O factor marés, subida e descida das águas, a sua aproximação e afastamento da linha da costa, é algo de importante quando pescamos um peixe, o robalo, que tanto depende das correntes para caçar.
A existência de quatro ciclos diários de movimentação de águas permite-lhe a escolha dos melhores momentos do dia ou da noite para o cumprimento das tarefas de alimentação.
Se de Inverno (águas muito frias devidos às geadas da noite) será mais expectável que, em locais baixos, a maioria dos peixes coma durante o período em que o sol está mais alto, com maior incidência de raios de luz/calor na primeira capa de água, já de Verão isso não ocorre assim. É exactamente o oposto. A água excessivamente quente do meio dia (menor taxa de oxigénio à superfície), induz os peixes a alimentarem-se às primeiras ou últimas horas, ou mesmo durante a noite, tornando a sua pesca mais rentável antes do sol começar a subir, ou quando já se encontra no seu ocaso.
De qualquer forma, o ciclo de marés joga um papel importante, e por vezes contra nós, ao proporcionar-lhe condições de alimentação em plena noite. Sabemos que muitos daqueles que se sacrificam a pescar pela noite fora conseguem bons resultados, muito para além daquilo que é o pôr do sol, quantas vezes a meio da noite, dependendo das marés.
Parece-me que não haverá muitos pescadores de robalos que não o admitam/ aceitem facilmente. Um ou outro dirá que é indiferente, que pescam com qualquer maré, mas esses são os que regressam a casa sem peixe na geleira, a qualquer hora e em quaisquer condições.
Independentemente da altura do ano, sabemos que não pescamos robalos durante todo o dia, (o peixe não come 24 sobre 24 horas, sem pausas), apenas o fazemos regularmente em determinados períodos do dia, bem demarcados.
E esses períodos podem pois prever-se. Podemos esperar, em função da época do ano, e de acordo com o avanço ou recuo das marés, bem como também da hora do dia, conseguir capturar mais peixes desde a hora x até à hora y.
Antes do momento certo, ou a partir desse período mais favorável, também se fazem capturas, mas os resultados da generalidade dos pescadores mostram que são residuais.
Há um pico de actividade, em que todos os peixes procuram alimento, e em que as nossas amostras fervem de actividade, e a partir daí, tudo se passa de forma mais lenta e desinteressante. Acabou por esse dia, ou pelo menos por essa maré.
As presas habituais dos robalos sabem quando podem sair para fora dos buracos, e cumprir as suas rotinas diárias. Há um momento em que todos tentam esconder-se... |
Por outro lado, os exemplos de aumento de actividade do robalo em momentos de baixa luminosidade são evidentes. Na verdade, o robalo apenas tira partido de uma das suas caracteristicas fisicas, a de poder procurar alimento num quadro de pouca ou total ausência de luz. Os robalos veem muito bem ao lusco fusco, e até à noite!
Se elaborarmos um gráfico com o vector número de robalos capturados versus hora do dia em que a captura foi efectuada, vamos obter um mapa em que a maior parte dos pontos marcados correspondem a transições da noite para o dia ou o inverso. Logo, sempre momentos de baixa luminosidade.
É ponto assente que o nascer do dia e o pôr do sol são momentos mágicos, onde muito pode acontecer. E porquê?! Porque razão será mais fácil ferrar um robalo às primeiras ou últimas horas do dia, que a meio da manhã ou da tarde?
Por vezes procuro reflectir sobre a questão da visão dos peixes, do ponto de vista da percepção que podem ter das minhas amostras, dos meus jigs, a partir de determinadas profundidades.
Já aqui vos falei dos efeitos das cores e das possibilidades que cada uma delas oferece aos peixes de as conseguirem entender. Se o vermelho desaparece a partir dos 10 metros de profundidade, que sentido fará pescar com jigs dessa cor a 60 ou 80 metros?
Por outro lado, quando se pesca com amostras de superfície, é uma cor perfeitamente entendível, e por isso mesmo as utilizo, em todos os seus cambiantes, de vermelho vivo a todo o tipo de cores rosa. E resultam!
O que resulta mal é insistir em cores que desaparecem cá em cima, quando pescamos lá em baixo. Porque a luz não chega lá, logo determinadas cores não são visíveis, não são reflectidas pela luz escassa que lá chega.
Então, podemos pensar que, sendo a quantidade de luz cada vez menor à medida que baixamos na profundidade, também os peixes terão de adaptar a sua visão ao meio mais escurecido em que vivem.
