Vimos anteriormente que a adaptação dos olhos de um peixe à claridade do dia não é feita de forma fácil, e muito menos rápida.
Podemos presumir que, ao pescarmos um peixe a uma determinada profundidade, ele não estará apenas a lutar contra a diferença de pressão repentina provocada pelo nosso acto de recolha à superfície, mas também estará com enormes dificuldades de visão. E consequentemente de entender o que se passa à sua volta.
Sobre a pressão, sabemos que, na descida aos abismos, a cada 10 metros aumentamos uma atmosfera. E o que é isso?!
Com os pés em terra, ao nível do mar, estamos todos com uma pressão de uma atmosfera. Este nível de pressão diminui à medida que subimos, alivia, e aumenta quando baixamos, a carga é superior.
O valor da pressão atmosférica ao nível do mar é definido como 1 atm (1 atmosfera). Esse valor é equivalente a 101.325 Pa (pascal), unidade utilizada para pressões no Sistema Internacional de Unidades.
A cada dez metros abaixo da linha de água, teremos mais uma atmosfera de pressão. O que quer dizer que os nossos peixes, se pescarmos a 50 metros, estarão a sofrer os efeitos de seis atmosferas.
E aguentam, na perfeição, sem problemas. O que fazem é calcular o volume de gás da bexiga natatória para os equilibrar àquela pressão.
Mas quando nós os pescamos, quando involuntariamente sobem muito depressa, isso altera bruscamente! É fácil calcular a razão pela qual eles rebentam os olhos, ou a bexiga natatória, quando são içados para o nosso barco.
As suas cavidades com ar explodem, porque de repente passaram de uma pressão x para outra de valor y, sem tempo para procederem à adaptação necessária. Porque nós enrolamos linha no carreto sempre demasiado depressa. Na óptica do peixe, subentenda-se.
Já em relação à questão da visão, e à adaptação dos seus órgãos de visão, passa-se algo muito parecido. Exceptuando os peixes que se encontram à superfície, eles vivem grande parte da sua vida em situações de penumbra. Ou porque é noite, ou porque estão fundos.
Ao serem rebocados por um anzol e uma linha, não têm tempo para adaptar os seus olhos à claridade do dia. Há uma passagem brutal de uma situação de obscuridade, para um contexto de forte luminosidade.
Não o seria se estivéssemos a pescar à noite... porque as diferenças seriam mínimas, mas...
Quando pescamos peixes ao raiar do dia, por exemplo de Verão, estamos a pescar um ser que muito provavelmente passou toda a noite a caçar, a procurar as suas presas.
Eles estão, neste caso, muito bem adaptados a ver no escuro, têm as suas pupilas bem dilatadas, e conseguem ver as nossas amostras.
Porque a quantidade de luz aumenta muito lentamente, à medida que o sol vai surgindo no horizonte, há tempo para que o robalo possa fazer a sua adaptação a mais um dia de luz solar.
Sendo um peixe que tem actividade nocturna, (e que por isso está muito bem apetrechado para desenvolver o seu acto de caça sem luz), ao inicio do dia, quando os peixes diurnos ainda não são capazes de conseguir ver as ameaças que os cercam, ele tira vantagens enormes disso.
Para o robalo, os primeiros alvores de luz encontram-no ainda no máximo das suas capacidades visuais. E essa é uma das razões pelas quais nós obtemos tanto sucesso quando lançamos amostras logo de madrugada: a essa hora, o robalo está a alimentar-se furiosamente, aproveitando cada minuto do seu tempo. Porque assim que os peixes pasto começarem a ver na perfeição, as suas vantagens cessam, passa a ser muito mais difícil capturá-los. Por isso, a essa hora, a actividade de caça é muito maior, e os seus cuidados para com os nossos enganos….muito menos.
O frenesim alimentar a que se entregam decorre da pressa que têm de ainda conseguir mais algumas presas antes de elas estarem equiparadas em termos de visão. Se quiserem, …enquanto ainda estão fragilizadas...
E que espécies são essas? Que procura o robalo aos primeiros raios de sol?
Desde logo as pequeninas sardinhas petingas, que como única defesa o que fazem é apertar-se em bolas de peixes. As que estão fora são as que levam a pancada, pelo que bom mesmo é estar dentro do cardume. Mas não podem estar todas, pelo que a luta por um lugar interior é acirrada. E aqui, o robalo tira partido da sua desorientação momentânea.
Os pequenos peixinhos da pedra, por exemplo os cabozes, encostam aos seus buracos e deixam para outros momentos mais favoráveis a questão da sua alimentação. Não convém andar fora quando a matilha de lobos está a caçar.
As galeotas, um peixe fusiforme que provavelmente muitos de vós não conhecem, são peixes que fazem as delicias do robalo. Terão em média os seus 15 a 20 cm, e são esguias como os safios.
A sua defesa neste caso é enterrarem-se na areia e esperar que o sol levante. E que passe a febre de comer aos lobos.
Mas também as navalheiras juvenis são presas fáceis, porquanto andaram a noite inteira por fora a comer sobre as rochas, e têm de voltar aos seus esconderijos, normalmente frestas estreitas na base da pedra.
Pequenas lulas ainda à deriva na corrente, inclusive chocos, tudo serve ao nosso robalo, tudo aquilo que lhe mate a fome, e que se encontre no raio de acção da sua zona de caça.
O robalo tem um olho que não foi desenhado para fortes luminosidades. Aproveita, e bem, as suas características ímpares de caçador, de nadador poderoso, para poder sobrepor-se às capacidades de fuga das suas vitimas.
Amanhã vamos ver a questão do pôr do sol...
Vítor Ganchinho
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