RESULTADOS DE PESCA

O peixe aproxima-se da isca, olha-a de lado, aproxima-se um pouco mais, mas não se decide a picar.
Roemos as unhas. Pedimos aos céus que ajudem o peixinho a avançar para o anzol coberto de uma guloseima, um troço de sardinha, de cavala.
Rezamos para que tudo dê certo, porque queremos muito aquela luta.
A principio é assim, somos novos e damos tudo por uma boa picada.
Passados anos, muitos anos e muitos peixes, já não é bem assim. Queremos que o peixe apareça, queremos que vá em frente para podermos cumprir a nossa missão de pescadores. Mas se não acontece, não é por isso que roemos as unhas. O coração bate bem mais lento, a excitação é menor e já há outras coisas que também interessam, para além do peixe.
Os anos trazem-nos isso, a dada altura já somos capazes de tirar prazer do simples facto de estarmos no mar, onde também estão os peixes que amamos.


Estes “meninos” não são para brincadeiras, a força que desenvolvem é algo de impressionante….fico sempre com os braços a estalar, crocantes...


Quando saímos em expedição de pesca, temos como objectivo proceder a captura e solta. Não faz sentido sacrificar peixes que nos deram o seu melhor, o seu esforço.
Mas fazer isso no Senegal é particularmente mal visto, dado ser um país pobre, onde as pessoas lutam muito por algo que lhes sirva de alimento.
Por esse motivo, e sempre que possível, libertei os peixes apenas depois de garantir que haveria uma quantidade suficiente para as pessoas que me acompanhavam.
As famílias são numerosas, não é inabitual que tenham mais de 10 membros, e há que garantir alimentação para todos. Pelo menos para esse dia.
E nesse sentido, não é sequer de descurar a possibilidade de a isca viva, quando já fatigada e menos apta a desempenhar a sua função de teaser, ser guardada para consumo.


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Por vezes o simples facto de conseguirmos um pequeno peixe já nos preenche. Este “blue runner” foi de imediato utilizado como isca para um atum. Que não apareceu nesse dia.


Para quem pesca por águas lusitanas, pode parecer estranho que se utilizem iscos que em muito excedem os tamanhos standard, aquilo que podemos designar por “iscada de…dose”, mas em certas zonas o limite pode ser um peixe com…10 kgs.
Aquilo que aqui seria algo já de tamanho respeitável, e seguramente não passaria pela cabeça de ninguém utilizar como isca, ali não é nada de estranho.
Um atum de 300kgs, ou um marlin de 500 kgs não hesitam em engolir um peixinho de uma dezena de quilos, se o tiverem à mão.
Há espécies que são mais “utilizáveis” que outras, pelo seu mais largo espectro de potenciais interessados. Grosso modo, será algo como a nossa sardinha: todos a comem.
Uma das iscas favoritas dos grandes senhores do azul são as albacoras pequenas. Estas que podem ver nas imagens:


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A razão prende-se com o facto de se tratar de um peixe que, assim que é libertado, afunda de imediato, procurando na profundidade a sua salvação. Vão para o fundo, até onde os deixarmos descer e...onde estão aqueles que nos interessam.


Não deixei de ter um azar dos diabos com o tempo. Em dias daqueles, a maior parte da frota fica em terra, que é como quem diz, ancorada na praia.
Andei por zonas longínquas, a três horas da costa, com mar de 6 metros, a tentar pescar alguma coisa que se visse. Com condições francamente difíceis, e sabendo que o barco que me calhou em sorte tinha muito poucas condições de navegabilidade. Eu sabia que estava a arriscar a pele.
Posso dar-vos uma ideia de como era o tempo por aqueles dias:


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Enquanto tive cana, fui capaz de fazer algum jigging, mas como já vos expliquei num outro artigo anterior, esta gente não consegue resistir a experimentar as nossas canas, estão habituados a varas de fibra de vidro, pesadas e elásticas, e quando tocam nos carbonos, tudo é diferente. E estragam-nas.
Quando dei por ela, tinha dois passadores partidos, sendo um deles o da ponteira. Fim de linha para o meu conjunto de jigging pesado….


Cana Deep Liner Logical 55 #5, com carreto Daiwa Saltiga 35 NHL, um conjunto preparado para fazer estragos no fundo, a peixes grandes.


Por cima das pedras, a quantidade de peixe de Verão é sempre grande. Os lírios abundam, mas o calibre não é de perto nem de longe aquilo que procuramos em terras de África.
A cada lance aparece um, ou mesmo dois, mas o seu tamanho reduzido obriga-nos a mudar de local de pesca. Tem zero interesse fazer peixinhos que mais não são que um projecto de um futuro peixe com peso e capacidade de desafiar a nossa força e técnica. Para além de tudo, confesso que me incomoda pescar estes peixes sem os poder libertar de imediato, e o nosso barqueiro estava possesso para ficar com eles.

Vejam-nos aqui:

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Os lírios de pequeno porte sucedem-se, por cima de destroços de navios afundados, ou pedras ao largo, com picos que levantam do fundo. Aqui fiz uma dupla.


Com um sistema electrónico mais que duvidoso (ou se quiserem …sem oferecer dúvidas nenhumas de que era mesmo uma grande caliqueira!...), foi difícil encontrar pedras.
A horas de distância da costa, sem qualquer tipo de referência à vista, tentar pescar em cima de pedras relativamente pequenas, é uma missão impossível. E daí os resultados de pesca serem francamente minguados.
No fim de tudo, e já de retorno ao aeroporto, entendi a razão de tanta má sorte. Ao ultrapassar um autocarro azul na estrada, reparei que tinha escrito qualquer coisa como “Al Azhar”….
O que já explica tudo!....


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Vítor Ganchinho



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