Numa análise fria, puramente racional, teremos que um peixe passa metade do seu dia em período nocturno, a ver zero ou quase zero, e a outra metade, aquilo a que chamamos para nós “dia”, numa penumbra que lhe é provocada pela rarefacção de entrada dos raios luminosos, no fundo do mar. Os peixes de fundo adaptam-se a este processo, gerindo as variações de luminosidade. Eles mantêm as suas pupilas bem dilatadas, procurando absorver o máximo possível de luz. Porque vivem num meio em ela não abunda. Se pescamos a peixes de profundidade, suponhamos a 150 metros de fundo, é legítimo pensar que esses peixes estarão muito mais preparados para enfrentar a obscuridade da noite que a luminosidade do dia.
Como reagem então as pupilas deles?
Se estivermos nós, humanos, num quarto escuro, e de repente alguém ligar uma luz, necessitamos de alguns segundos para nos adaptarmos ao aumento de luz repentino.
O que quer isso dizer? Que temos de adaptar a nossa pupila, fechando-a, para que a entrada de luz não nos cegue. Passámos de uma situação de pupila dilatada, no escuro, para uma outra, de pupila fechada, à luz do sol.
Isto parece-me interessante!
Certos bichinhos, o caso desta santola, procuram estar na penumbra durante o dia, e saem à noite, para comer. |
Quase sempre nós, por um defeito humano de querer aportar aos outros seres a nossa forma de pensar e agir, consideramos que a alimentação do robalo tem de ser feita em plena luz do dia.
À luz das nossas limitações, seria isso que iriamos fazer: caçar com visibilidade. Esquecemos que eles não são pessoas, nem veem como pessoas!
Com todas as limitações que isso lhes traz, mas também com as vantagens de um ser que evoluiu durante milhões de anos para poder estar preparado para comer noutras condições, por sinal bem mais adversas que as nossas.
Os peixes são vertebrados como nós, humanos, e partilham connosco o desenho do seu sistema nervoso. Mas porque vivemos em ambientes completamente diferentes, é natural que tenhamos adaptações diferentes.
Há diferenças consideráveis na forma como reunimos e processamos a informação sensorial. Desde logo porque eles conseguem ver mais cores que nós, conseguem chegar aos ultra-violetas, que para nós não existem.
Os olhos dos peixes, a exemplo dos do homem, são o standard de um vertebrado: a luz entra por uma órbita redonda, primeiro através de uma camada chamada córnea, e a seguir através de uma abertura ajustável, a pupila.
Esta, não é mais que um orifício de diâmetro regulável, que está situada entre a córnea e o cristalino, e no centro da íris, responsável pela passagem da luz do meio exterior até os órgãos sensoriais da retina. É a pupila que regula a entrada de luz.
Podemos vê-la nos nossos robalos, a cor negra, pois não há iluminação na parte interna do olho do peixe. É o preto do olho do peixe.
Nós não seriamos capazes de sobreviver no meio aquático, porque a adaptação que temos está feita para vivermos em contacto com o ar.
Quando mergulhamos com os olhos abertos, fica tudo desfocado. Por isso ao mergulharmos, necessitamos de uma lente, uma máscara de vidro. A razão é que a água tem uma densidade maior que o ar, o feixe de luz, ao penetrar na água, é refratado e deslocado.
Portanto, a imagem não alcança com exatidão a retina no olho humano, como no ar. Logo, falamos de características diferentes, mas há pontos em comum.
Podemos pensar que, existindo algumas diferenças evidentes, também há semelhanças na forma como podemos entender os objectos. O problema é que nós estamos cá em cima, em terra ou no barco, e queremos transpor para o peixe aquilo que somos capazes de ver.
Eles estão noutro meio, e para além disso têm muito menos quantidade de luz.
Um outro ponto de reflexão que me ocorre é este: Um peixe está preparado para permanecer activo em condições de completa invisibilidade.
Tem sensores no seu corpo que lhe permitem caçar em situações de penumbra, de completa ausência de luz, de águas barrentas, e até de águas absolutamente carregadas de sedimentos. A sua linha lateral dá-lhes essa possibilidade. Apenas têm de privilegiar outro sentido que não a nossa visão humana. E isso deixa-nos perplexos...
Eles conseguem caçar em ambientes que nos deixariam à beira de um ataque cardíaco!
Pensar como um peixe é preciso…eles são obrigados a socorrer-se de ferramentas que nós não temos. Conseguem “ver” sem utilizar os olhos... |
Vítor Ganchinho
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Acho que aprendi muita coisa com está escrita.
ResponderEliminarOlá, bom dia
EliminarFicamos felizes com isso.
Vamos continuar a ter artigos que podem ser interessantes para si.
Abraço
Vitor