peixes serão absorvidos e dispersos por toda uma extensão de linha. Por isso mesmo, o momento crítico da pesca são os últimos dois metros, quando o peixe já está a chegar à superfície. Têm no blog um filme com a captura de um robalo feita pelo meu amigo Fernando Santos, em que, no último instante, havia um robalo de 3 kgs pendurado de 1 metro de linha, completamente esticada. Não foi embora, porque estava muito bem ferrado e porque a cana utilizada era na circunstância uma cana de Light Rock Fishing, super macia, parabólica. Ou teria ido embora, por partir a linha, ou rasgar a boca. Naquele momento, e pelos vistos, eu era a única pessoa alarmada com a situação, já que o Fernando estava apenas focado em meter o peixe pela ponteira de 1 mm…
A luta do peixe, enquanto há muita linha saída, é sempre mais difícil, já que para além de ter de vencer a resistência da cana e pressão do nosso braço, também tem de combater a resistência da água à passagem da linha. Acumula desgaste.
A qualidade dos materiais utilizados hoje em dia dá poucas possibilidades ao peixe, se actuarmos sem erros. O que pode valer a um peixe? Observando de forma fria, aquilo que pode acontecer que nos prejudique a captura é mesmo o tamanho excessivo do exemplar em relação ao equipamento que temos nas mãos, (podemos não o conseguir travar) e a configuração do fundo, mais ou menos irregular, com estruturas onde possa partir a linha. De resto só mesmo a menor resistência dos nós da baixada ou a menor qualidade dos anzóis, que podem abrir. Trabalhando bem, quase sempre o peixe sobe.

Em resumo: baixadas tão simples quanto possível, e linhas tão finas quanto aquilo que o peso dos peixes nos permita.
Amanhã iremos então chegar aos jigs, quase a …última peça do sistema.



Vítor Ganchinho



2 Comentários

  1. Boa tarde Vitor,

    Os nós que devemos aplicar nas mais variadas situações é um excelente tema.
    Os nós quando mal executados ou quando não são aplicados de forma correta, são os principais responsáveis pela rutura das nossas linhas e raramente perdoam uma falha de atenção.

    Abraço,
    A. Duarte

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    Respostas
    1. Bom dia António! Vamos falar sobre eles aquando do nosso primeiro workshop na GO Fishing em Almada.
      Mas as condições vão ter de nos permitir ter a casa cheia, e isso neste momento não é possível. Vamos ver se a pandemia passa.

      Há peixe lá fora, está excelente...


      Abraço
      Vitor

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