OS ANZÓIS FUDO JAPAN - PROCESSO DE FABRICAÇÃO (FÉRIAS)

A equipa do PEIXE PELO BEICINHO vai fazer uma paragem de duas semanas para férias, mas não nos vamos embora sem lhe deixar o desafio de mergulhar no baú do nosso/seu BLOG DE PESCA e de ler ou reler, nos próximos dias, algumas publicações selecionadas, tal como este artigo. BOAS FÉRIAS!


A fabricação de anzóis reveste-se de segredos com muito mais anos do que aqueles que qualquer um de nós tem de vida.
A maior parte dos que fazem o favor de ler estas linhas não tem a menor ideia de como se faz um anzol, e por isso pareceu-me oportuno e interessante trabalhar este tema com alguma profundidade.

Comecemos pelo princípio:

A marca de anzóis FUDO Japan existe há mais de um século, e terá começado numa pequena aldeia de nome Nishiwaki, na região de Hyogo. Diz-se que terá sido aí que em tempos remotos terá sido fabricado o primeiro anzol, como os que conhecemos hoje.
Numa tradução à letra, a palavra FUDO é composta por dois caracteres japoneses, e a primeira parte significa “não”, sendo a segunda sinónimo de “força, peso”, o que, em japonês, e combinados os dois caracteres dá algo como “inamovível”, “indeformável”, ou ainda sinónimo de estabilidade. Com efeito, esta aldeia ficou conhecida como a produtora premium de arame de aço da melhor qualidade. E essa é a base de fabrico dos nossos anzóis.
Muitos anos mais tarde, já em 1996, FUDO começa a produção de anzóis com aço em alto carbono, e também equipamento inoxidável para a indústria da pesca profissional. Terá começado também aí a manufacturação de equipamentos para Big Game. A pesquisa tecnológica permitiu o aumento contínuo da qualidade, força e outras qualidades necessárias para construir um anzol.




Em 2005 dá-se um ponto de viragem na organização. A marca passa a designar-se Anzóis FUDO Japan, e começa a produção em massa não só para pescadores lúdicos e profissionais japoneses, mas também para exportação massiva para todos os pontos do globo. Apresentados na EFTTEX em Varsóvia, a maior feira de produtos de Pesca europeia. E passou a haver o reconhecimento por parte de pescadores de todo o mundo, relativamente a qualidade, a fiabilidade e resistência do material FUDO.

Faltava ainda dar o grande passo para a entrada no imenso mercado dos Estados Unidos, e isso foi feito através de equipamento de Big Game, concretamente um modelo de anzol, o FUDO X-Strength, que posteriormente viria a adoptar a designação de Super Ocean, ao receber o prémio de melhor anzol BIG Game do mundo. Longos anos foram necessários para atingir este estatuto.


Este é o produto acabado de uma fábrica. Até chegar a este ponto, foram gastos dias e dias de esforço, de muita gente que trabalhou duro para que, na altura da grande decisão, o anzol não abra e faça perder o peixe.


Fabricar anzóis tem muito mais de artesanal do que as pessoas pensam...


O processo de fabricação é algo moroso, porque cada peça tem de passar por diferentes fases, sem faltar a nenhuma delas. O tempo mínimo requerido é de cerca de 1 mês, para a produção de cada série de anzóis.
Exclui-se deste tempo a fase de embalamento. Cada país tem a sua especificidade em termos de embalagens, em Portugal temos que os requisitos implicam a colocação de informação sobre o fim a que o produto se destina, importador, etc.
Fabricar um anzol implica maquinaria diversa, tal como afiamento, formatação, forjas térmicas, etc, e é o número de máquinas e de pessoas que as operam que determina a celeridade da operação. Algumas fábricas recorrem ainda a empresas subcontratadas que lhes irão fazer a niquelagem, o polimento químico, etc. A FUDO faz tudo isso nas suas instalações, no sentido de controlar a 100% a sua produção.


Fabricar este material não é tão simples e rápido como muitas pessoas pensam….aqui temos as varetas que irão dar origem aos anzóis que utilizamos a bordo dos nossos barcos.


