Este é um capítulo caro aos meus leitores, porque centram a sua atenção na peça que irá ser mordida.
Não devem subestimar a importância de todos os outros componentes…mas ainda assim, e porque sei que olham para os jigs como sendo os actores principais, pois aí vai a minha visão daquilo que é o trabalho de um jig.
Os formatos variam de acordo com os fabricantes, e necessariamente uns serão mais equilibrados que outros. A predominância é o curto e achatado, o jig largo, o formato moeda, e não o formato agulha.
Mais alongados ou mais curtos, mais estreitos ou mais largos, a principal característica do equipamento de slow jigging é o equilíbrio central, que faz deles as peças que queremos ter quando se trata de fazer deslizar lateralmente na água, algo que é tomado pela fuga de um pequeno peixe. Um jig com mais peso de um lado que outro, “cabeçudo”, adopta uma posição de queda virando sempre para o lado mais pesado. Desce muito rápido pois oferece um ponto de apoio à força de impulsão da água muito estreito.
Por outras palavras, a acção de gravidade faz-se sentir de forma determinante em jigs longos e estreitos, com mais peso numa das pontas, pois retira-lhes a sua capacidade de planar. Estes jigs nunca ficam numa posição horizontal, logo a sua queda é abrupta e pouco interessante. Têm a sua utilidade para outros tipos de pesca não possíveis com jigs lentos, nomeadamente grandes profundidades e zonas com correntes fortes.
Há ainda alguns que de jigs têm muito pouco, são de tal forma mal concebidos que aquilo que fazem é partir disparados para o fundo num movimento rodopiante excêntrico, vertical, em forma de funil, que nunca por nunca poderá ser confundido com a queda de um peixe ferido. Fabricantes há que apostam tudo em meia dúzia de cores mais chamativas e dedicam muito pouco tempo a ensaios de mar ou até de tanque de testes. E como isso é importante quando se pretende oferecer ao mercado um produto credível.
Devemos entender as limitações dos fabricantes: não há um jig único bom para todas as situações de pesca. Se temos águas paradas ou pelo contrário trabalhamos em correntes fortes, se pescamos em fundos rasos ou em grandes fundos, isso irá necessariamente mudar as premissas da acção do nosso jig.
Para complicar a questão, existem pescadores que apostam em fazer “Long Fall Jerk”, e outros que fazem “Slow Pitch Jerk”, ou seja, uns levantam o jig utilizando toda a extensão da sua cana e deixam-no cair, e outro actuam sobre a capacidade da cana em dar um impulso na peça para cima, e fazem assim curtos lances, entrecortados por um ou outro movimento de braço. Uns pescam mais rápido, outros mais lento, a dar tempo ao jig para trabalhar. Não há fabricante que tenha a capacidade de agradar a todos, produzindo uma única peça para tudo isto. São conceitos de pesca diferentes. As pessoas pedem-nos, sem dúvida, da mesma forma que me pedem a mim canas que sirvam para tudo, desde o spinning de costa ao jigging pesado, do trolling à pesca vertical. Querem uma cana que faça tudo e isso …não existe. Manda a seriedade explicar a essas pessoas que não é possível. Logo de seguida vão procurar a outro lado, porque eu não tenho o produto certo…
Para não nos dispersarmos demasiado, vamos focar a nossa atenção nos jigs fabricados para slow-jigging.
O jig para pesca lenta não é necessariamente simétrico, pelo contrário: tem uma parte quase plana e a outra ligeiramente abaulada, com mais chumbo, mais peso. Isso irá determinar a posição em que o jig irá descer aos fundos, e a manutenção da sua horizontalidade. É comum que nem sejam pintados com as mesmas cores, deixando a parte que pressupostamente irá sempre virada para baixo com cores mais escuras, e a outra metade, visível de cima, com cores mais claras. Para o predador isso é uma inversão da posição natural de um peixe, (barrigas brancas e dorsos escuros) logo é um aviso de que ali vai uma potencial presa em dificuldades. A peça de slow-jigging baseia a sua acção em produzir uma queda controlada, previsível nas suas intermitências, e tem como principal característica a sua capacidade de deslize horizontal. Isso prolonga o tempo de descida, atrasa a inevitável chegada ao fundo. Entretanto, e enquanto executa uma série de padrões de queda, …pesca. Já aqui vos expliquei da enorme vantagem em estar atento à fase de descida dos jigs, pois é aí que a maioria dos peixes irão morder.
Em termos gerais, o jig lento é mais eficaz que o rápido, pois pode ser usado em mais situações de pesca. Isso não significa que os outros não sejam úteis, pelo contrário, pois há momentos e situações em que o jig lento não nos permite pescar, de todo. Mas regra geral os jigs lentos dão-nos informações que os outros não conseguem dar. Aquilo que fazem de melhor é mesmo escorregar lateralmente, deslizar, provocando os ataques dos predadores.
