TIRAR CARTA DE PESCADOR - 15

Temos vindo a explorar de forma detalhada algumas das características mais marcantes do nosso peixe de eleição, o robalo.
Penso que a questão da visão terá ficado mais ou menos entendida, vamos ver hoje de que forma isso pode guiar-nos na escolha do tipo de amostra a utilizar, em situações diferenciadas. De nada serve conhecer a anatomia do peixe se a seguir o tentarmos pescar com o equipamento errado.
Vejamos uma situação de pesca feita pela manhã, bem cedo, em período de Outono, em que o robalo ainda está no pesqueiro, ainda procura comida, e não tem limitações de actividade por se movimentar em águas demasiado frias. Até final de Outubro, princípio de Novembro, temos águas relativamente aceitáveis para um predador como o robalo.
Quando gelam, quando chegamos de manhã aos nossos carros e temos uma pelicula de gêlo, as coisas mudam. O robalo não estará em pesqueiros baixos, 3 a 10 metros de profundidade, antes espera o aquecimento das águas para subir, ou tenta encontrar comida mais fundo. Nessa altura, eu pesco-os mais facilmente com jigs dos 30 a a 40 metros de fundo que com amostras a 2 metros.




Agora que sabemos como funciona a visão do nosso peixe, vamos ver duas ou três situações diferentes de apresentação de amostras.
Num dia com mar calmo, com boas condições térmicas, teremos o robalo a caçar a meia água, atento ao fundo, mas com um olho em tudo aquilo que passa por cima. É sabido que têm, pela localização dos seus olhos, mais facilidade em descortinar presas ao seu nível, e nas laterais, ou um pouco acima. Já em casos de passagem de uma amostra na vertical, mesmo por cima de si, são incapazes de a conseguir enxergar, o ângulo de visão não lho permite. Sentem-na, mas não a veem.
Também algo que lhes passe muito por baixo não será tão evidente assim. Há um plano óptimo, uma faixa em que a percepção é máxima. Um robalo pode subir vários metros na coluna de água, mas para isso terá de ter detectado a amostra muitos metros à sua frente, ou ao lado.
Com águas mais quentes a mobilidade é maior e têm um espectro de aceitação da nossa amostra bem mais amplo.
Há algo que não posso deixar de vos chamar a atenção: quando escolhemos a amostra a utilizar, sobretudo durante o período da manhã, devemos considerar que o peixe vem de muitas horas a girar em completa obscuridade. Nestes casos, uma amostra escura oferece uma silhueta mais destacada que uma amostra transparente, por exemplo. A falta de luz exige de nós um cuidado extremo na escolha do engano. Mas o cuidado deve ser a todos os níveis, não só de tamanho, como de cores mais indicadas.
E não só na parte dorsal, mas sim também na zona ventral. Vejamos porquê: se o robalo está num plano mais baixo que a amostra, aquilo que ele pode ver com os seus olhos, quando tenta enxergar mais acima, é uma silhueta opaca, que faz contraste com a luminosidade, mesmo que pouca, que chega de cima. Um objecto, a nossa amostra, (presupostamente um pequeno peixe!), que passa acima de si, é visível se oferecer contraste.
Basta-lhe a dificuldade de tentar perceber a presa exibindo esta a cor ventral, sempre branca, (e não é por acaso!), não precisa de mais dificuldades. Já repararam que a maioria dos peixes ostenta cores mais claras em baixo que no dorso.
Tentem imaginar um peixe que não seja assim e entenderão aquilo que vos digo. Nada é por acaso.
Vistos de baixo, esses peixes têm mais possibilidades de passar despercebidos que um peixe que faça um grande contraste com a luminosidade da superfície. Da mesma forma que na zona dorsal, e para um peixe que tente capturar uma presa que passa abaixo, aquilo que pode fazer contraste é uma cor clara. Isso, é altamente improvável no leque de presas do robalo! Que peixe conhecem que seja mais claro em cima que na zona ventral?!
Se temos pouca luz, podemos pois dar “uma ajudinha” ao nosso predador, mostrando-lhe cores que não sejam difíceis de identificar. Mas não se preocupem em demasia com este detalhe, porque os robalos estão preparados para tudo. Eles sabem que a amostra está ali e para onde vai.
Por estranho que vos pareça, o preto funciona. Mas também nos casos em que temos pouca água, outras cores escuras poderão fazer a função.
Em dias nublados, o branco, o pérola, são cores que chamam muito a atenção, por contrastarem com o meio ambiente em que os predadores se movem. Sobretudo são muito facilmente detectados quando o ataque é feito de cima para baixo.
Deixamos os transparentes para momentos em que a silhueta da amostra pode ser entendida mais facilmente pelo peixe, e isso acontece com muita luz. Neste caso vertente, em que estamos a considerar um dia de pesca logo ao alvorecer, não teremos muita luz, e isso quer dizer que esta amostra transparente (extremamente eficazes com mais luz) irá passar quase incógnita pelo robalo, pois ela deixa passar por si os poucos raios de luz que existem ao momento. Não faz contraste...




Todos nós gostamos de fazer spinning quando os robalos estão em cima, quando sentimos que estão a morder quase à superfície, com a primeira capa de água muito lisa.
À hora certa, é uma maravilha ver como podemos enganá-los com os seus próprios sentidos. O seu instinto de caçadores empurra-os para as nossas amostras porque é isso que estão a procurar, é isso que vieram ali fazer.
Não estraguem tudo aplicando uma amostra pesada, que vos dará um ou dois peixes. Sejam discretos!...
Se querem saber a minha opinião, eu acho que dias bons mesmo são aqueles em que temos uma ligeira chuvinha, aquela que apelidamos de “molha-parvos”, sem vento, com o dia muito cinzento, daqueles que ameaçam muita chuva a qualquer momento. Vistam um impermeável, peguem na cana e vão lançar amostras.
Nessas circunstâncias, os robalos sobem, estarão mais próximos da superfície, e não têm de preocupar-se com algo que os incomoda solenemente: expor-se à luz do sol.
Experimentem a pescar nestas condições, com amostras deste tipo mencionado abaixo. Uma para distâncias curtas, a Shimano, e outra, a Smith, caso seja necessário ir algumas dezenas de metros mais longe:


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Só o podem fazer em condições com equipamentos muito ligeiros, uma cana 3-12, ou 5-15, ou 7-20, por aí. Um carreto 2000 a 2500, linha PE1 a PE 1,5, e um chicote em 0.26mm a 0.30mm.
Estas amostras trabalham-se com toques de pulso, e recuperação não linear. Têm de as fazer mover, excitem-nas, não basta a recuperação linear, aquilo que chamo de “enrolamento de linha a fazer frete”...
Ao chegar ao local, se estiverem embarcados, abrandam a marcha do motor uns 100 metros antes de atingirem o ponto de pesca, e um pouco mais próximos, desligam o motor.
Se a saída for de terra, tenham em consideração o barulho das botas a empurrar pedras e tudo aquilo que vos denuncie. Sejam discretos.
E vão ver….



Vítor Ganchinho



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