Nesta sequência, temos vindo a espreitar a estranha vida de um dos mais emblemáticos peixes da nossa costa: o robalo.
Hoje, vamos passar os olhos por um momento que é, para mim, o segundo melhor do dia para termos uma mordida de um peixe grande, a chegada da noite.
Não devemos encarar como um handicap para o peixe o início do pôr do sol. Pelo contrário, eles aguardam pacientemente esse período, que lhes voltará a dar as vantagens que já tiveram pela manhã, quando o sol subiu no horizonte. Se as presas, pequenos peixes e moluscos, estarão relativamente preparados para este momento, mais estará um predador, um ser que chegou aos dias de hoje, depois de uma evolução milenar, perfeitamente preparado para ter sucesso nestas condições.
Quando a noite cai, o processo de redução da luz ambiente é continuo, mas mais rápido que o verificado pela manhã. Os peixes comedia vão ter de encontrar um local onde passar a noite, e devem fazê-lo quanto antes, pois os lobos vão voltar. Voltam sempre e …com fome.
A noite é um período muito perigoso para todos aqueles que não estão devidamente equipados para a enfrentar. Não conseguem ver, mas sabem que algo estará por ali, à espera do momento certo para desferir o seu ataque.
A progressiva redução da luminosidade diminui uns e aumenta as chances de outros. Equipados de série com sensores de presença, as suas linhas laterais, os robalos sabem onde estão as suas presas, e sabem entender as possíveis deslocações.
É o tempo em que aqueles que não conseguem ver apenas podem esperar que a sorte os proteja. No meio do cardume, alguns serão escolhidos como vítimas.
Antes do anoitecer, já os robalos estarão a encostar aos cardumes, marcando-os, fazendo-os aproximar-se de zonas da sua conveniência. Com uma perfeita percepção de tudo aquilo que os rodeia, os robalos sabem que o tempo joga a seu favor.
Encostam à superfície e, se o mar estiver calmo, fazem aquilo que nos habituámos a ver em contra-luz: estrelas na superfície da água.
São pequenos círculos concêntricos, que nos indicam que algo estará por ali. Por vezes não conseguimos vê-los, mas sabemos que estão por lá. É algo mais que nada, um sulco a aflorar a superfície, um focinho que aparece aqui, uma dorsal ali.
Este é um momento em que as nossas amostras podem fazer o seu trabalho. Os robalos já estão activos, já existe penumbra, e por isso a possibilidade de conseguirmos um toque é máxima.
Este é o momento de lançar!
Nestas alturas, e repito, desde que o mar esteja calmo, pescar com amostras pequenas, sem pala frontal, pouco ruidosas, pode dar-nos peixes bons.
Faremos sempre alguns, mesmo utilizando amostras grandes e com esferas ruidosas, mas o tempo não é disso, é tempo de ser discreto, é tempo de deixar os robalos trabalhar.
Reduzimos drasticamente as nossas capturas se formos demasiado “alegres e exuberantes” no lançamento das amostras. O tempo é para ser discreto.
Menos ruído, mais peixes. As presas do robalo estão nesta altura a tentar esconder-se, a última coisa que quereriam fazer era chamar sobre si as atenções. Sejam discretos!...
Os últimos 30 minutos do fim de tarde são um momento mágico, em que tudo pode acontecer. Estaremos sempre dependentes de condições de tempo, de conseguirmos encontrar a zona de pesca de acordo com aquilo que são as nossas expectativas, mas se de facto estiver assim, as nossas probabilidades aumentam bastante.
Não preciso dizer-vos que caso esteja uma tarde de vento, com ondulação forte, estaremos perante outro cenário, é outro jogo, e esse é jogado de outra forma. Mas se conseguirmos conciliar um mar de azeite, com uma enchente e um por-do-sol calmo, vamos poder ferrar uns peixes. A esta hora já devemos estar no local, prontos, porque tudo aquilo de que vos falo aqui, joga-se em minutos.
Teremos pouco mais de meia hora para mostrar as nossas capacidades, pois a partir daí tudo será mais difícil.
Sabemos que o robalo estará a passar por um processo de adaptação dos seus olhos, de uma situação de luz mais ou menos intensa, consoante o dia tenha estado ou não nublado, para um estado preparatório para o período da noite escura. Como vimos ontem, as pupilas estarão a abrir-se, pois este é o momento em que o processo é inverso ao caso que vimos ontem. Mas o nosso peixe já estará com todo o seu arsenal de armas activo. A sensibilidade da sua linha lateral permite-lhe ver onde não há luz, e por isso mesmo o sentido da visão passa para um plano secundário. Um predador como este tem tudo o que é necessário para ser bem sucedido. O instinto apurado de caçador proporciona-lhe situações de sucesso que não seriam óbvias e evidentes para muitas outras espécies. As suas capacidades físicas, e instintivas, mantêm o robalo vivo.
A noite chega, e com ela o nosso regresso a casa, se formos pescadores de spinning. Deixamos o espaço de pesca aberto para aqueles que preferem pescar de espera, ao surf-casting.
Amanhã continuamos a analisar estes dados da falta de luz/ maior actividade do robalo.
Vítor Ganchinho
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Bom dia Sr. Vítor.
ResponderEliminarO conteúdo que aqui coloca vale ouro.
Sou um apaixonado por esta pesca que é o spinning e tenho aprendido bastante com o senhor.
Apesar de viver no Algarve, no barlavento, onde não abunda robalos, tenho falado com alguns antigos que têm me dito que os maiores exemplares que apanharam foi em pleno escuro.
Não será a plena noite a melhor altura para apanharmos o nosso troféu de uma vida?
Qual é a sua opinião e experiência?
Obrigado e um abraço.
Bom dia Emanuel Cordeiro
EliminarFico muito feliz por gostar do blog.
A equipa que o faz vai ficar satisfeita com o seu comentário.
Cheguei de férias e por isso só agora respondo. De facto, o robalo é um caçador essencialmente nocturno. Os resultados são francamente melhores durante esse período, mas, porque se trata de um momento em que estamos mais desmobilizados para a pesca, apenas consideramos o alvorecer e o anoitecer como períodos de maior actividade. Mas não tenha dúvida que os grandes robalos saem durante a noite.
Existem vinis com factor bioluminescente, a Fish Arrow tem alguns modelos. E funcionam bem.
O barlavento tem menos robalos que o sotavento, a pressão de pesca também é outra.
Mas há alguns!
Um bom ano para si!
Abraço
Vitor