Falei-vos aqui do quanto lamento ver as pessoas insistir em práticas de pesca obsoletas, aceitando os maus resultados, de braços caídos, sem qualquer tipo de reacção.
Não pescar não é natural. Pescar pressupõe actividade, pressupõe peixes e pesca!
Se a ideia é estar no mar, numa atitude passiva, contemplativa, então sim, a pesca zero pode entender-se. Estar no mar já é um prazer infinito e recomenda-se.
Mas se o objectivo é pescar mesmo, então queremos que algo aconteça. Nesse caso, passar uma data de horas com uma cana na mão, estática, não pode ser positivo. Que pesca é essa em que …não se pesca?!
Se nada se passa, algo estamos a fazer mal: escolhemos mal a hora e o local? O material de que dispomos não é o adequado? A técnica que estamos a utilizar está errada? O sítio onde a estamos a utilizar não é adequado?
Se não pescamos, isso quer dizer que alguma destas componentes não está a funcionar: local, hora do dia, equipamento ou técnica. Ou tudo isto junto…
São magros os resultados que se vão obtendo por esse país fora, mas também é verdade que pouco se faz no sentido de mudar para melhor.
Recordo-me de ver há umas semanas, na saída do Sado, um barco ancorado a pescar ao fundo, vertical, ao “pica-pica” com isca orgânica.
Dentro da embarcação, duas pacientes pessoas, equipadas com enormes coletes laranjas, esperavam a picada de um peixe. Até aí, nada de novo.
Chamei a atenção do meu colega de pesca, Carlos Campos, para o local escolhido por estes dois companheiros: estavam na língua de areia de Troia, “fundeados” na areia, com menos de um metro de água debaixo do barco.
A probabilidade de terem uma picada naquele local, a meio da tarde, com a maré vazia, água pelos joelhos, seria inferior a 1 em 1.000.000.000.000, …mas ali estavam, …especados. De canas na mão, a ver o fundo, com água pelos joelhos.
Penso que seja apelar demasiado ao milagre.
Há no entanto uma minoria de gente que sai desse figurino. Não são muitos, mas são os suficientes. Mudam-se a si próprios, antes de tentarem influenciar os outros.
Há felizmente pessoas a pescar muito bem, de norte a sul do país. Porque são pessoas discretas, “low-profile” quanto possível, não publicitam demasiado as suas capturas. Dão pouco nas vistas, propositadamente.
Deles, recebemos ocasionalmente uma ou outra notícia, um peixe de excepção e pouco mais.
Aproveitam o momento do ano que vivemos e as suas boas capacidades técnicas para encher caixas de peixe. Os pargos estão aí, os robalos já acordaram do seu sono letárgico de fim de Inverno, e também as douradas já recuperaram do seu período crítico pós-reprodução.
Se é verdade que as douradas passaram alguns meses de amargura, onde baixaram os níveis de gorduras ao mínimo, agora já comem bem e trabalham afincadamente para ganhar de novo o peso devido.
E isso quer dizer oportunidades para quem pesca, por exemplo, com jigs minúsculos.
Há pessoas a saber fazer isso muito bem, mas são discretas e não contam a ninguém.
Gostaria de ver esta gente com mais conhecimentos a divulgar aquilo que pesca, e como pesca. A ensinar os outros, a partilhar conhecimento com quem necessita dele.
A ideia que me fica é que todos eles seguem a opinião de Napoleão Bonaparte: “Nunca interrompa o seu adversário enquanto ele estiver a cometer um erro”.
A questão é que os outros pescadores, aqueles que não pescam nada, não são adversários, não são inimigos, são colegas de actividade. E nós não ficamos melhor por eles ficarem pior!
Um dos reis do LRF europeu: Raúl Gil Durá, de Valência. Pesca douradas com jigs de 5 gramas, e linhas super finas. |
Para todos aqueles que pescam com caranguejo e ponto final, há que esperar mais uns…6 meses. Mas não para quem consegue tentar douradas com jigs, porque isso pode ser feito …já.
Para esses, meia dúzia de pessoas no nosso país, o momento é agora, a fase Primavera/ Verão, em que elas estão mais que bem dispostas, prontas a atacar com violência tudo o que lhes passa perto.
Este é o momento de verificarmos o quanto acreditamos em nós próprios, porque é tempo de pescar fino em águas limpas. Temos ou não boas mãos?! Somos ou não capazes de pescar à dourada sem utilizar caranguejos?
Temos coragem de fazer um ensaio com artificiais a um peixe que tomamos como um simples mariscador?
A questão é que a maior parte das pessoas não sabe fazer. E não aparecem a terreiro aqueles que, sabendo como se faz, se escondem no sigilo, na penumbra, e não mostram o que pode ser feito.
E tanto que os outros colegas de pesca necessitam de ajuda!
Temos, a nível da classe de pescadores portugueses, um pouco de tudo. Dos optimistas incorrigíveis, que pescam zero, aos pessimistas mais empedernidos, porque pescam zero.
