DOIS ANOS DE ANZÓIS LANÇADOS À ÁGUA...

Vivemos num mundo cada vez mais imediatista. Vivemos o dia.
A cultura expressa-se hoje por ruas demasiado estreitas, por onde não passa muita gente: uma foto, uma frase curta, e um repentino clique de saída. Parece não haver paciência para muito mais.
Duas frases são um livro e para esse, não há tempo. Aquilo que excede breves segundos de atenção é uma semente lançada a terreno pouco fértil para que cresça.
Haverá muita gente para quem ler em diagonal algumas letras de uma simples frase solta já representa em si um exercício esgotante. Algo dispensável, porque cansa.

É pena que assim seja, mas as pessoas distanciam-se por completo de tudo aquilo que as faça pensar de forma profunda. Que as faça interrogar-se. Admito que a velocidade a que se vive, o leque imenso de possibilidades de leitura, (em ecrãs cada vez mais pequenos e por isso com menos espaço para letras), não convida a demoradas análises.

E a pesca não é diferente, porque faz parte de um espaço lúdico pessoal que engloba demasiados temas. Ninguém pesca ...apenas.

A leitura sobre pesca é por isso algo de muito pouco prioritário, e assim se explica a razão pela qual fecharam no nosso país todas as publicações em formato papel. Subsiste o Jornal “Noticias do Mar”, do eterno Antero dos Santos, para quem tenho o prazer de escrever vai para 30 anos. Há menos pessoas a ler, e menos ainda a interagir com quem escreve. E por isso, quem aceita escrever irá tendencialmente encontrar mais e mais motivos para deixar de o fazer. Por pura desmotivação.
Passar ideias para um papel é um acto de partilha, e isso não se coaduna com um monólogo persistente.
Ficará certamente um vazio, a ser ocupado por resmas de fotos e frases curtas inconsequentes, que pouco constroem, pouco ensinam. E todavia, é aquilo que se consome hoje.

Mas será que quando falamos de pesca há assim tanto por onde escolher? Existem assim tantas publicações com algo de bom, com qualidade suficiente para que mereça ser lido?
Ocorre-me isto a propósito da celebração do segundo aniversário do blog peixepelobeicinho. Sim, fazemos hoje dois anos, a publicar neste espaço cinco dias por semana.

São mais de 131.500 visualizações, mais de 670 artigos publicados, uma imensidão de trabalho, de letras a seguir a letras, de fotos que, devemos admiti-lo, não serão as piores que circulam pelas plataformas da nossa “praça”. A informação vale o que vale, será eventualmente útil para quem dela necessita, e porventura completamente inútil para quem acha que já sabe o suficiente.

Mais do que dar peixe, sempre me preocupei em dar pistas que obriguem a aprender a pescar. Estimulo a pensar a pesca antes da sua execução. Porque é da reflexão que surge a luz. É da obrigatoriedade e necessidade de entender o desconhecido que nos chega o conhecimento.
Vejo a pesca como algo que nos dá indiscutível prazer, algo muito motivador, mas que também levanta questões, problemas. É difícil entender os comportamentos dos peixes, têm dias francamente difíceis.
Mas é precisamente isso que nos motiva a ir. Essa é a linha vermelha. Tem mesmo de ser difícil.

 
Se for fácil e imediatista, deixa de ser para mim…eu não sou de uma foto e uma frase.



Vítor Ganchinho