OS ANZÓIS ASSISTES - SUA COLOCAÇÃO NO JIG - CAP. I

Continua a haver muitas dúvidas sobre este tema. Há pessoas que não conseguem decidir de que forma poderão/ deverão armar os seus jigs.
Penso mesmo que elas existirão sempre, pois a quantidade de factores que podem fazer pender a balança para um ou outro lado, são imensos.
O trabalho de hoje tem a ver com a decisão de aplicar mais ou menos anzóis, e fazer ou não um mix entre anzóis assistes e um tripo.
Devo dizer-vos que não existe uma resposta única e certa, as possibilidades são várias e não necessariamente uma melhor que outra. São diferentes.
Que razões podem fazer-nos pensar que estamos certos, ou …errados? Afinal de contas, que diferença faz? É possível que estejamos errados? Se tivermos algo de anzóis pendurados dos nossos jigs, não chega, não estamos sempre bem?
Nem sempre.


Este pargo de 5 kgs mordeu um jig Shimano, um Coltsnipper de 30 gramas com o qual pesco frequentemente. Na circunstância armei este com um assiste duplo e um triplo. 
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Vamos elencar os factores que jogam a nosso favor e contra, e ao chegarmos ao fim porventura já saberemos o suficiente para poder optar em consciência, em função das circunstâncias.
Parece-me importante referir o seguinte: todo o equipamento de pesca, sem excepção, deverá estar ajustado ao tipo de pesca que queremos fazer. Eu quando saio a pescar na baía de Setúbal, não espero ter muitos ataques de pargos de 15 kgs. Seria mais natural procurá-los no Algarve, por exemplo. Mas sei que tenho na minha zona um número de peixes muito superior ao que posso encontrar em quase todo o restante país. O Estuário do Sado verte águas muito ricas em nutrientes. Consequentemente, com muito boas condições para a existência de fitoplâncton, o qual por sua vez alimenta uma barbaridade de toneladas de zooplâncton, e daí até haver cavala, sardinha e carapau com fartura, é um passo.
E todos os que se alimentam destes pequenos peixes, acabam por vir atrás, atraídos pela abundância de alimento. Não temos certamente os maiores pargos da costa portuguesa, mas podemos medir-nos em quantidade, isso sim.
Aquilo que leram acima, para quem sabe ler nas entrelinhas, já dá uma pista segura sobre o tipo de armamento a colocar. Mas ….continuemos.
Se a nossa opção for a de equipar os nossos jigs com assistes grandes e fortes, (aqueles que certamente nunca abrem), feitos em arame de aço grosso, pesados, próprios para peixes com peso e trapio, aquilo que irá acontecer é que vamos ter uma percentagem de toques versus capturas concretizadas bastante baixa. Um assiste ou um triplo feitos em arame mais fino, espetam muito melhor. Mas exigem outro tipo de cuidados, e até outro tipo de canas, mais macias.
Com anzóis de grandes tamanhos, mais fáceis de ver e a emitir ruídos significativos, (o contacto do anzol com o corpo do jig não é propriamente silencioso) a desproporção de tamanho que existe entre o corpo do jig e os anzóis também inibe de alguma forma as picadas.
A diminuição de ataques é notória mas não a podemos considerar como elucidativa, dado que um “não ataque” não é mensurável. Quando o peixe não morde, nós não sabemos que está lá, ou teremos apenas uma vaga ideia de eventualmente poder estar quando espreitamos pela sonda. Mas o “nada” não nos permite grandes contagens. Se o peixe não morde, não pescamos, nada acontece que seja elucidativo do nosso erro. Só começa a contar quando há contacto.
Ao diminuímos um pouco o tamanho da fateixa, ou assistes, começamos a notar que algo se passa. Um toque aqui e outro ali, e algo começa a fazer sentido. Mas, porque ainda temos anzóis demasiado grandes, é natural que tenhamos algumas picadas falhadas.
O peixe bate, por vezes até forte, mas no instante seguinte temos o jig solto, sem carga.
Isto quer dizer que ainda não está bom. Nada pior que sentirmos o peso do peixe, o ataque, e a seguir…nada. Ficamos com a linha solta, leve. Esse é sempre um sentimento de vazio, de desconsolo, porque é tudo aquilo que não procuramos quando saímos a pescar.
Quando diminuímos um pouco mais o tamanho dos anzóis, começamos a ferrar de forma franca, a cada mordida. Ok, este é o ponto. Já encontrámos o padrão, aquele tamanho de anzóis que resulta para o pescado que, nesse dia, àquela hora, está disponível naquele pesqueiro.


