PESCAR OU NÃO EM STAND-UP

Peixes grandes travam connosco grandes lutas.
Todos as querem, mas muito poucos têm a noção das suas exigências, quer físicas quer psicológicas. Pessoas fisicamente débeis não devem nem tentar fazê-lo, porque um dos requisitos de sucesso é precisamente a resistência física.
Dependendo dos meios existentes a bordo, esses combates podem sempre durar mais ou menos tempo, mas nunca são curtos.
São peleias que deixam ambos os contendores em muito mau estado, pelo esforço e tempo que demoram. Bom equipamento ajuda, mas nunca será tudo quando o nosso oponente é fisicamente mais forte que nós e luta pela sua vida.
No fim, e caso o resultado obtido seja positivo, ficará o pescador feliz e, por ser nobre, quererá saber que o peixe, digno vencido, embora massacrado e exausto, também fica bem.
O tempo, para quem pensa em vir a libertar um peixe em perfeito estado de saúde, é algo crucial. Mais tempo significa mais esforço físico, mais esgotamento.
E não é de todo indiferente o estado em que o animal fica depois de o encostarmos ao barco. Um exemplar que chegue a um nível máximo de cansaço físico, de exaustão, tem francas possibilidades de vir a morrer por nem sequer ser capaz de se deslocar e introduzir água na sua boca. Cai em folha seca até ao fundo. Morre asfixiado, ainda que dentro do meio líquido.
Isso acontece em disputas muito longas, em que o pescador se limita a esperar que o animal perca toda e qualquer capacidade de reacção física.
Bem sei que esse não é um problema de quem pesca para comer, e assume sempre a morte como inevitável. Ou sequer de quem não se aventura nunca a pescar peixe grosso, pois prefere passar o dia a capturar peixe miúdo.
Pois se a ideia é ferrar uns besugos, uns carapaus, isso pode fazer-se com dois dedos da mão e um pé no ar. Há sempre força no braço, por fraco que seja, para comandar as operações.
Mas quando a intenção é ir pelos troféus, aqui ou no estrangeiro, eventualmente atuns, tubarões, wahoos, marlins, pargos lucianos, ou pela pesca da moda, os GT`s, tudo muda de figura.
É difícil para quem nunca tentou pescar um, conseguir sequer imaginar a potência que qualquer um destes peixes consegue desenvolver. Preparem pois os braços para algo nunca visto...


Johannes Vorster, um cliente GO Fishing, a dar luta a peixe grande, em stand-up. Uma pessoa fantástica, com uma tremenda filosofia de vida. Um exemplo para todos os pescadores deste mundo. Aqui em combate com uma cana Carpenter Monster Hunter, um carreto Stella 18.000 e uma amostra popper modelo Hanta.


Um dos acessórios que nos permite encurtar o tempo de luta é a cadeira de combate. Não há dúvida de que se trata de um meio de antecipar a luta que um peixe pode dar, conseguindo aproximá-lo do barco, diria…” à força”.
Nunca teremos o melhor de dois mundos. Uma captura “precoce” de um peixe grande implica sempre riscos, e não necessariamente só para o peixe.
Sei de um caso em que um atum puxado a bordo para a foto da praxe, acabou por dar uma “pancadinha” com a cauda na cadeira de combate, tendo-a arrancado da sua fixação por oito parafusos. Uma cadeira que se pressupõe bem fixa e que de repente salta borda fora é algo de pouco visto, mas, dadas as forças em presença, perfeitamente possível.
Um marlin que salta dentro da embarcação e põe todos a correr para a proa não é inédito. Acontece muitas vezes, mais do que seria expectável.
Quanto mais tentamos encurtar o combate, mais riscos corremos de algo ruim poder acontecer.
Mas por seu turno, o peixe chega ainda com alguma vitalidade, permitindo quase sempre a sua libertação em bom estado de saúde. E esse é um factor a não descurar quando a intenção é praticar catch & release, captura e solta.


Aqui o têm, um bonito atum, mais um daqueles que povoa os sonhos de quem tem a possibilidade de ir por eles.


Nós temos atuns na nossa costa. Se não pescamos mais isso deve-se a uma indigente existência de meios técnicos, mais que capacidade humana e conhecimento para o fazer. Faltam as canas e carretos com capacidade para dar lutas a um destes monstros.
A GO Fishing tem sempre em stock todo o equipamento necessário para fazer frente a um atum de respeito. A razão é a de que a empresa exporta muito material, e pontualmente para locais onde estes peixes são comuns. Isso explica a razão de ser do stock permanente na loja.
Mas mesmo em Portugal… temo-los! A última vez que vi os atuns foi…há menos de uma semana.
Passam na nossa costa duas vezes por ano, em Maio, na entrada para a desova no Mediterrâneo, e após esse período de reprodução, na saída para o outro lado do Atlântico, já em Agosto/ Setembro. São grandes viajantes e por isso mesmo necessitam de reservas de energia. As nossas cavalas, tainhas, carapaus, sardinhas, são pasto fácil para peixes que foram desenhados para sulcar as águas a grandes velocidades. Os seus corpos fusiformes deslizam no meio líquido a uma velocidade estonteante, e os cardumes compactos de atuns provocam razias nos bancos de comedia que encostam à nossa costa. Temos muito peixe forragem e poderíamos ter mais, não fora a obsessão por exterminar o nosso peixe miúdo.
Falamos de traineiras que operam diariamente com malhas finas, a tudo o que possa ser vendido por irrisórios cêntimos, para fazer farinhas e rações para animais.
É uma pena que se limitem as nossas possibilidades de pesca por termos menos isca do que a que os nossos mares suportam.


Um peixe destes é algo que fica na memória para toda a vida. E nós temo-los em Portugal!


A maior parte das vezes, iremos enfrentar estas bestas de força numa posição menos estável, o stand-up. Pescar de pé, dá-nos uma melhor mobilidade, uma capacidade diferente de nos podermos deslocar na embarcação em função da movimentação do próprio peixe.
Há pescas em que podemos inventar soluções na hora. Se estamos a pescar aos robalos, sabemos que nunca ficaremos desconfortáveis por o peixe nos arrastar o barco.
Mas a colossos capturados em destinos longínquos, isso pode acontecer. E quase inevitavelmente acontecerá que tentem cruzar as linhas por baixo do barco.
Nessas circunstâncias, ter um bom skipper é fundamental, alguém em que tenhamos confiança, experiente, rodado, com capacidade de manobrar o barco de forma a dar-nos sempre mar livre para podermos trabalhar. Nada pior que tentar suster o peixe enquanto damos umas guinadas no barco. Na maior parte dos casos, estes amadorismos pagam-se caro.
No próximo artigo vamos ver mais alguns exemplos de peixes que gostaríamos de ter na ponta da linha, mas que a maior parte das pessoas que leem estas linhas nunca terá enquanto insistir em pescar choupas com minhoca...



Vítor Ganchinho



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