Fase de afiamento manual, um processo que é utilizado quando se fabricam peças para Big Game, onde a menor falha é o descrédito total da marca.


Se existem muitas fábricas de anzóis de pequena dimensão, aqueles que mais utilizamos em Portugal, já no que diz respeito a equipamento pesado, poucos são aqueles que se atrevem a fazê-lo, uma vez que o risco é tremendo!
A tribo dos pescadores afectos ao BIG Game conhece-se, troca impressões, e a menor falha é reportada em todos os clubes de pesca, em redes sociais, em revistas da especialidade, etc. Deixar ir embora um Marlin grande porque o anzol abriu é visto como algo absolutamente inaceitável. E por isso mesmo, o cuidado e exigência a pôr na fabricação destas peças é muito elevado. Digamos que uma marca tem mais a perder que a ganhar ao decidir-se pela entrada neste campo.


Os padrões de exigência de qualidade são tremendos, e a menor falha é exaustivamente comentada em toda a comunidade de pescadores.


Mas vejamos então como se processa a escolha do material a utilizar: a escolha recai normalmente em aço japonês de alto carbono 80, conhecido por HC80.
A variante HC100 não é fácil de trabalhar porque tem imensas quebras ao longo de todo o processo de produção.

Vejamos em detalhe:

  • O corte do material é feito a partir de um arame, de acordo com o comprimento do anzol que se pretende.
  • Após o corte da peça, o afiamento da ponta do anzol é feito de forma automática, em máquina própria para o efeito.
  • A forma do anzol é, nos dias de hoje, feita também por máquinas. Neste processo o anzol é forjado, feito o anel de fixação da linha, e espalmado, se for o caso.
  • Após estes primeiros passos, o anzol sofre o primeiro aquecimento em forno a 900ºC, durante uma hora. Após esta fase, é mergulhado em água fria.
  • Posteriormente, vai a uma segunda fase de aquecimento. Este é um importante passo. Sem ele, os anzóis não ficariam elásticos e fortes, e seriam partidos facilmente.
  • Depois do primeiro aquecimento e súbito arrefecimento, esta segunda fase de aumento de temperatura é feita a 300ºC, durante 20 a 30 minutos.

Fase de aquecimento dos anzóis.


A partir deste momento, os anzóis ficam capazes de ser utilizados, muito fortes e com a elasticidade necessária. Mas o trabalho ainda não acabou. Segue-se:

  • Polimento químico, em que a superfície do anzol é retocada num líquido abrasivo, para retirar eventuais imperfeições.
  • Coloração, feita de niquelagem prévia a todos os anzóis, independentemente de virem a ser brancos, escuros, vermelhos ou dourados. Todas as cores são aplicadas sobre a niquelagem.
  • Tratamento de superfície e coloração: a superfície do anzol é coberta por um líquido químico para ganhar brilho, ficar polido e agradável ao toque e ganhar propriedades anti corrosão.

Fase de tratamento químico em fateixas para amostras de spinning.


Os processos acima referidos, são fiscalizados pelo departamento de qualidade, e, por amostragem, testados alguns anzóis dessa série. Este é o momento em que todo o trabalho da fábrica é colocado à prova.
É verificada a força, a elasticidade, e caso não cumpra em rigor com os padrões de exigência da FUDO Hooks Japan, todo o material é rejeitado e não é enviado para venda. Só passa aquilo que pode levar o selo de qualidade da marca.




Este é o método geral de fabricação, e corresponde em termos gerais ao que fazem a maior parte das empresas japonesas que têm nome no país.
Anzóis feitos na China, por exemplo, destacam-se muito mais pelo seu preço que pela sua qualidade, e por isso fazem perder tantos peixes de qualidade. Quando chega o momento fatal, …abrem.
Se considerarmos o esforço que é feito por cada um de nós para estar em posição de poder trabalhar um peixe grande, os enormes custos que isso acarreta, em licenças, combustíveis, equipamentos de pesca, etc, é inglório que a peça que nos liga ao peixe pura e simplesmente não funcione, e nos deixe mal.




