E OS VENENOSOS, SENHOR?

Digo-vos que são um pitéu!

Temos na nossa costa um leque de peixes que normalmente vai às nossas iscas e amostras, mas nunca trazemos para casa.
Temos deles um verdadeiro pavor, medo de que inadvertidamente nos possam picar, e dessa forma injectar o seu incómodo veneno.
E se os rascassos, os peixes aranhas, saltam, pulam e se contorcem para nos conseguirem ”filar” com os seus espinhos! Eles fazem tudo para nos tramar, porque a sua vida depende exactamente do sucesso com que o possam fazer.
Caso consigam, temos uma “missa cantada”, dores lancinantes que levam a pobre vítima ao desespero.

O blog preocupa-se com este tipo de casos, que podem chegar a ser francamente graves, mas só se não tivermos toda a informação na nossa mão.
Hoje o dia é para revisitarmos as picadas de peixes que nos podem fazer interromper a nossa saída de pesca, e estragar a pesca a todos aqueles que forem connosco.




Digo-vos que uma picada de um peixe venenoso dos nossos, não é caso para alarme. Quem vos diz isto é alguém que, sendo guia de pesca, já foi picado mais de cem vezes e está cá para contar como foi.
Os clientes puxam para cima os rascassos, ou os aranhas, e a primeira tendência é para os acharem bonitos...
E daí até tentarem lançar-lhes a mão é um ápice. Quer um quer outro, se tocados, arranjam um problema difícil de resolver para quem está a bordo.
As dores surgem ao fim de alguns segundos, a mão ou o pulso começam a inchar, a ficar negros, e as dores aumentam a cada minuto. Quando chega a fase de começar a latejar, a pessoa perde o controlo sobre si própria, e cede às dores. A partir daí, a pesca acabou para todos.
Eu procuro intervir a tempo, evitando dissabores aos clientes, e que cheguem à fase de ser picados. Quantas vezes à custa de mim próprio, que lanço as mãos à frente e retiro, com a brusquidão que se impõe, o peixe do alcance das inocentes mãos que o querem pegar. As pessoas não sabem, quantas vezes não são nacionais, logo não têm a menor ideia do que se segue a seguir à picada.


Peixe bonito, pescado pelo meu amigo Theo, a bordo do meu barco Sprint. É um miúdo maravilhoso, e vai dar pescador, de certeza!


No caso de contacto, e desde que os espinhos consigam inocular o veneno, temos de ser precisos nos nossos gestos, saber exactamente o que fazer, para evitar problemas.
Digo-vos que há mortes provocadas por estes peixes, devido a complicações cardíacas que podem advir. Continuando, a primeira medida é tratar de lançar à água o peixe, não o deixar ficar a bordo.
Uma picada para tratar chega, não queremos avolumar o problema.
De seguida, vamos tratar de encontrar uma fonte de calor. Serve-nos um varão do barco, se for Verão, ou qualquer superfície exposta ao sol. Tudo aquilo que estiver quente nos pode ajudar, seja qual for a sua natureza.
Caso não consigamos nada à mão, colocamos o motor do barco a trabalhar. Ao fim de poucos minutos, teremos o motor suficientemente quente para resolver a questão.
Aplicamos a mão, ou qualquer outra zona do corpo atingida, directamente sobre a superfície quente. Bastam uns minutos, menos de 5, e está feito. É continuar a pescar, normalmente, sem dores nem problemas.
Um pouco de Betadine, apenas para desinfectar a ferida, porque se houve contacto, houve perfuração. A bordo temos anti-histamínicos, etc, mas aquilo que é importante é mesmo o calor. E porquê?

O veneno destes peixes é de origem proteica, uma proteína. Dentro do meio líquido, o peixe tem temperaturas estáveis, a oscilar entre os 12 e os 21º C, pelo que não tem de se preocupar em produzir um veneno que actue a valores muito mais altos.
Assim sendo, quando aplicamos 30 ou 40ºC, o veneno desfaz-se por acção do calor.




Entretanto, eu vou pescando estes peixes e, desde que tenham tamanho, trago-os para casa. A sua carne é particularmente firme, branca, a sair às lascas.
Por vezes, passo em zonas onde sei que existem, e de bom tamanho e não hesito em parar e lançar um jig para o fundo. Ao fim de alguns anos de prática, já se desferram a segurar na beiçola inferior, sem problemas.
Mas para ganhar prática, não queiram saber a quantidade de vezes em que o processo falhou... por isso, façam-me um favor: utilizem um alicate.
Passo-vos algumas fotos de peixes que me deram alegrias.


Os aranhas são absolutamente deliciosos, se bem cozinhados. Carne branca, rija, de um peixe agressivo, que vende cara a sua derrota.


Caso sejam picados, e isso pode acontecer sempre que saímos para o mar, mas também quando levamos a família à praia, (os aranhas pequenos também picam), lembrem-se deste artigo, lembrem-se que o peixepelobeicinho.blogspot.com é mais que um vulgar expositor de baldes de peixes...



Vítor Ganchinho



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