Vimos ontem a questão da necessidade de, num posto de caça de um robalo, haver um ponto que conceda alguma segurança ao peixe.
Podem ser rochas partidas, com buracos, podem mesmo ser os pilares de uma ponte, os alicerces de um cais portuário, e pode até acontecer que não seja uma estrutura rígida, por estranho que vos pareça. Quando duas correntes que se deslocam em sentidos contrários se encontram, gera-se um ponto de atrito, e conflito de deslocação. Água contra água. Esse ponto oferece zonas de neutralidade, que podem ser exploradas pelo nosso robalo, para nelas permanecer, e esperar a passagem de comedia, sem demasiado esforço.
E todavia, não tem nenhuma estrutura rígida por perto.
O próprio fundo, desde que tenha umas quantas pedras, já oferece. só por si, um ponto de apoio ao nosso peixe. Tentem imaginar a prespectiva de um robalo, mesmo que de grande porte, visto de frente.
Visto a topo, um robalo é uma massa com um volume não demasiado grande, quase sempre inferior a 20 cm de diâmetro. Não é necessária uma grande pedra no fundo para cobrir o perfil de um robalo destes e já estamos a falar de um monstro.
O que é seguro é que nunca irá estar de cauda para a corrente. Toda a sua hidrodinâmica corporal tem como factor de base a presença do peixe virado de cabeça à corrente.
A estratégia de caça é simples e ao mesmo tempo relativamente fácil: protegido por um qualquer escolho que deflecte a corrente, o peixe aguarda pacientemente.
Então, à passagem de um pequeno peixe, ou um caranguejo pilado, ou uma pequena lula, o que seja, o robalo sai do seu abrigo e rapidamente lança-se sobre a presa.
As possibilidades de algo ser capaz de escapar a um ataque fulminante são reduzidas, pois a uma menor massa corporal corresponderá uma maior dificuldade em conseguir manobrar na corrente. Os peixes pequenos não têm a facilidade de nadar contra a deslocação de água, são arrastados por esta.
Mais que isso, o efeito surpresa também joga a favor do robalo.
Também devemos considerar para este tipo de análise a variante maré.
Podemos considerar um movimento de enchente, em que o robalo terá tendência para se aproximar da costa, para chegar onde anteriormente não podia chegar.
Zonas onde, por exemplo no caso das poças de maré, o alimento ficou em descanso durante algumas horas.
Não imaginam a quantidade de pequenos peixes que ficam por vontade própria, ou se deixam aprisionar, nas pequenas lagoas e poças que se forma quando a água sai de vazante.
Quando a água volta, há comida dessa que estará disponível para ser tomada pelo robalo. E aí o movimento do predador será o de acompanhar a subida das águas, aproveitando aquilo que possa surgir.
A maré enche, e até determinado momento, a velocidade de deslocação da massa líquida é ainda aceitável. O robalo, nestas circunstâncias, sobrevoa a zona de caça, procurando, se possível à vista, aquilo que pode comer.
Mas há um momento em que a força da corrente já é incomportável com o dispêndio de energia máximo que está disposto a fazer. E aí, afunda, baixa na coluna de água, e posiciona-se num ponto protegido.
Sabendo isto, podemos programar os diversos momentos de utilização das nossas amostras, pescando primeiro a faixa superior, e a seguir procurando ir um pouco mais abaixo, eventualmente utilizando uma amostra “sinker”, com pala mais comprida, tentando algum peixe que possa estar emboscado.
Na maré vazia, verifica-se a paulatina retirada dos predadores para zonas mais profundas, onde possam dessa forma garantir segurança. O processo é o inverso, a saída faz-se com tempo, a maré dura várias horas, e não deixa de ser um momento a explorar. Os nossos lançamentos terão de ser mais longos. Se na enchente estamos a tentar peixes que se aproximam de nós, que fazem o caminho no sentido da costa, já na vazante aquilo que acontecerá é que a cada minuto estarão mais longe, obrigando-nos a um esforço de lançamento acrescido. Nestas alturas, a amostra que estávamos a utilizar já não é a indicada, devemos passar a uma outra, com mais peso, mais capaz de nos permitir alcançar os novos postos de caça, mais longe.
Reportamo-nos evidentemente a locais com pouca água, que ficam muito baixos na vazante, e que obrigam o predador a deslocar-se. Em zonas mais fundas, aquilo que será legitimo pensar é que o peixe, depois de ter comido na enchente, estará mais longe, mais abrigado da ressaca das ondas, mais calmo. E a descansar, preparando nova incursão para daí a algumas horas.
Nem todos os peixes encontram comida, nem todos aqueles que a encontram são bem sucedidos nos seus ataques, e por isso alguns estarão com fome. Podemos e devemos lançar, mas com a noção de que aquele ciclo acabou, e que irá começar outro dentro de algum tempo.
As marés mandam.
Vítor Ganchinho
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