E acreditem, eu tenho amigos assim, que saem à pesca sempre para o mesmo sítio, com as mesmas canas, as mesmas montagens, os mesmos arcaicos processos. Não mudam nada!
Seguramente o intuito não é o de fazerem uma pesca igual aos dias anteriores, nula, mas se isso tiver de acontecer, que seja, …faz parte. Encolhem os ombros e aceitam, resignados.
Anos e anos a fio, sempre com resultados medíocres, sem desistir, mas também a nada fazer para mudar.
Afinal de contas, a sua rotina de pesca é precisamente essa, a de não pescar…
Há locais da nossa costa que são verdadeiros desertos. Outros estão carregados de peixe... |
Bem falo com eles. Digo-lhes que há outras formas de pescar.
Eu conto-lhes, mostro-lhes tudo, e não adianta. Sabem como pesco, como faço, que materiais utilizo, mas não acreditam.
Vejo-os como pessimistas elegantes, ou seja, não acreditam nas minhas técnicas, acham-nas estranhas, mas não mo dizem. Nem as experimentam.
Encolhem os ombros e continuam a fazer como sempre fizeram. Insistem na tradicional pesca vertical embarcada, e fazem pescas frouxas.
Outros, menos dados a saídas de mar, enjoados das ondas e enjoados dos resultados da pesca, lançam iscos na praia e adormecem ao sol. Dizem que estão a fazer …surfcasting.
E a seguir perguntam aos outros o que foi feito nesse mesmo dia, mas com jigs, ou vinis. E roem as unhas…
Que se pode fazer mais que mostrar a toda estas pessoas que tudo pode ser diferente?
Estar entre o “é desta que eu…” e o …“não vale a pena”... |
A ideia que tenho é que não se deve voltar costas a estas pessoas. Deve-se sim responder com resultados. Com peixe na linha.
E é muito por aí, pelo massacre dos números, das evidências, pela regularidade com que se conseguem peixes troféus, que talvez um dia possam vir a mudar. Se mudarem.
Porque muitos não irão alterar nada, por mais que o tempo lhes coloque pontos de interrogação, dúvidas. Por verem os outros conseguir bons peixes, por saturação de resultados próprios cada vez mais minguados, estão entre o “é desta que eu…” e o “não vale a pena”….
Normalmente estas pessoas não procuram informação, e se o fazem, é por canais demasiado imediatistas. Podem no limite socorrer-se do telemóvel, ver se há algo que valha a pena ler, desde que seja rápido. Uma passagem fugaz pelo Facebook parece ser-lhes suficiente.
Uma foto e uma frase. Quando alguém pensar que lhe bastam meia dúzia de fotos e frases curtas passadas numa qualquer rede social para aprender a pescar, provavelmente estará errado.
A muitos faz confusão que pescar tenha tanto a ver com prática, (e será sempre a grande fatia do bolo), mas também com algum estudo. Estudar pesca para quê?!
A meu ver, a experiência no terreno será sempre a chave do conhecimento, desde que se saiba o que se está a ver. Mas nem todos têm suficiente poder de observação, e por isso necessitam de ajuda.
Complementar a prática persistente da pesca com informação técnica, parece-me ser fundamental, e é por aí que parece ser importante seguir.
Todos nós podemos melhorar algo da nossa capacidade de pescadores se soubermos um pouco mais sobre canas, carretos, linhas, amostras. Sobre técnicas. Porque haverá sempre um momento em que isso nos vai dar mais um peixe.
Porém, as pessoas não querem perder tempo a aprender. Este verdadeiro deserto de ideias não é chão suficientemente fértil, nem será propriamente o mais propício a fazer nascer e vingar muitas sementes.
A verdadeira motivação que os fará mudar a agulha também não é muito airosa: querem pescar mais peixe, …para comer. A questão da seleção de pescado nem se coloca, aproveitam tudo porque é essa a sua linha de conduta.
O que não dá para grelhar dará para fritar, esse é o critério.
Podia eventualmente ser diferente. Gente que faz jigging, por exemplo, seleciona o peixe capturado pela própria arte que utiliza. Meia dúzia de peixes de bom tamanho fazem um bom dia de mar.
Quem pratica LRF, Light Rock Fishing, por norma abdica por completo dessa faceta de pesca para alimentação e vai ao mar para se divertir. E liberta grande parte do peixe.
É difícil enquadrar estas pessoas num modelo que lhes sirva, (e falamos essencialmente de obtenção de peixe para comer), e em que efectivamente pesquem muitos peixes, e se divirtam com isso.
Quando o objectivo único é trazer do mar algo mais que nada, tudo se complica. Mas se assim não for, então há uma solução óbvia: o Light Rock Fishing.
O LRF veio colmatar uma lacuna, um espaço aberto, que não existia nem faria sentido há anos, quando a pesca era feita exclusivamente para abastecer a casa de peixe para comer, mas que hoje, com diferentes condições, pode ser preenchido. Pesca-se pelo prazer de pescar, por aceitarmos os desafios que os peixes nos levantam, com equipamentos minimalistas, em muitos casos bem abaixo daquilo que seria prudente utilizar. Pescar peixes de 2,5 kgs com linhas indicadas para peixes de 0.5 kgs levanta dúvidas, deixa-nos com os nervos em franja, e dá reais chances aos peixes de ganhar.
