A equipa do PEIXE PELO BEICINHO vai fazer uma paragem de duas semanas para férias, mas não nos vamos embora sem lhe deixar o desafio de mergulhar no baú do nosso/seu BLOG DE PESCA e de ler ou reler, nos próximos dias, algumas publicações selecionadas, tal como este artigo. BOAS FÉRIAS!
Por vezes perguntam-me como posso pescar com jigs de 20 gramas a profundidades de 30/ 40 metros, ou 30 gramas a 50/ 60 metros.
Na verdade, não seria capaz de o fazer regularmente, excepto em dias muito favoráveis, sem vento, e apenas durante um período restrito do dia, ou seja, naqueles breves momentos do estofo da maré, enquanto o barco se mantém quase parado. Mas eu consigo fazê-lo em dias de muito vento, porque utilizo um travão de vento, esse inimigo público nº 1. Em circunstâncias normais, a corrente e o vento são os primeiros inimigos de uma boa pescaria de Light Jigging. Explico porquê:
Quando pescamos com canas e carretos invertidos, ou seja, com os passadores da cana para cima, se é verdade que ganhamos muito em velocidade de descida, e consequentemente no tempo de chegada do jig ao fundo, também perdemos na capacidade de o lançar a alguma distância. A equação que temos para resolver é: o que consideramos mais importante? Pescar na vertical ou poder lançar longe?
Ponderando os prós e os contras, eu vou na cana com passadores para cima. Prefiro poder pescar na vertical, porque a animação do jig é francamente mais eficaz. É tudo uma questão de hábito, e entendo que os aspectos positivos compensam a impossibilidade de lançar mais adiante. Até pela própria ferragem, que é mais forte. Há anos que percebi que ter o cabo da cana apoiado no antebraço traz vantagens acrescidas em termos de ferragem dos peixes. Quando batem no jig, e porque o cotovelo está bloqueado pela omoplata e ombro, não sobe… oferece um ponto de apoio rígido, que ajuda a cravar o anzol.
Da mesma forma que, quando se é dextro, lançar para a esquerda significa poder apoiar o talão da cana no antebraço, oferecendo um ponto de apoio à cana, tornando-a mais firme, e consequentemente mais eficaz na ferragem. Quando lançamos para a direita, é exactamente o oposto, e a pior opção em termos de firmeza de braço. Para os esquerdinos, os canhotos, será ao contrário. A Shimano lançou uma linha de canas para jigging em que é possível acoplar um acessório que alivia a tensão na mão, e considera a possibilidade de a pessoa ser destra ou esquerda, porque este aspecto pode ser muito importante.
Em suma, para mim, a cana com carreto invertido, sem dúvida. Pelo seu fácil manuseamento, ferragem rápida, bloqueio instantâneo da descida de linha, etc. Mas a possibilidade de compensarmos a velocidade de deslocação do barco, essa perde-se.
E com isso, quantas vezes ficamos numa situação difícil, em que não somos capazes de pescar nas zonas mais fundas, ou a fazê-lo, apenas conseguimos algo parecido com o modelo original de jiiging vertical. Porque o barco não nos dá descanso, porque se move e nos retira dos bons locais, da pedra e de cima do peixe. Ficamos com a pesca “espiada”, ou seja, com um ângulo de inclinação muito aberto, longe dos 90º que queremos fazer em relação ao fundo, ou seja, da verticalidade.
Quando pescamos com jigs pesados, o problema nem se coloca, é aumentar peso e mais peso, até conseguirmos obter uma linha vertical mais ou menos direita. E aí, pescamos.
Mas pescamos mal, porque à medida que aumentamos o peso, também reduzimos drasticamente as nossas capacidades de animar convenientemente o nosso jig, de o tornar interessante para o peixe que está a caçar no fundo.
Um jig pequeno desliza na água, vira-se e revira-se, salta e pula, como um pequeno peixe perdido, afectado, moribundo. Um jig pesado, …cai com o estrondo de uma pedra. É muito mais fácil assustar um peixe com um jig de 300 gramas do que convencê-lo a morder esse jig.