Este robalo entrou-me a um jig da marca Little Jack, versão 40 gramas, equipado com dois assistes duplos.
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A experiência de muitos anos de pesca dá-nos respostas que os livros não dão. Em teoria, todos os jigs produzidos numa fábrica saem equipados com a melhor solução possível.
Convém não esquecer que foram exaustivamente testados, por vezes durante anos, e isso é já um garante de qualidade. Acontece que o produtor não fabrica para este ou “aquele mar”. Fabrica para todos, quer vender os seus productos em todo o lado, porque deseja o sucesso comercial da sua empresa. Cabe-nos a nós entender o conceito daquilo que sai de fábrica, e adaptar à nossa realidade. Eu mudo quase tudo!
Poucos jigs me chegam em condições de poder pescar com eles de forma directa, por uma razão simples: os produtores estão do outro lado do planeta!
Eles fabricam de acordo com directrizes recebidas dos engenheiros de campo, aqueles que testam o producto numa base diária, de forma exaustiva. Mas testam-nos nos peixes deles! Com as bocas, o peso, os dentes, e a agressividade dos peixes...deles!
Quando chegamos à Europa, temos outros peixes, outras manhas, outros mares, e há que adaptar o equipamento às nossas condições de pesca.
Por isso mesmo, eu mudo o armamento dos jigs. Até das amostras….quando faço spinning. Ainda que reconheça que aí é outro campeonato.
Para alterar o equilíbrio, o balanço, o peso de cada componente de uma amostra, já temos de saber muito bem aquilo que queremos, e mais que isso, já temos de a poder testar em condições reais de pesca.
Porque em casa tudo resulta, mas no mar, a maior parte das nossas tentativas de alterar seja o que for, ….resultam mal! Uma amostra desequilibrada é algo de horrível! Nada pior que confiar numa amostra que ao ser lançada, é tudo menos aquilo que esperávamos.
Os jigs, sofrendo dos mesmos problemas de equilíbrio, ou mais concretamente da falta dele, serão um pouco menos sensíveis, mais permissivos. É verdade que toleram mais erros. Mas serão tão tolerantes assim que não tenham limites?
Serão tão indiferentes ao peso dos anzóis, ao comprimento dos assistes, que possamos inventar tudo o que quisermos sem que sofram desvios do seu comportamento padrão?
Afinal de contas, simplificando muito, trata-se de um peso ao qual ligamos anzóis e mandamos ao fundo para ser mordido.
Pois, talvez não seja assim tão simples. O que é feito da planagem, das vibrações, das paragens na água e deslizes laterais? Fosse tão simples assim e não teríamos jigs a cair para o fundo como ventoinhas... a imitar nada, a não nos darem um único toque na descida.
Um jig equilibrado promove mais toques a descer que a subir. São menos os que são detectados, (porque temos a linha solta, e muito pouco controle sobre o que se passa em baixo, a não ser que tenhamos uma boa cana de jigging e não um “porrete” de 100 euros) mas isso acontece porque a maior parte das pessoas acha que a pesca só começa quando o jig chega ao fundo. Errado! Começa quando largamos o jig à superfície e ele inicia a sua queda até aterrar na pedra ou areia. Ter “um olho no burro e outro no cigano” ajuda. Qualquer pessoa detecta uma mordida quando o jig sobe. É básico.
Já detectar um toque na descida não é mesmo para todos. Acreditem que dá um prazer imenso ser capaz de entender aquilo que se passa com um jig que está em queda livre.
Eu explico isso aos meus alunos dos cursos e eles a princípio acham estranho. Há mesmo quem diga que é impossível. Depois, com um pouco mais de atenção e com uma pequena ajuda minha, entendem. E a seguir já estão a ferrar peixes que de outra forma apenas seriam “ turbulência na linha e na cana”
O passo seguinte será serem capazes de fazer as suas bricolages de forma a conseguirem uma taxa de aproveitamento de toques ainda superior.
Alguns tentam mesmo produzir os seus jigs, mas a meu ver não vale a pena. O custo é muito superior, a qualidade é sempre inferior. Dá prazer, mas o resultado final é penoso.
Bem sei que a não ser assim, todos nós poderíamos fabricar os nossos próprios jigs. Mas as fábricas adquirem os componentes aos milhares, e beneficiam da questão da economia de escala. Produzir jigs caseiros, ao preço a que estão os muito bons, é uma pura perda de tempo.
Há quem pense que qualquer peça metálica pintada às cores… serve. Erro crasso. É um erro que se mede em peixes, ao fim de cada dia. Um jig é uma peça técnica, com design, e bem longe de ser apenas um peso.
De facto não é só isso, trata-se de equipamento que é desenhado para descrever determinadas trajectórias, produzir vibrações em pontos muito específicos, cair de uma forma completamente expectável. E isso, já não é trabalho para todos, é sim para quem os desenha a computador, para quem numa primeira fase os testa em tanques, a seguir vai para o mar, e por fim determina que está pronto a ser produzido em série.
Aquilo que admito é o seguinte: alguém prescindir da segurança de um jig de fábrica e assumir que quer pescar com os seus próprios productos, jigs feitos e pintados por si, ainda que para isso tenha de abdicar de alguns peixes. E aí, …vale!