A FUDO Hooks é uma das marcas mais conceituadas, e, a par de outras que existem e fabricam excelente material, tais como a tecnologia Owner, “Owner Cut” e “ Grip Head”, a Gamakatsu, com a sua tecnologia “Topless Coat”, “Magic Eye”, desenvolveu os seus próprios processos de fabricação que a tornam única, como o “Triple Edge Point”, o “Trust Grip”, ou a “DELTA Series”, que mais não são do que processos tecnológicos de ponta, e extremamente confidenciais na sua aplicação. É através da qualidade que os melhores se impõem aos outros, e a competição é de tal forma renhida que se disputam os melhores engenheiros do país. Também o material a partir do qual se produzem anzóis é cada vez mais estudado, no sentido de permitir resultados sempre satisfatórios.




Os anzóis têm as mais diversas aplicações, desde a área profissional é nossa, a pesca lúdica. A responsabilidade da fábrica é sempre a mesma: são admitidas zero falhas.


Uma fábrica que existe há mais de 100 anos tem de saber algo sobre aquilo que produz...


A maior parte dos anzóis comercializados nos Estados Unidos, maior consumidor mundial de anzóis, é de fabricação inox. Curiosamente não é o melhor anzol que se pode produzir, mas os profissionais americanos dão mais enfase e valor ao facto de os anzóis não enferrujarem, que ao facto de manterem o bico afiado durante toda uma época de pescaria. Os profissionais não pensam como nós, que contamos com o anzol para a pesca desse dia. Querem-nos sobretudo a aguentar sem corrosão durante semanas e semanas, para não terem de mudar de anzóis nas suas linhas com milhares de peças. Os anzóis em inox não podem ser recobertos de qualquer substância, e por isso é feito um tratamento passivo para prevenção da corrosão, sendo a sua maior parte anzóis…brancos.
Tudo isto obrigou a FUDO a redefinir a sua fabricação, em específico para esse mercado, fazendo com que cerca de 70% do processo de fabricação tivesse de ser manual, e consequentemente aumentando muito os custos.
Os anzóis são muito mais caros nos EUA, do que na Europa.





A FUDO Hooks Japan vai um pouco contra a mais recente filosofia dos fabricantes mundiais, que apontam para que todos os anos se apresentem novos modelos, no sentido de levar os consumidores a comprar para experimentar.
É uma estratégia que apela ao consumo, a que se compre para experimentar. E assim se adquirem anzóis que não se adaptam ao que fazemos.
Aquilo que é a politica de fabricação da marca é algo como isto: se um anzol é bom hoje, é bom amanhã, e cumpre-nos manter a qualidade daquilo que fazemos bem.
Produzir de forma simples, clara, focados naquilo que os pescadores efectivamente necessitam, e não inovar apenas por inovar, quantas vezes piorando o que já existia, e que era bom.
Apostar nos modelos clássicos, fiáveis, que já deram milhões de toneladas de peixe a pescadores desportivos de todo o mundo. E que foram, são e irão continuar a ser de qualidade garantida, e estimados pelos pescadores de todo o planeta.
O modelo SOI-W nos tamanhos 3/0 e 4/0 é já um clássico em Portugal, na pesca de pargos e douradas. 


Em Portugal, a FUDO Hooks Japan é representada pela GO Fishing Portugal.

Pese embora a qualidade acrescida do produto, que é topo de gama e caro no Japão, quisemos deixar bem forte a marca do nosso empenhamento em divulgar em Portugal aquilo que de melhor se faz do outro lado do mundo. Por isso, e porque não temos quaisquer intermediários entre nós e a fábrica, e podemos decidir, resolvemos praticar preços muito baixos por cada saqueta de anzóis. A ideia é que não se poupem anzóis, que se consiga tirar o máximo partido de um anzol novo, a cada dia que se sai para a pesca. Sem que o pescador sinta necessidade de os poupar para o dia seguinte, porque 1.60€ neste desporto não são nada. Literalmente o melhor anzol ao melhor preço.

Podem confirmar isso na Loja online da GO Fishing



Vítor Ganchinho



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