Vejo muitas vantagens em pescar o mais ligeiro possível, embora reconheça sem dificuldade que não é sempre fácil fazê-lo. Para isso, podemos contar com alguns truques. Já aqui referi que as armas que temos à nossa disposição são algumas, mas não infinitas:
- Podemos reduzir o diâmetro da linha trançada, até um mínimo que nos dê alguma segurança;
- Podemos lançar para a frente, quando utilizamos carreto convencional, e esperar que quando o barco passa pela vertical do nosso jig, já esteja no fundo;
- Podemos escolher as horas do dia mais favoráveis em termos de corrente;
- Podemos aumentar o peso do jig de 15 para 20, ou de 30 para 40 gramas, mas este é mesmo e sempre o último recurso.
Mas podemos fazer algo mais, …podemos travar o nosso barco, obrigá-lo a deslocar-se lentamente, mesmo em dias de vento e de corrente.
Isso faz-se com um pára-quedas, um acessório extremamente útil que foi pensado para o jigging lento, vulgo slow-jiging, e para o jigging ligeiro.
Este é o princípio de funcionamento. |
Existem alguns fabricantes deste tipo de acessório, sendo que eu utilizo regularmente duas marcas que me dão garantias: a Savage e a Yamaha. Sim, o fabricante de motores….
Como funciona? Simples, mesmo muito simples. Faz-se a fixação a uma amura do barco, em local sólido porque a pressão pode vir a ser grande.
Um cabo mais comprido dá-nos mais trabalho a recuperar o engenho quando queremos mudar de sítio, mas por outro lado ajuda-nos a pescar melhor, porque o pára-quedas fica longe do barco, e não nos limita tanto em termos de posicionamento da linha, e recuperação do peixe ferrado.
A Savage tem o seu acessório com cerca de 5 metros de cabo, a Yamaha com cerca de 12 metros. Mesmo contando com a metragem necessária para atar ao barco, entrar na água e esticar cabo, chega perfeitamente em qualquer dos casos.
A Yamaha recomenda o diâmetro de acordo com o tamanho e o calado do barco. O modelo que tenho tem 3 metros de diâmetro e é destinado a barcos "comerciais" de recreio de 18 a 25 pés.
O sistema da Yamaha, com um diâmetro muito superior ao da SavageGear. |
Esta âncora de superfície é capaz de parar o barco e dar-lhe estabilidade em situações muito difíceis, o que o torna um aliado de peso, quando queremos mesmo pescar, esteja ou não muito vento.
Quando lançado à proa, temos que esta vai ficar virada ao vento, devido à resistência do aparelho. A deslocação e o balançar do barco são largamente reduzidos.
Pormenor a reter: nunca esquecer de levantar o aparelho antes de iniciar nova deriva. Já me aconteceu estar tão concentrado nas tarefas de fixar os olhos no GPS, a imaginar qual a próxima trajectória a descrever, que me esqueci por completo. O passo seguinte é arrancar e o barco virar para o lado do pára-quedas, e ouvir o ranger de toda a estrutura….
A pressão exercida por um destes pára-quedas é enorme. E só isso explica que possamos frenar o barco em situações em que o vento pode ser mesmo muito forte. Tudo à nossa volta é empurrado, mas nós ficamos quase estáticos, a poder lançar na vertical.
É um acessório extremamente útil, para quem precisa de conseguir parar o barco …e pescar.
Mas não ficam por aqui os benefícios deste sistema: também em situações de emergência, em que a nossa embarcação pode estar à deriva em mar alto, para além da metragem de cabo que temos na âncora, pode ser muito útil, ao travar a nossa deslocação, dando assim mais tempo a qualquer embarcação de socorro. A GO Fishing Portugal está a importar este equipamento do Japão, onde ele é produzido.
Caso tenham interesse, posso voltar a este assunto, com mais imagens e sugestões.
Vítor Ganchinho
Acessório extremamente útil em diverssas modalidades de pesca embarcada...muito mais prático do que utilizar o balde ou um peso .
ResponderEliminarBem explicado!...
Obrigado
Bom dia Filipe Cardoso
EliminarObrigado pelo seu comentário.
Efectivamente, há muitos anos que eu utilizo o paraquedas como acessório indispensável à pesca de jigging. Naqueles dias em que sentimos o peixe por baixo do barco, em que a sonda marca muita actividade junto ao fundo, mas que o vento nos empurra de tal forma depressa que não conseguimos nem perto de linhas verticais, esse é o momento de lançar esta capa de superfície e travar a marcha. Um bom paraquedas paga-se a si próprio em peixe, ao fim de meia dúzia de saídas.
Um bom dia para si.
Vitor