Em tempo de lulas, a opção mais correcta é um triplo montado na cauda. Aqui um jig Cultiva, em 30 gramas, formato agulha. Se o utilizei é porque estava corrente forte.
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A colocação de assistes obedece a um critério que passa por, em primeira mão, saber entender que tipo de peixes temos no pesqueiro. Não se pesca em zona de pargos grandes com jigs próprios para peixe miúdo, nem o oposto. A diferença prende-se com a robustez (leia-se peso e dimensão dos componentes) que é indispensável para enfrentar os grandes colossos dos mares, mas que, sendo excessiva, nos vai fazer perder todos os outros, mais modestos sim, mas que existem em maior número, e porventura serão os únicos a dar-nos algumas possibilidades de êxito nesse dia.
O que fazer? Apostar tudo num peixe de excepção, daqueles que aparece um a cada dois anos, e que nos dará uma alegria imensa, ou tentar pescar os outros pargos miúdos, os de 2/ 3 kgs, que existem a pontapé?
Estamos ao quê? Que opção podemos fazer que não nos estrague o dia?
Se por um lado desgasta saber que estamos a ter toques sucessivos e os peixes não ficam porque temos anzóis demasiado grandes, por outro quem pode viver com a angústia de lhe poder aparecer o pargo da sua vida, o tal de 18 kgs, e ele vai embora porque os anzóis abriram?!
Como em quase tudo na vida, penso que o bom senso deve imperar, e talvez seja um daqueles casos em que teremos de saber ser humildes e respeitar um princípio universal dos nossos marinheiros mais antigos: “nem muito ao mar, nem muito à terra”.
Eu pesco em zonas onde por vezes me aparecem pargos com algum peso, mas com anzóis que, atendendo ao tipo de canas de qualidade que normalmente utilizo, me dão aquela fracção de segundo extra que preciso para poder reagir ainda a tempo.
Nenhum de nós sabe exactamente quando vai morder o pargo grande. Mas quando acontece, todos sabemos que o espaço de tempo que nos é dado para actuar é francamente curto.
Na próxima publicação vamos continuar a trabalhar este assunto.



Vítor Ganchinho



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