A grande diferença entre um jig de alta velocidade e um jig lento, é que o primeiro tem uma acção que é na sua maioria controlada por nós, que não lhe damos a possibilidade de fazer mais que reagir aos movimentos da nossa cana durante uma fracção de segundo, e o segundo, o lento, que inverte essa situação para o oposto: um pequeno e curto movimento da cana é o suficiente para o animar durante um ou dois segundos, num deslize suave que convence aqueles que o irão morder. Os jigs de melhor qualidade, mais equilibrados, de melhor hidrodinâmica, podem mesmo manter este movimento durante 3 segundos. Isso quer dizer exactamente que, enquanto no speed jigging nós impomos uma velocidade de movimentos grande, sem intervalos, em slow-jigging damos tempo, intervalos de acção, para que o jig faça o seu trabalho.
Falta-nos ver a questão das cores. Penso que a maior parte das pessoas não tem a noção de que os peixes não as veem como nós. E a certas profundidades, algumas cores deixam de ser visíveis. Se clicarem AQUI, vão encontrar um artigo dedicado a isso, publicado no blog o ano passado.
A decisão de adquirir esta ou aquela cor é feita na loja, quando temos uma série de possibilidades à nossa frente. Na maior parte dos casos, fazemo-lo por uma questão de simpatia, de gosto pessoal, sem considerar que quem tem de gostar são os peixes.
Tenho para mim que devemos garantir que na nossa mochila teremos quatro possibilidades de jigs distintas:
1- Jig lento para águas abertas, claras, em tons naturais, verdes ou azuis, com peso mais leve. Iremos utilizar esta peça quando não temos correntes.
2- Idêntico, mas com peso mais elevado, para situações de maior profundidade.
3- Jig rápido para águas tapadas, rasas, em cores flash, branco, amarelo, laranja.
4- Idem, mas com peso mais elevado, para situações de corrente ou maior profundidade.
Menos do que isto é não estar minimamente equipado. Porque não queremos que devido a um qualquer acidente, um encalhe na rocha, um peixe de maior porte que nos leva o jig, etc, então a compra de 8 jigs, dois de cada, impõe-se. Mas sob este critério geral.
No fim, aquilo que vai acontecer é que iremos preferir um deles. Isso quer dizer exactamente que vamos, em situações de profundidade e corrente idênticas, preferir sempre aquele. E por isso mesmo vamos pescar mais peixes, por o utilizarmos mais tempo. É assim que se constrói o mito do jig …da sorte.
Quando pescamos com amostras de spinning, os peixes veem perfeitamente as cores. Os raios solares penetram na água até à zona fótica, e nos primeiros metros, aqueles em que uma amostra trabalha, todas as cores são visíveis. Mas quando lançamos um jig para o fundo….pode não ser exactamente assim.
Dependerá em primeira instância da visibilidade da água, da profundidade, da quantidade de sedimentos, etc, etc. Sabemos que os verdes e azuis são as ultimas cores a desaparecer nas profundidades. O vermelho, a partir dos 10 metros é virtualmente invisível. No limite, quando lançamos para grandes fundos, nem luz lá chega, pelo que a escolha é aleatória. E isso quer dizer que estamos a apelar a outros sentidos do peixe que não a visão.
Os peixes evoluíram no sentido de se poderem alimentar mesmo em condições de ausência total de visibilidade. Criaram as suas próprias estratégias de sobrevivência e isso passa por aproveitar informação dada pelos seus sensores da linha lateral. Num mundo de pouca visibilidade porventura detectar as vibrações, os sons, os ruídos (não é a mesma coisa), podem ser determinantes na sobrevivência num meio ambiente agreste. Porventura, a audição pode sobrepor-se à visão na maior parte dos casos. O sistema de detecção de sons pode mesmo ser o sentido preferencial, dado que estes se propagam muito mais rápido e mais longe na água que no ar. Quando mergulho e estou submerso a alguns metros, percebo os sons de uma forma muito diferente, mais viva, mais detalhada. Pelo ruído, encontro sargos que estão entocados nos buracos estreitos, em falhas na rocha, e têm o azar de tocar com a barbatana dorsal na rocha. Aquilo que se sente é um crepitar, como que uma sequência de estalidos. Se querem uma imagem muito próxima, algo como aquilo que escutamos quando estamos no barco e começa a chover. Os pingos da chuva a bater na superfície da água são algo de parecido. A diferença é que o som debaixo de água é mais localizado na zona dos peixes e é mais forte, mais perceptível. Os nossos peixinhos sabem tudo sobre isso. E nós estamos a lançar-lhes jigs coloridos, a pensar que a cor é mais importante que a vibração.
Assim sendo, na minha opinião, devemos preocuparmos menos com as cores e mais com a acção do jig. No caso do slow jigging isso é fundamental.
Quando não sabemos o suficiente, a opção correcta é não comprar nada.
A informação técnica existe, mas se não quisermos disponibilizar tempo para a obter, então resta uma alternativa que também é válida: perguntar a quem vende os jigs aquilo que melhor resulta na zona onde pescamos habitualmente.
Essa pessoa, caso seja pescador de jigging, pode aconselhar e evitar a compra desnecessária de peças que não se enquadram naquilo que deve ser utilizado. Repito: caso essa pessoa saiba de jigging, caso pesque regularmente com esses equipamentos.
Vítor Ganchinho