Cada captura, cada peixe que entra no barco, ou arroja à praia, ou encosta ao pontão de uma cidade, é uma vitória incrível, porque merecida.
E onde praticar? Quase todos os sítios são bons, portos, molhes, paredões, rochas, porque o peixe está quase sempre debaixo dos nossos pés. Para quem pesca fino e ligeiro, há uma imensidão de locais onde pode ser encontrado peixe.
Vamos nos dias 20 e 21 de Maio, no Edifício do Mercado do Livramento de Setúbal, das 16 às 19 horas, por ocasião da Feira Náutica de Setúbal, poder mostrar como se faz, que tipo de equipamentos utilizamos, montagens, nós, acessórios, etc.
O ritmo a que as inscrições se sucedem quer dizer que há gente interessada, e que pretende mudar algo no seu dia a dia de pesca.
Pescar jigging ligeiro e saber utilizar vinis não pode fazer mal a ninguém.
Para aprendermos uma pesca nova, não temos de desaprender aquilo que sabíamos antes. Não termos de limpar a mente de ensinamentos anteriores.
O conceito é outro, de adição de conhecimento, de sobreposição de saber. Não se trata de vestir um casaco por cima de outro.
Lá estarei com a firme vontade de passar para os presentes algo daquilo que tenho vindo a aprender ao longo dos meus 54 anos de pescador.
Com vontade de ensinar e o entusiasmo que sempre dedico a estas coisas da pesca. Os temas serão diferentes em cada dia, e haverá lugar a momentos práticos de elaboração de montagens e teste de materiais.
Encontramo-nos lá!
Vítor Ganchinho
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Excelente coluna! Foi exatamente num esforço de evoluir que me deparei com esta página. Comecei a pescar sozinho, sem qualquer tipo enquadramento no mundo da pesca e ao longo dos últimos dois anos sempre fui tentando aprender mais mas deparei me com um mundo muito isolado e medroso na partilha de informação (pelo menos esta foi a minha percepção), apesar de ter a certeza que existe toda uma imensidão de praticantes que são o oposto e estarão prontos a aconselhar os mais inexperientes.
ResponderEliminarNuma destas tentativas de mudar os meus hábitos de pescar fui fazer jigging no rio Sado numa das minhas primeira saídas de barco. Levei a minha Daiwa de spinning de 3.2m (14-50 gramas) e dois jigs de 40 gramas aconselhados pelo funcionário da loja. Ora, como era de esperar não apanhei nada! No dia seguinte tentei alterar as condições de pesca indo na maré totalmente parada (mesmo material) e tive contacto com algumas rainhas. Apesar de não serem peixes grandes, a experiência de uma nova modalidade com a vontade de experimentar condições diferentes resultou em capturas. Independente da qualidade/tamanho dos peixes mostrou me a importância de tentar coisas novas.
Nas idas as douradas tenho também semelhantes experiências em que fui em marítimo turísticas tentar aprender a famosa pesca as douradas na Vereda e todas as vezes nada saiu no barco. Certo que pode ser do dia, mas estarem 6 pescadores com o mesmo método nunca irá ajudar a perceber o que funciona ou não.
Quero agora começar a pescar mais de barco. Tenho um semi rígido de 4 metros com classe 5, o que me limita nas opções de pesqueiros mas creio que mesmo assim haja inúmeras oportunidades fazer boas pescas a aprender muito dentro da zona permitida.
Quero sem dúvida voltar a praticar jigging mas após adquirir o material adequado. Quando tiver oportunidade vou passar na GoFishing para obter o que necessite para evoluir nesta modalidade e também no spinning de barco que é uma realidade totalmente distinta do spinning que costumo fazer.
Até breve e continuação!
Duarte, o mais importante na pesca você já tem: A persistência de lutar por um objectivo.
EliminarPara quem desiste ao primeiro contratempo, não há possibilidade de ajuda. Mas para quem tem a coragem de ir fazer jigging dentro do rio, com uma cana de spinning de 3,2 mts, (!!)....
tudo é possível.
A diferença de fazer jigging a sério para aquilo que tentou fazer, e ainda por cima dentro do rio, é sensivelmente a mesma de querer competir numa pista de Fórmula 1 , mas tendo apenas uma bicicleta.
Virtualmente é impossível ter um desempenho minimamente aceitável com o seu equipamento.
Mas eu acho que consigo dar-lhe alguns locais onde pode ir fazer uns peixes.
Ligue para a GO Fishing e peça o meu nº de telemóvel. A Helena Neves vai dar-lho.
Não o publico aqui porque a dada altura eu já recebia chamadas às 4 da manhã a perguntar se para o sargo era melhor casulo ou minhoca da pedra....
Cheguei a receber uma dúzia de chamadas sucessivas, e ficar sem jantar...com a família à espera. Só por isso não publico.
Até lá.
Abraço
Vitor